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Itapema FM  | 05/02/2015 06h01min

"Selma" chega como azarão ao Oscar, mas é um filme de muitas qualidades

Filme narra bastidores de histórica marcha liderada por Martin Luther King no Alabama dos anos 1960

Daniel Feix  |  daniel.feix@zerohora.com.br

Em meio às estreias pré-Oscar, Selma chega nesta quinta-feira aos cinemas discreto como convém aos azarões. De fato, trata-se de um concorrente a melhor filme que só teve uma outra indicação – melhor música, para Glory, cantada pelo compositor John Legend e pelo ator e rapper Common. A discrição não combina com sua potência e o impacto que ele provoca – não é menor mesmo se comparado às melhores produções da temporada em Hollywood.

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A história é a da marcha de mais de 80 quilômetros que Martin Luther King (1929 – 1968) liderou entre a pequena Selma e a capital do Alabama, Montgomery, logo após receber o Nobel da Paz, em 1964. Naquele ano, o presidente dos EUA, Lyndon Johnson, assinou a chamada Lei dos Direitos Civis. Mas os negros seguiam vitimados pela intolerância, sobretudo ao sul do país. A marcha, realizada em 1965, foi decisiva para pressionar Johnson e o Congresso a aprovar uma nova legislação que dava direito universal ao voto.

Tudo está bem contextualizado no filme – inclusive a escolha da cidade de 20 mil habitantes às margens do Rio Alabama para começar a jornada. Dispostas as informações fundamentais no início – em uma narrativa quebrada, pontuada por pouca trilha sonora –, Selma engrena mais adiante, graças ao carisma do ator principal, David Oyelowo, e a um truque bem-sucedido: a apresentação dos fatos a partir do relato de repórteres presentes e das anotações dos oficiais do FBI que monitoravam os passos de Luther King. Sim, naqueles tempos de trevas, um Nobel da Paz era vigiado (e emboscado) por agentes da lei, que não se constrangiam em bater nas minorias para satisfazer a elite branca.

Curiosidade: são dois britânicos que vivem o governador George Wallace (Tim Roth) e o presidente Johnson (Tom Wilkinson), ambos em boas atuações, ainda que num tom talvez acima do ideal, no caso de Roth.

Carmen Ejogo é Coretta, mulher de Luther King, e a apresentadora de TV Oprah Winfrey também está no elenco, como uma senhora humilhada que se junta aos manifestantes. É interessante comparar dois dos principais momentos dela na trama: a violência verbal e crua que sofre nas sequências iniciais é bem diferente do caráter épico e coreografado com que a diretora Ava DuVernay (de Middle of Nowhere, premiado em Sundance mas inédito no Brasil) filma seu espancamento já na parte final.

Em meio à narrativa, Selma muda de tom, mas sem apelar desmedidamente à emoção. Se há problemas no filme, eles estão ligados à falta de profundidade no exame da personalidade de Luther King e à forma polida com que todos se comunicam, mesmo nos momentos de maior raiva. O filtro de suavidade, ainda assim, não chega perto daquele visto em títulos como Histórias Cruzadas (2011) – o único da safra recente a tratar do mesmo período histórico em meio à onda de longas que abordam as questões raciais nos Estados Unidos (12 Anos de Escravidão entre eles).

Cuidado, por isso, para não cair na armadilha de classificar Selma de reiterativo em seus propósitos de documentar a segregação que marca tão fortemente a história dos EUA.

Selma
De Ava DuVernay
Drama, EUA, 2014, 127 minutos, 12 anos.
Estreia nesta quinta-feira no circuito.
Cotação: bom.

Leia as críticas de outros filmes da corrida do Oscar:
A Teoria de Tudo
O Jogo da Imitação
Birdman
Boyhood
O Grande Hotel Budapeste
Foxcatcher
Whiplash

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