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Itapema FM  | 13/12/2014 07h08min

Horto reúne plantas de uso terapêutico em Florianópolis

Trabalho pioneiro do médico Cesar Simionato possui mais de 200 espécies

Karine Wenzel  |  karine.wenzel@diario.com.br

A área de 1,1 mil metros quadrados pode ser chamada de farmácia ou até de sala de aula. Alguns bancos feitos de troncos de madeira compõem a estrutura para receber os visitantes, que são constantes no local. Nada de prateleiras ou medicamentos em caixas. O que se vê ao redor são mais de 200 espécies de plantas medicinais, uma verdadeira farmácia ao ar livre. E quem comanda tudo por ali é o médico César Paulo Simionato. Além de atuar na unidade de saúde do Rio Tavares, ele coordena, há quase 20 anos, o Horto Medicinal do Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

::: Confira algumas dicas sobre como utilizar as plantas

A experiência de quase 30 anos na área de plantas medicinais começou quando Simionato trabalhava como médico em um posto na Costa da Lagoa, em Florianópolis. Um paciente comentou que usava a flor do mamão macho para curar tosse. O relato aguçou a curiosidade do médico recém-formado, que foi atrás de mais informações.

— Aprendi muita coisa com a comunidade de lá, onde conhecia muita gente. Eles me falavam do uso popular e eu procurava na literatura. O que sei aprendi de forma auto-didática — explica.

Informação e treinamento

Em 1997, começou o esboço do projeto do Horto Medicinal do HU. Na época, em uma pequena área onde hoje é o Parque Ecológico do Córrego Grande. Em 1999, foi transferido para uma área próxima ao Hospital Universitário.

O espaço e o trabalho de Simionato são hoje referência no tema. Para o médico, o espaço é fundamental para mostrar a importância das plantas para os profissionais da saúde, que contam apenas com uma matéria optativa sobre o tema na grade curricular da UFSC. Além disso, auxiliar a comunidade e aprender com ela, já que muitos trazem inclusive mudas para serem estudadas no Horto:

— Há um abismo entre o profissional da saúde e a população. Nossa função aqui é receber as mudas e procurar estudá-las — diz o médico.

Ele acrescenta que pesquisas mostram que 80% da população brasileira usa plantas medicinais, porém grande parte dos médicos não tem formação na área. E aí que aparecem os riscos, principalmente na interação entre medicamentos tradicionais e as plantas.

— Eles não têm um treinamento e uma visão para isso. É uma luta inglória essa e até hoje às vezes ainda me chamam de charlatão (risos).

Mas Simionato não está sozinho nessa luta. Prova disso é que o mercado de fitoterápicos tem crescido 10% ao ano no Brasil. Sérgio Tinoco Panizza, presidente do Conselho Brasileiro de Fitoterapia (Conbrafito) afirma que ainda há um longo caminho pela frente.

— Quando há plantas medicinais para assistência de baixa gravidade, é possível desonerar os hospitais, que estão sempre cheios de gente, e facilitar os atendimentos — defende.

Troca de informações na arte do cultivo

O casal Seiji e Kazuko Futatsugi chega pontualmente ao encontro. São 14h de uma quinta-feira e está prestes a começar mais um Quinta das Plantas, projeto do Centro de Educação Ambiental da Associação dos Funcionários Fiscais do Estado de Santa Catarina (Affesc), em Canasvieiras. Depois de mexer em mudas e ajudar no plantio, o casal se divide. Ela fica escutando atentamente as explicações sobre o uso de algumas espécies. Ele concentra-se na atividade de regar as mudas.

O grupo, composto principalmente por idosos como o casal de japoneses, e profissionais da saúde, se reúne com um propósito: conhecer mais sobre as plantas medicinais. Viviane Corazza, farmacêutica e especialista no tema, ajudou a fundar o grupo há cerca de quatro anos. Ela conta que a sede da Affesc, onde ocorrem os encontros, começou a ganhar as primeiras mudas há quase 20 anos, com a paixão por plantas do atual presidente da associação, Cidemar Dutra. Hoje mais de 200 espécies fazem parte da sala de aula do grupo.

— O Quinta das Plantas é um grupo aberto à comunidade e é uma troca de experiência e conhecimento — afirma a farmacêutica.

Para auxiliar neste conhecimento, o grupo conta com a ajuda do ambientalista Alesio dos Passos, que já ministrou palestra sobre o tema em mais de 200 cidades catarinenses. Nativo de Florianópolis, ele destaca a importância de casar ciência com a sabedoria popular. Para isso, é essencial conhecer o nome botânico da planta, já que elas podem ganhar diferentes denominações dependendo da região. Outra preocupação é com a interação dos medicamentos, que pode causar sérios danos e prejudicar a eficácia das plantas e dos demais medicamentos. As grávidas devem ter um cuidado especial com algumas espécies.

Quem aplica no dia a dia os ensinamentos do especialista é a aposentada Ione Uehara, que garante que aos 73 anos nem sabe o que é médico. Ela afirma que usa apenas ervas e chás que tem em casa.

Agora Alesio dos Passos quer ampliar o conhecimento. Para isso, posta diariamente no Facebook diferentes espécies de plantas medicinais, explicando seu uso, nome científico e ilustrando com fotos.

– Também conto um pouco da história da planta para resgatar a sabedoria popular – afirma.

Desde o começo do ano, mais de 340 plantas já tiveram a história contada na rede social.

FIQUE POR DENTRO

HORTO MEDICINAL DO HU
Visitação e atendimento à comunidade às quintas-feiras: entre 8h e 11h
Local: Atrás do Hospital Universitário da UFSC, no Centro de Ciências da Saúde, no bairro Trindade

QUINTA DAS PLANTAS
Às quintas-feiras, a partir das 14h. O telefone para contato para agendamento de visitas são (048) 32661626/ (048) 32661933 ou por e-mail centroambiental@affesc.com.br
Local: Rodovia José Carlos Daux, em Canasvieiras

DIÁRIO CATARINENSE
Diorgenes Pandini / Agencia RBS

César Paulo Simionato tem mais de 30 anos de experência no trabalho com plantas medicinais
Foto:  Diorgenes Pandini  /  Agencia RBS


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