A união de diversos fatores trouxe à nova geração da música brasileira um violonista de enorme talento. Ter nascido em uma família de tradição musical gaúcha, ter tido na figura do pai um músico sério que lhe levou ainda jovem para tocar percorrendo o Brasil, ter o mestre violonista (Lúcio Yanel) residindo em sua casa e mostrando-lhe a mágica do instrumento quando ainda menino, ou mesmo ter um DNA favorável ao toque do instrumento por seus visíveis dedos e tendões fortes...

Nenhum desses fatores juntos é ainda suficiente para justificar ou entender o toque deste brilhante músico. Há de se somar a algo maior, quase inexplicável, o talento. Yamandu Costa é um ser que respira música. Por sua juventude atenta à cultura musical do Brasil, condensa em suas mãos a herança daqueles que trilharam a construção desta linguagem: Garoto, Baden Powell, Raphael Rabello, Radamés Gnatali.

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Mas Yamandu está fazendo algo mais pela música instrumental brasileira e pelo violão: a aproximação com o grande público. O artista é dotado de grande carisma e habilidade de interação com o público. Mais do que isso, um bom senso no fazer musical a ponto de não se deixar perder em um zilhão de notas, esquecendo-se dos ouvidos do público, o que pode ser comum em músicos instrumentais.

Embora possa recorrer ao virtuosismo, toma a outra direção, tocando músicas de notável sutileza, assim como apresentando composições com melodias claras e simples que acariciam ouvidos. A isso dá-se o nome de genialidade. As estruturas de suas composições e forma de suas melodias, às vezes, lembram canções, no que poderia ser entendido como "instrumental-canção" — uma forma de música que uniria o melhor dos dois mundos: a qualidade e substância do toque instrumental com o conceito de melodias memoráveis e até cantáveis, abarcando assim a mais ampla variedade de ouvintes.

A aceitação de seu trabalho pelo grande público é não só um sinal de que o interesse pela música instrumental existe e é forte, mas é também um novo capítulo para o violão brasileiro, uma nova (e grande) onda de inspiração e educação musical para todos os jovens que o admiram. Através de seu trabalho, jovens — não apenas brasileiros mas de outros países — têm seu primeiro contato com o violão brasileiro. Hoje percebe-se uma enorme colheita de jovens violonistas. Nos últimos 10 anos, por exemplo, a comercialização de violões de sete cordas triplicou e. não só isso, a cultura violonística brasileira hoje adentra uma nova e riquíssima fase de criatividade e produção.

Yamandu tem relação íntima com a ilha da magia. Quando visita Florianópolis não se limita a meros pontos turísticos, mas, por ter aqui uma relação de amigos de longa data, pôde aos poucos conhecer os cantos mais especiais, normalmente só conhecidos e frequentados pelos locais: o samba nas dunas da Joaquina, o antigo bar do Tião, o Coisas de Maria e João em Santo Antônio ou o charme do Ribeirão da Ilha — todos bem conhecidos pelo jovem artista que por suas escolhas mostra que tem interesse por tranquilidade, cultura e bons amigos.

Sua personalidade ímpar e de atitudes fortes, que musicalmente em seus primeiros anos traduzia-se em intensa virtuosidade, agora mostra maturidade. Casado, pai de dois filhos e com vasta experiência pelos palcos do mundo, Yamandu sabe que não há nada mais a provar com seu violão. Com o caminho aberto à frente e menos preocupado com pressa ou ego, tudo indica que o jovem gênio ainda nos brindará com muito mais composições, continuando a apontar a direção do violão brasileiro que se desenvolve em suas próprias mãos.

Felipe Coelho é violonista e compositor, mestre em jazz pela Georgia State University (EUA)

Show em Florianópolis

Yamandu Costa faz show quinta-feira no Centro de Eventos da Ufsc. Os ingressos já estão esgotados.