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Itapema FM  | 23/10/2014 10h03min

O ótimo de Botton

Colunista Thiago Momm comenta a obra do filósofo suíço Alain de Botton

Atualizada às 10h03min Thiago Momm  |  thiagomomm@gmail.com

Já leram o filósofo suíço Alain de Botton?

Seu primeiro livro, Ensaios de Amor, vendeu mais de 2 milhões de cópias. Alguns outros também foram bem. Ele está publicado em 20 idiomas, e em Londres criou a School of Life, voltada para ideias práticas. Ou seja: de Botton faz de tudo para que a gente desconfie cada vez mais do que ele escreve.

E ainda assim, ele é um ótimo filósofo. Não só pelos bons insights: ele se preocupa com a atualidade e é relativamente acessível sem perder a dignidade intelectual, dois méritos que muitos dos seus colegas de profissão não têm.

A crítica, muitas vezes sem entrar em questões mais específicas, mostra a intransigência de sempre. Em 2012, por exemplo, de Botton lançou Como Pensar mais sobre Sexo. Uma colunista do Guardian, Hadley Freeman, apedrejou: "É preciso um homem de posse de um cérebro particularmente elástico para saltar da ideia 'o mundo está inundado de pornografia' para a sugestão de que a solução é criar 'pornô melhor', ou, para colocar de uma maneira menos qualitativa, mais pornô".

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Não é isso o que o livro diz. Escreve de Botton: "Pornografia, como álcool e drogas, enfraquece a habilidade de suportar certos tipos de sofrimento que temos que experimentar se quisermos conduzir a nossa vida propriamente. Mais especificamente, reduz a nossa capacidade de tolerar nossos humores ambíguos, de preocupação e tédio flutuantes". E segue, acusando o computador de ser uma das maiores ferramentas de distração já inventadas, algo que nos desestimula a interpretar com paciência nossos sinais de ansiedade.

O que de Botton propõe, depois de muitas ressalvas como a do parágrafo anterior, é que poderíamos ter um tipo de pornografia que não "nos forçasse a escolher entre sexo e virtude - uma pornografia que nos convidasse a apoiar, em vez de permitir o enfraquecimento, dos nossos valores mais altos". Isso é parte da proposta do livro para que pensemos melhor sobre sexo, e não mais, como afirma o título, provavelmente para garantir vendas.

No que parece ser uma ressaca onanista, de Botton chega a cogitar se alguma censura do pornô tradicional não iria bem, dados seus prejuízos morais. É nesse filósofo que uma colunista de jornal grande tenta colar a etiqueta de pervertido. Vivemos tempos esquisitos.

Quando não é o politicamente correto que cai em cima de Alain de Botton, é a insegurança intelectual dos críticos de validar um best-seller. Uma pena, porque é um filósofo que merece ser lido com cuidado. De Botton pode ser um tanto cordial. Pode ser menos múltiplo e provocativo que o francês Pascal Bruckner, por exemplo. Mas raramente é superficial.

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O próprio Bruckner elogiou Ensaios de Amor, um livro de iniciante (ele tinha apenas 24 anos) surpreendente. Fico ainda mais com A Arte de Viajar, com especulações mais singulares. As Consolações da Filosofia também é uma boa leitura e mais uma prova de que de Botton faz antes um convite para a especulação em conjunto do que autoajuda vagabunda.

Amiga minha leu A Arte de Viajar e me agradeceu pela dica. Estou dizendo, não tem erro.

ANEXO
Diego_Vara / Agencia RBS

Alain Botton durante visita ao Templo Positivista de Porto Alegre, em 2011
Foto:  Diego_Vara  /  Agencia RBS


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