Itapema FM | 19/02/2015 06h04min
Aos 84 anos, o ator e diretor Clint Eastwood parece ter finalmente encontrado outro rosto capaz de emular a singular combinação de impassibilidade e intensidade características de sua persona cinematográfica. Bradley Cooper, protagonista de Sniper Americano (2014), encarna com notável entrega o atirador de elite Chris Kyle, personagem real cujos dilemas existenciais e morais ecoam preocupações semelhantes às dos anti-heróis que povoam os filmes do velho caubói das telas.
Sucesso de bilheteria nos Estados Unidos, o drama que entra em cartaz nesta quinta-feira nos cinemas concorre neste domingo a seis Oscar — incluindo melhor filme, ator e roteiro adaptado.
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Sniper Americano conta a trajetória do soldado considerado o mais letal atirador da história militar dos Estados Unidos, que totalizou 160 mortes em quatro temporadas servindo no Iraque, desde 2003. A produção é baseada nas memórias de Kyle, publicadas em 2012 — mas Eastwood e o roteirista Jason Hall fizeram algumas alterações, inclusive acrescentando informações que ficaram de fora do livro.
O longa começa já em alta tensão: logo no começo, um garoto iraquiano carregando uma granada entra na mira do membro das Forças de Operações Especiais da Marinha americana. Antes de mostrar o desfecho dessa sequência, porém, a trama recua no tempo e relata sucintamente como Kyle foi parar naquele lugar: das lições de sobrevivência aprendidas na infância com o pai, ao lado do irmão, até o alistamento e o treinamento militar — passando pela pouco promissora carreira de peão de rodeio e pelo relacionamento instável com as mulheres.
Se servir ao país empregando sua habilidade com um rifle surge como alternativa de vida para o personagem, o casamento com a namorada Taya (Sienna Miller) vem ao encontro desta busca por segurança. No entanto, o que Kyle vai vivenciar no Iraque acabará por comprometer seu equilíbrio psicológico: na mesma medida em que sua reputação como atirador cresce, tanto com os companheiros — que o apelidam de “Lenda” — quanto entre os inimigos, igualmente aumenta seu desconforto com a violência e as mortes na zona de conflito, das quais é testemunha e agente. Consumido pelas lembranças do fronte, o sniper não consegue encarar a rotina civil quando retorna para casa, mantendo-se emocionalmente distante da mulher e dos filhos.
Ator cujo talento cômico foi comprovado nos filmes da série Se Beber, Não Case!, Bradley Cooper destaca-se em Sniper Americano pela atuação contida, expressando os sentimentos e tormentos do personagem por meio de silêncios eloquentes — interpretação que o credencia a talvez levar a estatueta desta vez, depois de duas indicações anteriores.
Vencedor do Oscar como diretor por Os Imperdoáveis (1992) e Menina de Ouro (2004), ambos eleitos melhor filme, Eastwood desta vez não foi lembrado na categoria direção. Injusto. O mestre da narrativa fílmica dosa ação e reflexão com sabedoria, fazendo com que Sniper Americano transcenda o mero filme de guerra patriótico — apesar do debate suscitado nos EUA a respeito da maneira como contrapõe americanos e iraquianos. Atualizando os estragos que a impessoalidade da guerra provoca nos indivíduos, Eastwood demonstra com dureza que a conquista da honra pode custar a própria alma.
Leia as críticas dos principais indicados ao Oscar:
Selma
A Teoria de Tudo
O Jogo da Imitação
Birdman
Boyhood
O Grande Hotel Budapeste
Foxcatcher
Whiplash
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