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Itapema FM  | 08/01/2015 10h03min

Thiago Momm comenta sobre a felicidade na literatura

Colunista relembra dois livros franceses: A Idade de Ouro - História da Busca da Felicidade, de George Minois, e A Euforia Perpétua, de Pascal Bruckner

Atualizada às 10h03min Thiago Momm  |  thiagomomm@gmail.com

Felicidade

A felicidade não é o forte da literatura, da filosofia e de ensaios. Porque claro, ela é palpável como uma nuvem baladeira de gelo seco, dificilmente rendendo boas palavras. Quando insistimos ela vira breguice, como que por vingança.

Também não ajuda que os autores com mais conhecimento são os que costumam ter alguma rixa persistente com a felicidade. São os Sartres desse mundo, que investem obras inteiras na tentativa de universalizar suas contrariedades e perplexidades, um projeto bem mais infame do que parece.

Enquanto isso, do outro lado do octógono ficam os bufões da autoajuda e suas fórmulas felizes ao estilo plano semestral de academia.

Então a felicidade segue ali, historiada, romanceada e avaliada com sérios desvios fanáticos. Como parâmetro, confio menos nos moralistas do que no autor de foto com frase feliz do Facebook. Obviamente não é a medida ideal do quanto somos felizes, porque a facebookada costuma ser uma felicidade residual, já contaminada pela expectativa do julgamento alheio. Ainda assim, talvez diga mais da nossa média de vida do que qualquer fórmula.

A medida mais confiável, de qualquer maneira, seriam os nossos milhões de momentos de contentamentos e bem-estar não escritos. Aquilo que não registramos justamente para absorver melhor.

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Viajo tudo isso relembrando dois livros franceses: A Idade de Ouro - História da Busca da Felicidade, de George Minois, e A Euforia Perpétua, de Pascal Bruckner. Podem conter as idiossincrasias de sempre, mas de qualquer maneira são dois escritos que com certeza valem a pena.

A palavra "busca" no título dá um ótimo rumo ao livro de Minois, afinal a história de como perseguimos a felicidade é mais clara do que as especulações sobre quanto a alcançamos. Minois explica de que modo, ao longo do tempo, tentamos nos aferrar a estados felizes: a busca pelo ângulo religioso, filosófico, medieval, utópico, iluminista, burguês, contraculturalista, contemporâneo.

Já os gregos perderam o paraíso: é o sonho da idade de ouro, contraponto do presente, a crença quase infantil de que tivemos e perdemos um passado com o melhor da vida fixado. Mas os gregos não suspiravam sozinhos. "Mitos similares", diz Minois, "existem em todas as culturas, na Índia, na China, na América pré-colombiana, tanto quanto na Islândia, nas sagas escandinavas ou em antigos textos anglo-saxões".

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Destaque para a ilustração que Minois tem de sobra, mas destaque negativo para sua intransigência. Não sobra chance para ninguém: depois de ironizar grandes sistemas de pensamento, ele escarnece do modelo Amélie Poulin de ser feliz como "a arte de saborear os pequenos nadas da existência".

Bruckner, focado no presente, faz uma crítica conhecida (ser feliz hoje se tornou obrigação, e infeliz, uma ofensa), mas com uma perspicácia singular. Além disso, ele transige mais do que Minois, aproximando seu livro da sábia consideração do seu conterrâneo La Rochefoucauld (1613-1680), para quem simplesmente "não somos nunca tão felizes nem tão infelizes como imaginamos".

ANEXO
Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal

No livro "A Idade do Ouro" o escritor Georges Minois conta a história da busca pela felicidade
Foto:  Arquivo Pessoal  /  Arquivo Pessoal


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