Diante de estantes abarrotadas pela sempre crescente oferta de títulos, quem visita uma livraria pode sair sem saber quais são as novas obras relevantes para a literatura brasileira. Para orientar o público, escritores já consagrados podem ser boas referências, apadrinhando um ou outro novato e os apresentando a seus pares e leitores.

Na internet, o site Antessala das Letras, lançado há três meses, estimula essa camaradagem entre os versados e os neófitos do mercado editorial. Até agora, nomes como Paulo Lins, Marcelino Freire e Cíntia Moscovich já apontaram suas novas preferências.

Criada pelo crítico literário e escritor Felipe Munhoz, a plataforma publica toda quinta-feira um conto, poema ou trecho de romance de um autor em início de carreira, independentemente da idade, indicado por um colega mais experiente. Cada texto é acompanhado de ilustrações de artistas visuais que vêm se destacando em seu meio.

Para Paulo Scott, escritor gaúcho radicado no Rio, o site é mais uma ferramenta para orientar o leitor em meio à enxurrada constante de novos títulos nas livrarias:

– São muitos os bons escritores jovens. Posso listar 30 nomes sem dificuldade.

Munhoz destaca que a criação do site institucionaliza uma prática comum na literatura, o fato de escritores experientes lerem e apoiarem jovens talentosos:

– Esse apadrinhamento não é negativo. Os autores não fazem as indicações baseadas em amizades. Eles apontam generosamente quem tem futuro pela frente.

O carioca Rafael Sperling, foi citado pelo gaúcho Michel Laub, autor Diário da Queda e A Maçã Envenenada, no Antessala das Letras:

– Fiquei surpreso! É sempre muito legal um autor da relevância dele apoiando alguém que está começando – conta Sperling.

Cíntia Moscovich avalia como foi importante a figura de um padrinho em sua carreira:

– Luiz Antonio de Assis Brasil foi padrinho e mestre. Ele jamais me deixou parar de escrever, sempre me estimulou.

QUEM INDICA QUEM:

José Castello, 64 anos, escritor e crítico literário carioca, autor de "Ribamar" (2010) indica Diter Stein, 62 anos, carioca, autor do livro "O Brilho do Sangue" (2006)Diter Stein não é um "escritor profissional", desses que escrevem por obrigação e para tirar vantagens do que fazem. Escreve com violência, com emoção, é um escritor que se entrega ao texto. E essa entrega se manifesta no próprio texto, que é denso e, algumas vezes até, chocante _ mas que toca fundo seu leitor.

Fui jurada do prêmio Portugal Telecom quando Rosp concorria com Fingidores. Defendi a inclusão dele entre os finalistas, mas muitos acharam que só estava indicando por ser gaúcho. Não era verdade. O livro é muito bom, tem um senso de humor refinado e elegante. Merecia a atenção.

Jeferson Tenório é um escritor que está mais preocupado em seguir sua voz própria do que em agradar parâmetros acadêmicos ou corresponder a um estilo literário em maior destaque. Seu trabalho fala de um contexto social e de uma realidade periférica que não estão muito em evidência, mas sem ser panfletário ou cair no coitadismo.