Notícias

Itapema FM  | 30/10/2014 07h02min

Filme ilumina altos e baixos da turbulenta vida de Tim Maia

Cinebiografia estreia nesta quinta-feira apresentando dois atores no papel do cantor em diferente fases

Marcelo Perrone  |  marcelo.perrone@zerohora.com.br

Se as saborosas 400 páginas da biografia Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia, lançada em 2007 pelo jornalista Nelson Motta, pareceram pouco para enquadrar o gigante rebelde da música brasileira, desafio maior é sintetizar a turbulenta trajetória do artista nos 140 minutos do longa-metragem inspirado neste livro.

Para concentrar seu foco narrativo, Tim Maia, o filme, com direção de Mauro Lima, faz um recorte entre a juventude do cantor no bairro carioca da Tijuca, nos anos 1950, e seu apogeu artístico e derrocada pessoal, no final dos anos 1970. Há ainda referências à volta por cima de Tim nos anos 1980 e, brevemente, à morte, em 1998, do ídolo imortalizado pelo amigo Jorge Ben Jor como o “síndico” do hit W/Brasil.

Dois atores foram escalados para interpretar Tim nas diferentes fases: Robson Nunes, na juventude, e Babu Santana, a partir da década de 1970. E ambos dão conta do recado em quesitos como empenho dramatúrgico, verossimilhança de suas caracterizações e defesa do repertório de Tim ao microfone — a trilha combina vozes dos atores com gravações originais. Babu e Robson trabalharam juntos com o roteiro para garantir a uniformidade no registro do personagem. Nenhum dos dois tinha experiência com canto, mas a parceria os motivou em um projeto musical no qual apresentam músicas de Tim, entre outros artistas.

– Se você olha as fotos do Tim Maia, encontra três pessoas diferentes: o jovem de aspecto fofo, a fase black power dos anos 1970 e aquele cara das camisas de lamê dos anos 1980. Com um ator só, não seria possível dar conta – disse Lima no lançamento do filme em São Paulo, na segunda-feira.

Tim Maia segue um modelo de narrativa vista longas como O Lobo de Wall Street, de Martin Scorsese, referência listada pelo diretor.

— Como a história cobre um período de muitos anos, já no primeiro tratamento do roteiro identificamos a necessidade de ter um narrador em off — explicou Lima. — E tinha de ser a voz de alguém próximo do Tim, como o (músico) Fábio, que deu guarida a ele no início da carreira e o acompanhou por muitos anos. É uma história heterodoxa, que sai fora da curva da biografia tradicional, e preferimos mostrar uma face de Tim não muito conhecida.

Fábio (interpretado por Cauã Reymond) é o nome artístico adotado pelo paraguaio radicado no Brasil Juan Senon Rolón, aspirante a ídolo da Jovem Guarda nos anos 1960. Em 2007, ele lançou o livro Até Parece que Foi Sonho – Meus 30 Anos de Amizade e Trabalho com Tim Maia, fonte secundária de pesquisa do filme.

Mauro Lima, que dirigiu também a cinebiografia Meu Nome Não É Johnny (2008), explica que seu roteiro, escrito em parceria com com Antonia Pellegrino, contempla personagens reais e figuras fictícias, como Janaína (Alinne Moraes), jovem que sintetiza as arrebatadoras paixões e as grandes fossas em que desabou o gigante de coração mole.

O diretor reforçou que sua maior expectativa é pela reação do público mais velho:

— Para o jovens, é tudo novidade. O impacto sobre quem viveu ou conhece bem as épocas destacadas no filme é mais forte. 

Veja as fases musicais de Tim Maia destacadas no filme

Entre segmentos emblemáticos de Tim Maia, estão o rompimento do cantor com o parceiro musical de juventude Roberto Carlos e o consumo industrial que Tim fazia de drogas e álcool. A risível caracterização de Roberto pelo ator George Sauma, aliás, é um ponto dissonante na caprichada reconstituição de tipos e épocas que sublinham em alto volume a genialidade musical impressa por Tim nos sucessos enfileirados no início da carreira.

Após sua temporada os EUA, o cantor da Tijuca apresentou no Brasil uma explosiva mistura sonora. Harmonizou as influências recebidas de ídolos como James Brown , Sam Cooke e Marvin Gaye com ritmos nacionais. E trouxe na bagagem uma consciência política e ideológica alimentada na luta pelos direitos civis dos negros americanos, engajamento que, somado ao seu temperamento explosivo, lhe fez desafiar qualquer forma de cerceamento no Brasil sob censura militar.

Os mais íntimos da vida e obra do Tim podem fazer considerações em torno de trechos que foram supervalorizados, de momentos marcantes abordados de forma discreta e de citações que poderiam ter maior contextualização — cenas que estão ali apenas para carimbar um que outro episódio ou personagem importante na vida do cantor (a amizade com Rita Lee, por exemplo). 

Com notório esforço para dialogar com o grande público sem radicalizar no registro mais sombrio e nem derrapar no sentimentalismo moralista, combinando humor, drama e música espetacular, o filme resulta em um tributo afinado que, provavelmente, receberia o aval do exigente Tim. 

*O jornalista viajou a convite da Downtown Filmes

São Paulo
Páprica fotografia / Divulgação

Babu Santana com Tim Maia nos anos 1970
Foto:  Páprica fotografia  /  Divulgação


Comente esta matéria
Sintonize a Itapema em Florianópolis 98.7, em Joinville, sintonize 95.3

Grupo RBS Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2009
clicRBS.com.br • Todos os direitos reservados.