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Itapema FM  | 05/12/2014 11h46min

Se você não funciona pela manhã, talvez a culpa seja do seu corpo; conheça a Sociedade B

Confira a entrevista com a dinamarquesa que fundou o movimento para lutar por aqueles que não se adaptam ao modelo "das 8h às 18h"

Felipe Martini  |  felipe.martini@zerohora.com.br

Deus ajuda quem cedo madruga. O ditado é reflexo de nossa sociedade matutina. Na maioria dos países, empresas, escolas e instituições iniciam suas atividades no período da manhã. Mas se você é daqueles que não consegue fazer nada nas primeiras horas da manhã, relaxe: mais do que preguiça, isso pode ser explicado pela ciência.

Cronobiologia é a ciência que estuda o nosso relógio biológico. Till Roenneberg, pesquisador alemão e um dos maiores especialistas do mundo sobre o tema, trabalha com o conceito de ritmo circardiano (período de nosso relógio biológico que regula funções como sono e fome). Segundo o cientista, cada pessoa tem o seu ritmo (também chamado de cronotipo) , é ele que determina se você é daqueles que acordam às 7h correndo para academia ou às 11h pedindo por mais cinco minutinhos na cama.

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Baseado nessas descobertas, existe um grupo no mundo que luta para que pessoas que não conseguem se adequar ao sistema “das 8h às 18h” possam ser ouvidas. A B-Society (Sociedade B) foi criada na Dinamarca em 2006. A engenheira Camila Kring cansou da ditadura matinal dos horários de escolas e empresas e criou um grupo para cobrar alternativas com horários mais flexíveis. Confira a entrevista com a fundadora do movimento B-Society: 

ZH - Como surgiu a ideia de criar a B-Society?

Minha missão era criar uma sociedade flexível, que suportasse diferentes formas de família, trabalho e ritmos biológicos diversos. A sociedade de hoje suporta apenas as pessoas do tipo A, que trabalham e estudam das 8h às 16h e das 9h às 17h. Na sociedade industrial, nós tínhamos apenas um formato de família, assim como um único formato de trabalho, tanto em termos de local como de espaço. Hoje em dia, a demanda é por pessoas que trabalhem 24 horas por dia. Acredito que um país que deseja ser um player importante na competição global, trabalhando com valores imateriais como inovação e criatividade, precisa criar uma sociedade mais flexível que apoie maneiras diferentes de se viver e de trabalhar. Uma maneira de fazer isso é deixar que as pessoas trabalhem no horário em que têm mais energia para isso. 

ZH - Qual o objetivo do movimento?

O movimento B-Society é uma mudança cultural. Isso leva tempo. No meu ponto de vista, temos de integrar política familiar, política de trabalho e política de trânsito. Eles estão conectados. Eu acredito que as cidades podem adotar este modelo! E é possível implementar o modelo B nas cidades. Metade da população mundial vive nas cidades. Então, se nós pudermos fazer cidades flexíveis, isso terá um enorme impacto em nossas vidas. 

ZH - Como podemos saber se somos uma pessoa do tipo A ou B? 

Você pode fazer o teste de Till Roenneberg: Munich Chronotype Questionnaire. Clique aqui

A regra mais simples para descobrir se você é do tipo A ou B é a seguinte:

As pessoas de tipo A acordam cedo todos os dias, inclusive no fim de semana. Elas odeiam sexta-feira à noite, quando têm os seus amigos B para jantar. Nessa ocasião, as pessoas B mantêm o A acordado. Se um A vai para a cama às 2h ele vai acordar cedo no dia seguinte. Uma pessoa do tipo A não consegue dormir até 9h ou 10h da manhã.

Se você é uma pessoa B - você não tem tanta energia na parte da manhã. Você se sente mais fortalecido depois das 10h. Muitos adiam uma grande quantidade de sono da semana (porque têm que se encaixar na sociedade A) e, por isso, os B muitas vezes dormem mais no fim de semana. 

ZH - Essa mudança já chegou à Dinamarca?

Não vou dizer que a B-Society já está plenamente implementada aqui na Dinamarca, estamos apenas começando. Mas creio que seja possível. E temos três indícios de que a situação está mudando para a melhor, primeiro com conscientização. Atualmente, "pessoas A" e "pessoas B" são termos comuns em nossa língua. Segundo, com escolas: em 2007, foi implementada a primeira turma B na escola HF-Efterslægten. As aulas começam às 10h da manhã. Hoje já temos escolas B: Frederiksberg Ny Skole, Vorbasse Skole e Egå Ungdomshøjskole. E também as empresas, que estão apoiando o sistema A e B na Dinamarca. 

ZH - O movimento da Sociedade B está presente em 50 países. O que mais falta ser conquistado?

B-Society está trabalhando para o reconhecimento da igualdade entre cronotipos, dentro da União Europeia e dos quadros das Nações Unidas, como um direito humano básico para navegar dentro de seu próprio cronotipo biológico humano individual. Esta é uma parte do direito humano básico para buscar uma vida saudável. 

O problema é que a estrutura da sociedade atual e prática suporta apenas os cronotipos biológicos precoces (tipo A). Cronotipos tardios (tipo B) estão sendo discriminados em nossas sociedades de várias maneiras. Escolas começam às 8h, e as creches usadas por pessoas que trabalham também fazem o horário 8h-16h. B-Society está trabalhando para adicionar o conceito de cronotipo biológico e igualdade entre cronotipos ao parágrafo discriminação na União Européia.

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