Atualizada às 13h38min Pamyle Brugnago  |  pamyle.brugnago@santa.com.br

Pela curvilínea estrada Geral Treze de Maio Alto, em Blumenau, um homem de chapéu e cabelos brancos irregulares pedala tranquilamente enquanto fuma um cigarro de palha. A casa de Tadêus Kempczynski fica no fundo de um amplo e verde terreno, herança do avô que emigrou da Polônia para o Brasil durante a Primeira Guerra Mundial, marcando a chegada da família ao solo brasileiro.

Além dos traços e marcas no rosto de 64 anos, Tadêus carrega na personalidade a resiliência polonesa. Orgulha-se em dizer que só passou por atendimento médico quando se feriu gravemente em uma queda de bicicleta.

A televisão e a energia elétrica só chegaram ao lar dos Kempczynski, na Vila Itoupava – bairro que já pertenceu ao município de Massaranduba – há pouco mais de sete anos. O estilo de vida um tanto rústico é praticamente o mesmo de quando o primeiro da família fixou residência na comunidade há quase um século.

Em casa, Tadêus, Ana, 47, mulher tímida de bochechas rosadas, e os seis filhos (Fabiana, Carlinhos, Roseli, Bernardina, Verônica e Bernardo) só conversam em polonês. As palavras soam de forma natural e ritmada, mas com consoantes demais para ouvidos brasileiros. Os filhos aprenderam o português no colégio, mas as orações no altar de casa, repleto de santos e com a imagem do polonês mais célebre – papa João Paulo II –, são na língua tenra.

Heranças
Presente no cotidiano de catarinenses de várias regiões de Santa Catarina, a cultura polonesa pode ser observada em diferentes aspectos, seja por meio de pratos gastronômicos, danças típicas ou pela língua polonesa, preservada em algumas comunidades. Contam os livros que os primeiros imigrantes começaram a chegar em Santa Catarina em 1869, na cidade de Brusque, no Vale do Itajaí, considerada o berço da cultura. 

Tradição preservada
No município de Massaranduba, no Litoral Norte Catarinense, a tradição é mantida em diversas atividades e relembrada na arquitetura de prédios históricos como a Igreja Nossa Senhora do Rosário, construída por imigrantes poloneses. Todo domingo a rádio comunitária da cidade divulga a Hora Polonesa, programa com músicas e notícias da Polônia apresentado em polonês. Segundo o presidente da Associação Polonesa Karol Wojtyla, Silvio Mainka, cerca de 35% da população do município de 16 mil habitantes é de origem polonesa. Registros históricos mostram que os primeiros poloneses começaram a chegar à cidade em 1890.

Gastronomia
Diversos pratos tradicionais da cultura polonesa são encontrados em restaurantes pelo Estado. Para resgatar e preservar a cultura e o legado deixado pelos ancestrais, o padre Márcio Lacoski junto a  Associação Polonesa Karol Wojtyla – fundada em 2005 com o objetivo de resgatar os valores culturais – desenvolvem diversas ações culturais. Em novembro, eles organizaram um curso de gastronomia para ensinar a comunidade a preparar alguns pratos típicos deixados de legado pelos familiares, como devolay (rolinho de lombo de porco recheado), daszek (doce conhecido por telhadinho), barszcz (sopa), kluski (nhoque de batata) e makowa (torta papoula). Na comunidade de Treze de Maio Alto, um prato típico feito em casa até hoje é o pirogue, espécie de massa cozida recheada com queijo branco e coberta com molho branco.

 
Curso ensinou pratos típicos da Polônia. Foto: Maykon Lammerhirt

Religião
A religiosidade é um aspecto forte para as famílias.

– Os poloneses, pela história, são um povo muito sofrido e, por isso, se agarraram muito na religião. Em várias comunidades a primeira coisa que fizeram ao chegar aqui foi construir igrejas, que também eram locais de encontros e reuniões – diz Mainka.

Ainda segundo ele, o padre Márcio Lacoski é a referência da comunidade de Massaranduba, por promover ações que resgatam valores culturais. Na comunidade de Treze de Maio Alto, em Blumenau, os valores são resgatados pelo ministro Felix Wittkowski em cultos semanais.

Festividade
Em todo mês de setembro, a comunidade de Massaranduba celebra a Polsky Festin, festividade que começa às 10h com uma missa celebrada por mais de um padre da região em polonês e segue durante o dia com atrações musicais, danças típicas e um festival de gastronomia.

DIÁRIO CATARINENSE