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Itapema FM  | 10/02/2015 17h51min

"Better Call Saul" não chega nem perto de "Breaking Bad" (mas isso não é um problema)

Seriado que conta a história do advogado canastrão Saul Goodman está sendo disponibilizado gradativamente na Netflix

Gustavo Foster  |  gustavo.foster@zerohora.com.br

Alerta: este texto contém spoilers sobre os dois primeiros episódios de Better Call Saul

Antes de ser lançado, Better Call Saul já era um sucesso estrondoso. Spin-off do melhor seriado produzido pela TV americana desde Os Sopranos, o programa sobre a vida do advogado trambiqueiro Saul Goodman tinha como principal mérito trazer de volta personagens amados pelos fãs de Breaking Bad – não à toa, bateu recorde de audiência em seu primeiro episódio, com quase 7 milhões de espectadores na TV a cabo. Ainda que seja praticamente inevitável, é injusto com Better Call Saul compará-la a Breaking Bad – principalmente como fez a Esquire, dizendo que a série começou melhor do que Breaking Bad: primeiro, porque é Better Call Sall é um seriado pior. Segundo, porque nem parece ser a intenção de Vince Gilligan (criador de ambos) superar sua obra-prima.

Better Call Saul teve seus dois primeiros episódios liberados na Netflix na segunda e na terça-feira. A partir de agora, nas próximas oito semanas, um episódio será publicado em cada terça. Entre os espectadores e a imprensa norte-americana, a reação ficou num misto de euforia generalizada (no IMDB, a série recebeu nota de 9,5; no Rotten Tomatoes, 100% de aprovação) e empolgação curiosa: o Hollywood Reporter classifica o programa como "um experimento de televisão" que pode se tornar "o grande segundo ato de Vince Gilligan". 

Logo nos primeiros segundos do primeiro episódio, intitulado Uno, a premissa é apresentada: Saul Goodman está trabalhando em uma padaria ou algo do tipo, com um bigode que o deixa quase irreconhecível, totalmente paranoico que alguém perceba quem ele é. Na cena seguinte, ele aparece em casa, assistindo a uma fita VHS com comerciais antigos de seus serviços como advogado – os clássicos "better call Saul!" que o levaram a conhecer Walter White e Jesse Pinkman na série-mãe. A partir daí, voltamos no tempo e conhecemos Jimmy McGill, nome verdadeiro de Saul, um advogado totalmente quebrado e sem sucesso, que ganha um salário de fome trabalhando como defensor público. Ou seja: a história aqui é a ascensão e a queda de Saul Goodman, começando na defensoria pública, passando pelos acontecimentos de Breaking Bad e chegando ao atendente fantasiado e paranoico.    

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E é por isso que não é justo comparar Better Call Saul com Breaking Bad: as premissas são diferentes. Ainda que haja momentos de tensão e drama nos dois primeiros episódios da nova série (até mais do que o necessário), são as cenas de humor que levam os episódios praticamente nas costas. A relação de Saul com Mike Ehrmantraut (o mercenário faz-tudo de Breaking Bad) rende cenas clássicas, que dão vontade de pausar, voltar e ver de novo, de tão divertidas – além de serem um agrado fantástico para os fãs de BB. Saul no banheiro, em frente ao espelho, treinando seus depoimentos para o juiz em um caso de três adolescentes que fizeram sexo com uma cabeça decepada também é impagável. Ou quando Tuco Salamanca (outro retorno) leva Saul e os dois skatistas-golpistas para o deserto, a fim de dar neles uma lição: além de lembrar os melhores momentos de BB com tomadas aéreas abertas, a cena é de se contorcer de rir. Tuco, um dos personagens mais burros da série, improvisa – sem perceber – uma espécie de tribunal no deserto, com Saul como advogado de defesa, para decidir a que punição submeter os dois adolescentes.

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Os melhores momentos dos poucos mais de 90 minutos que Better Call Saul teve até agora são fruto de um roteiro de comédia recheado de humor negro muito bem feito e das atuações fantásticas de Bob Odenkirk. Em 2013, a revista Wired chegou a dizer que "a internet deve o seu senso de humor a Bob Odenkirk". Não é exagero: com uma carreira de quase 30 anos, o ator é também um experiente roteirista de esquetes – como se pode ver em episódios do Saturday Night Live e do programa Late Night with Conan O'Brian. Unindo isso a inesquecíveis performances gestuais e expressivas, conseguiu criar um personagem que se destacou pelo humor em uma série extremamente profunda e dramática como Breaking Bad. Agora, em sua série própria, tem mais espaço para ir mais a fundo nas características do advogado canastrão, picareta e neurótico.

Os momentos negativos de Better Call Saul talvez se devam pelo ritmo mais lento da série. O primeiro episódio demora a empolgar e, por vezes, dá medo de que falte um fio condutor mais sólido para o roteiro: se em Breaking Bad era impossível não querer acompanhar a trajetória de um professor de química pacato que se torna um traficante maníaco por poder, parece menos sedutor acompanhar o dia-a-dia de um advogado sem dinheiro para jantar. A não ser que isso seja absolutamente divertido.

Better Call Saul

– Primeiro e segundo episódios disponíveis na Netflix
– Os próximos oito episódios serão liberados no serviço toda terça-feira, a partir das 5h

Sabedoria de Saul
Confira algumas das melhores frases do advogado em Breaking Bad

– Ao ser apresentado à mulher de Walter White:
"Walter nunca me falou quão sortudo ele era. Claramente, o gosto dele para mulheres é o mesmo que o gosto dele para advogados: apenas o melhor do melhor... com a dose certa de sujeira!"

– Ao explicar a Walter por que é preciso acreditar na própria mentira:
"Se você está comprometido o suficiente, pode fazer qualquer história funcionar. Uma vez disse para uma mulher que eu era o Kevin Costner, e funcionou porque eu acreditei"

– Ao cobrar a falta de preparo de Walter para antever problemas:
"Vocês não se planejaram para essa eventualidade? A Starship Enterprise tinha um botão de autodestruição. Só estou dizendo"

– Em comentário para Walter:
"Não há honra entre ladrões... com exceção para nós, claro"

– Ao explicar para Jesse por que estava trabalhando para outro:
"É assim que o mundo funciona, garoto. Vá com o vencedor"

Não viu Breaking Bad?

Vencedora de dois Globos de Ouro e 16 Emmys, a série é considerada uma das melhores da história.

Quer mais razões? Confira 10 motivos para assistir a Breaking Bad.

Atualmente, o AXN está transmitindo três episódios seguidos da terceira temporada nas madrugadas de terça-feira (3h às 4h30min). Em DVD e na Netflix, estão disponíveis todas as cinco temporadas.

Confira outras spin-offs que estreiam neste ano

Divulgação / Netflix

Bob Odenkirk interpreta o advogado quebrado Saul Goodman em "Better Call Saul", spin-off de "Breaking Bad"
Foto:  Divulgação  /  Netflix


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