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Itapema FM  | 03/12/2014 09h24min

[Ô Catarina] traz antologia de 30 poetas de catarinenses

Edição mais recente do Suplemento Cultural de Santa Catarina faz um painel de leitura da produção poética do Estado

Carol Macário  |  caroline.macario@diario.com.br

Não existe cultura onde não haja manifestação estética. É uma condição de sobrevivência do indivíduo e da espécie. Leonor Scliar Cabral, 85 anos, uma das principais referências em linguística no Brasil e importante poeta de Santa Catarina, explica com lirismo, claro, e com uma lógica irretocável, o que é poesia: a capacidade de tirar a matéria do caos e dar prazer.

Poesia serve para ordenar o caos. É território de transições, transposição e minimização das barreiras da vida, como diz o poeta catarinense Cláudio Dutra. E se antes era uma arte presente nos livros de cabeceira, nos suplementos culturais dos jornais (ah, os tempos de Mario Quintana!) e na memória dos aficionados apenas, aos menos otimistas um recado: o poema está por todo lado, nos sites, na música, nas redes sociais, saltando das páginas de papel para ocupar novos espaços. Há muita produção de qualidade duvidosa, sim, mas muita coisa interessante também.

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E nesse universo poético, autores catarinenses não perdem para nenhum outro Estado. A edição número 85 do Suplemento Cultural de Santa Catarina [Ô Catarina], lançada em novembro, traz um recorte da nossa produção com uma louvável antologia poética. Editor da publicação da Fundação Catarinense de Cultura (FCC) — distribuída gratuitamente em espaços culturais e locais administrados pela entidade — e também poeta, Marco Vasques reuniu 30 nomes de Santa Catarina, dos veteranos Rodrigo de Haro e C. Ronald aos autores ainda inéditos no mercado editorial, como a jovem Beatriz Tajima. São 32 páginas com poemas, apenas.

— A circulação da poesia é complicada, não existe um mercado que absorva, e as editoras torcem o nariz — afirma Vasques.

A seleção foi difícil devido à produção quase que infinita. São autores com linhas completamente diferentes. Dennis Radünz, por exemplo, é mais cerebral. Rubens da Cunha é mais lírico, mais encaixado no cotidiano. Raul Arruda Filho já tem um namoro com o concretismo. A escrita do Rodrigo de Haro é mais clássica, Péricles Prade já é um pouco mais fílmico.

— São poemas que têm linguagem, pulsão de vida, que incomodam sob algum aspecto— diz Vasques.

Foram rodados 6 mil exemplares de [Ô Catarina], distribuídos em todo o país.

30 autores em três

Como não seria possível reunir os 30 autores, a reportagem conversou com três poetas representantes de gerações diferentes (embora a antologia não seja dividida por épocas). Leonor Scliar Cabral, 85 anos, Cláudio Dutra, 51, e Beatriz Tajima, 21, falaram da própria poesia e das impressões sobre esse objeto artístico.

RITMO E MELODIA

A veterana Leonor Scliar Cabral tem uma obra consistente e de altíssimo nível técnico. Seu livro mais recente, Sagração do Alfabeto (Scortecci Editora), foi finalista do Prêmio Jabuti 2010. Uma grande poeta em qualquer época. Prima-irmã do escritor Moacyr Scliar (1937 - 2011), ela nasceu em Porto Alegre e mora em Florianópolis desde 1981. Tem sete livros de poesia publicados, além de traduções e obras de referência em linguística. Assim que encerrar a atividade acadêmica pretende dedicar-se novamente à poesia.

— Uma das ordenações do caos é tomar a palavra e distribuí-la entre silêncios e seus espaços regulares (como o som), produzindo o ritmo (pode ser como o batimento cardíaco, a respiração). E depois tem os espaços dos intervalos, que é a melodia. O ritmo e a melodia, isso é poesia.

LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Cláudio Dutra é um poeta com linguagem estabelecida e que trabalha a palavra num jogo de imagem. Por isso a experiência de ler seus poemas é visual e demanda a materialidade do papel. Seus versos já nascem prontos, diferentemente dos textos em prosa. Nascido em Campos Novos, é autor de quatro livros de poesia, entre eles o recente visAvis (Editora Insular). Também escreveu contos e romances.

— Gosto de explorar a palavra como significado e significante, gosto do jogo fonético. Nada do que escrevo é referência da minha vida pessoal, no entanto não tem nada que não seja. Poesia é a resistência das fronteiras dos sentidos.

UM CÓDIGO A SER DECIFRADO

Beatriz Tajima é talvez a mais jovem poeta da antologia e sua obra ainda é inédita em livro. Seus textos são publicados em seu blog (poemasemrascunnhos.blogspot.com.br) e em página no Facebook. É uma aposta. Seus poemas abordam criticamente alguns temas, principalmente a urbanidade. Ela entende a poesia como um código a ser decifrado e uma forma de questionar a ficcionalidade da própria realidade.

— O poema não tem o objetivo de passar conhecimento. É uma experiência estética e sensorial. Ler poesia é o desafio de decifrar um texto que não vai ser entendido de imediato. Não é verdade absoluta, mas extrema libertação.

DIÁRIO CATARINENSE
Diorgenes Pandini / Agencia RBS

Cláudio Dutra, Leonor Scliar Cabral e Beatriz Tajima: poetas de diferentes gerações
Foto:  Diorgenes Pandini  /  Agencia RBS


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