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Itapema FM  | 27/11/2014 10h01min

Contra os hipócritas, Pondé

Colunista do Anexo comenta o trabalho do filósofo Luiz Felipe Pondé

Atualizada às 10h01min Thiago Momm  |  thiagomomm@gmail.com

Luiz Felipe Pondé é um filósofo valioso ou um polemista arrogante? Às vezes é difícil decidir, mas ele é provavelmente mais o primeiro que o segundo: um dos combatentes mais lúcidos da praga politicamente correta que, ao levar a cabo a sua missão, comete alguns exageros.

O mais importante é que vale a pena ler os textos de Pondé, não só na Folha de S.Paulo, mas também em livros como Guia Politicamente Incorreto da Filosofia (2012), Contra um Mundo Melhor (2013) e A Filosofia da Adúltera (2013). Neste último, ele resume: "Eu desisti do método por preguiça. E porque conheci muitos canalhas metódicos. Estranhamente, isso me libertou. Sou vítima de muitas manias, mas esta perdi: ter um método".

Sua falta de método não é despeito pelo conhecimento ou despreparo, pelo contrário: sua objetividade condensa ideias com uma eficiência que a maioria dos acadêmicos já desistiu de buscar. Pondé é ligado à universidade, mas supera o "cadáver formal" da filosofia que geralmente sai dela.

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Como ele escreve fácil, é fácil acelerar a leitura e perder o quanto está dito ali. "Toda a pedagogia contemporânea que centra a vida na busca de ser amado é uma miséria que busca elogios. Ficamos presos nessa armadilha", escreve, como parte do seu painel contra o politicamente correto.

Os alvos de Pondé são esquerdas que compartilham "uma solidariedade abstrata pelo sofrimento humano" e mantêm "uma agenda de mentiras intelectuais (...) a serviço do 'bem'"; mulheres que "odeiam toda e qualquer mulher que goze mais do que elas"; feministas que "só conheceram na vida homens ruins" e cujos efeitos "só se abatem sobre homens bons"; politicamente corretos que oferecem "amor em troca de você pensar o que eles querem".

A praga PC, diz, retirou a contradição moral de "dentro" do homem e a colocou na política, "fora dele". O homem se torna o bom selvagem de Rousseau e o mau se torna sempre externo, institucional. O mais lamentável nisso é que "quando [um tema] vira apenas política, é porque desidratou aquilo que ali era uma verdade mais profunda".

Entre os exageros de Pondé estão seu apego ao pessimismo (ele raramente transige com as melhoras óbvias da democracia) e uma tendência de elencar inimigos mais marcados, mais facilmente almejáveis.

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Ainda assim, é obviamente necessário ante uma esquerda que ignora erros históricos e continua querendo ser blindada pelas suas intenções. Por exemplo Gregório Duvivier, que tenta capitalizar sua qualidade como artista com declarações adolescentes de bondade. "Eu quero que todo mundo seja rico", disse no Programa do Jô. "Humanidade é um crime imperdoável", escreveu nesta semana na Folha, insinuando que só a esquerda conhece a dor do outro, sendo por isso odiada e chamada de hipócrita.

Os tolos aplaudem. Não importa que uma revista nacional de esquerda tenha acusado um instituto de falta de funcionários negros - até vazar que a própria revista não tinha nenhum jornalista negro no seu grupo numeroso.

Não sei que nome tem isso além de hipocrisia. Pondé, menos paciente, diria: "Pode anotar: todo mundo que crê na própria virtude é um canalha"..

ANEXO
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