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Itapema FM  | 16/12/2014 09h07min

Os 20 anos da Editora Insular

Editora foi um marco para a difusão da história e literatura de Santa Catarina e hoje é referência nacional na publicação de obras sobre jornalismo e ciências sociais

Carol Macário  |  caroline.macario@diario.com.br

Em 1994 Nelson Rolim de Moura largou o emprego estável como servidor público, arrumou para si uma barraca de 4 m² e a montou na feira de artes do Largo da Catedral, Centro de Florianópolis. Com livros da Editora da UFSC (EdUFSC) e da pioneira editora Lunardelli, começou a realizar o sonho de ser livreiro. “Uma editora e livraria especializada em autores e editoras catarinenses.” O slogan foi chamativo. Não necessariamente tornou-se o principal foco da Editora Insular, mas com certeza uma missão muito bem desempenhada.

Vinte anos e mil títulos publicados depois, a Insular é referência no Brasil em obras de ciências sociais e jornalismo.

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Apesar de muita água ter rolado desde então - número de leitores caiu, as livrarias pequenas desapareceram, as maiores parecem ter virado loja de amenidades, brinquedos, vídeo game, música e, quem sabe, livros - a Editora navega bem na maré agitada e imprevisível da atual fase do mercado editorial brasileiro. Graças à internet, não necessariamente uma vilã, mas grande aliada na comercialização de livros para todo o país, e à qualidade dos títulos publicados.

Graças também ao magnetismo pessoal de Rolim, hoje com 64 anos, ao seu entusiasmo e senso crítico como editor e à nossa Senhora Desatadora dos Nós, cuja foto figura entre as frases de poetas, imagens, bandeiras de países latino-americanos pregados no mural localizado atrás da mesa dele na sede da editora, na rodovia João Paulo.

“É mais fácil você se livrar de um cadáver do que de mil exemplares.”

Ditado motivador destacado entre todos.

Há duas semanas, na editora, ele conversava com sua equipe sobre a Amazon e os robôs que “trabalham” no depósito. Na Insular é tudo manual, mas com amor.

COMEÇOU ASSIM

Com o estande de livros Nelson Rolim de Moura virou referência cultural. Fazia feira duas vezes por semana no Centro e no domingo na Av. Beira-Mar Norte. Um ano depois alugou uma sala no prédio do Ponto Chic, na Rua Felipe Schmidt. Tinha apenas 17 m². Nesse espaço minúsculo montou livraria e promovia debates, recitais de poesia, palestras. Cabiam cinco pessoas (Rolim ri). Nos dias de lançamentos o público ficava pelos corredores mesmo. Depois mudou para outro andar, no mesmo prédio. E foi melhorando, até abrir sala grande na Rua Tiradentes, inspirada nas livrarias de Buenos Aires.

No primeiro ano como editor publicou apenas um livro, A Revolução Cultural do Mercosul, de Salvador Cabral. Foi seu ISBN de número 1. No segundo ano, dois livros.

— Eu tinha a ideia romântica de que haveria interesse pela América Latina. Eu acreditava que era possível entrar nessa vertente — diz ele.

A proposta de ser a editora dos autores catarinenses foi bem executada.

— A Insular tem um papel importante na história editorial e literária de Santa Catarina. Veio na esteira do pioneirismo da extinta editora Lunardelli e trouxe para o Estado uma perspectiva mundial — avalia Salmoão Ribas Jr, presidente da ACL (Academia Catarinense de Letras).

Apesar da dedicação, o editor admite que no plano local é derrotado. Uma questão que poderia ser diferente se cada um fizesse a sua parte - editores, professores, o governo, as livrarias.

— Antes me dedicava ao autor local, mas ele não tem mais o vigor de antes. Publicava todos os autores daqui. Mas as pessoas não têm mais o convívio fraternal, nem a solidariedade em torno dos escritores, das editoras, do próprio livro.

A Insular passou por fases importantes ao longo desse tempo. Uma delas foi a publicação de obras sobre história de Santa Catarina nos primeiros anos.

Outro grande momento é quando se volta para a universidade, com obras de referência em linguística, jornalismo, economia e ciências sociais em geral, numa clara busca de equilíbrio entre temas que geram renda e ao mesmo tempo status cultural.

 
Antiga sede da editora no Centro de Florianópolis

LITERATURA LATINO-AMERICANA

A Insular agora está retomando a primeira e uma das mais importantes fases: a publicação de obras sobre a América Latina. Dois lançamentos marcam esse retorno: a coleção Pátria Grande e Pensadores da Pátria Grande, com autores ainda inéditos no Brasil.

— Queremos crescer com o jornalismo e a literatura em torno da questão latino-americana. Sempre considerei cultura e ciências sociais de importância vital. Vazio cultural e falta de princípios são as causas de muitos problemas hoje — afirma o editor.

A relação afetiva com o continente vem dos tempos de estudante. Durante a ditadura militar ele militou no movimento estudantil e, aos 22 anos, o gaúcho precisou deixar Porto Alegre para viver na Argentina por causa da repressão.

— Não brinquei na revolução. Fui preso em Porto Alegre, preso no Uruguai.

Ele conta que naquela época as concepções que os militantes de esquerda tinham eram cubanas, chinesas, albanesas.

— Tínhamos vontade de enfrentar a ditadura. E lá na Argentina tive contato com uma coisa que mudou muito a minha vida: me senti latino-americano e compreendi que se quisesse algum resultado político teria que elaborar uma concepção nossa, não chinesa ou cubana.

Rolim morou na Argentina até 1976, onde trabalhou em grandes livrarias e editoras. Não terminou a faculdade de engenharia, porque de alguma forma sua vocação já estava ligada às letras. Veio para Florianópolis no mesmo ano, e aqui trabalhou em jornais, rádios e na extinta TV Cultura, até se tornar servidor público.

Dos mil títulos publicados pela Insular, leu praticamente todos. Ele cita alguns autores importantes lançados pela editora: Carlos Humberto Correa, Moacir Pereira (30 livros publicados), Jair Francisco Hamms, Julio de Queiroz e Ieda Goulart.

DEPOIMENTOS

“Ele começou com livraria dedicada aos autores locais. Era muito especial naquele momento. Para mim e para muitos foi marcante. E como editora, cumpriu e vem cumprindo um papel importante. E ele enfrenta as dificuldades de distribuição de hoje e está muito bem organizado na rede.”
Alcides Buss, escritor, tem dois livros publicados pela Insular: Olhar a Vida e Cinza de Fênix e Três Elegias (segunda edição).

“As feiras que ele organizou quando era presidente da Câmara Catarinense do Livro foram algumas das mais marcantes. Veio na esteira de editar autores locais, cumprindo bem esse papel. Vem procurando difundir a literatura catarinense, com obras de grande significado e renome nacional.”
Salomão Ribas Jr, presidente da Academia Catarinense de Letras

"O editor Nelson Rolim de Moura tem sido um gigante no incentivo real à produção literária e cultural de Santa Catarina e do Brasil. Publica obras de excelente qualidade editorial e gráfica, incentiva os autores e adota parcerias com instituições nacionais e internacionais. Se contasse com apoio do poder público poderia multiplicar as edições e enriquecer ainda mais a cultura catarinense. Um profissional que concorre com os melhores do Brasil."
Moacir Pereira, jornalista, escritor, já publicou 30 livros pela Insular

DIÁRIO CATARINENSE
Charles Guerra / Agencia RBS

Nelson Rolim na sede da Insular na rodovia João Paulo, em Florianópolis
Foto:  Charles Guerra  /  Agencia RBS


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