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Itapema FM  | 13/11/2014 10h01min

Exércitos

Colunista Thiago Momm comenta sobre o feminismo dentro e fora da literatura

Atualizada às 10h01min Thiago Momm  |  thiagomomm@gmail.com

Ainda que esta coluna seja sobre livros, hoje falo de feminismo - sem deixar, em todo caso, de comentar alguns escritores.

Julien Blanc, um americano que dá conselhos infames e agressivos sobre como pegar mulheres, tem duas palestras em Florianópolis em janeiro. Uma petição no site Avaaz tenta impedi-lo de entrar no país. Na semana passada, o cretino foi expulso da Austrália. Já assinei a petição.

Julien Blanc é um desses temas sobre os quais alguém sensato só pode concordar. É um plebiscito virtual urgente: "você está conosco?". Claro que estou.

O problema é quando o assunto é mais ambíguo e a fúria politicamente correta anula as tentativas de diálogo: todo exército exige lealdade cega.

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Exemplo um. Em agosto, uma blogueira disse que Xico Sá "infantiliza as mulheres ao assumir a posição do homem que as entende". Mesmo elogiando defeitos do corpo feminino nas suas crônicas, Xico objetificaria as mulheres.

Exemplo dois. Circula no Facebook, com 26 mil compartilhamentos, um texto feminista que confunde machismos atuais e anacrônicos. Escrevendo como um homem com um suposto acesso de lucidez, a autora diz: "Ninguém fica chocado quando eu digo que assisto pornôs. Ninguém nunca vai me julgar se me ver lendo literatura erótica. Ninguém fica chocado se eu disser que me masturbo. (...) Meu pai nunca me deu um tapa na cara desconfiado de que passei a noite em um motel. (...) Ninguém demoniza meus orgasmos. (...) Nunca me disseram para casar virgem por ser homem".

Quem conferir os comentários abaixo dos dois textos vai ver que a retórica arregimentou muitas mulheres e desfavoreceu ponderações.

O problema do primeiro exemplo é que Xico Sá, longe de infantilizar alguém, celebra os aspectos não pejorativos da galantaria velha guarda. Ele faz autocrítica masculina, promove o bom humor e exaltou o protagonismo de duas mulheres na eleição presidencial. Não é à toa que tantas leitoras gostam dele.

O problema do segundo exemplo é que, em boa parte, a autora está lutando uma guerra atrasada ou geograficamente deslocada. No mundo em que vivem quase todos seus leitores, homens se orgulham de ter namoradas mais sexualizadas. Pais punindo por motéis, orgasmos demonizados, valorização do casamento virgem? São os piores clichês do feminismo que não reconhece avanços.

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Em A Era do Vazio, o filósofo francês Gilles Lipovetsky diz algo intrigante: "(...) o feminismo, longe de ser uma máquina de guerra, é uma guerra de despadronização do sexo, uma máquina dedicada à ampliação do narcisismo". A afirmação ajuda a entender por que blogueiras feministas falam com tanta facilidade em nome de todas as mulheres, exigindo que mesmo as suas demandas mais específicas sejam vistas como gerais.

Só o narcisismo para colocar no mesmo balaio estupros nas ruas e casos mais que ambíguos em festas universitárias. Nos EUA, um aluno foi expulso da universidade porque sua colega se arrependeu de ter feito sexo consentido com ele. O protagonismo feminino se torna vitimização com um senso de oportunidade impressionante. O caso está aqui: http://tws.io/1E6MT32. Até onde descobri, ninguém começou uma petição pelo sujeito.

ANEXO
ANA BRANCO / Agencia O Globo

De acordo com uma blogueira, o escritor Xico Sá "infantiliza as mulheres ao assumir o papel do homem que as entende"
Foto:  ANA BRANCO  /  Agencia O Globo


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