Isadora Neumann  |  isadora.neumann@zerohora.com.br

Dia desses, uma amiga comentou: "gosto de imaginar que a minha vida é um videoclipe, mas, com o fim da MTV, está ficando mais difícil". Se você tem mais de 24 anos, idade que o canal completa no Brasil nesta semana, é provável que já tenha se sentido assim. Acontece que, na verdade, a MTV não acabou, só mudou. Ou melhor, ficou mais parecida com a original, dos Estados Unidos.

Relembre:
Momentos históricos do VMB
Edições marcantes do Acústico MTV
Programas que moldaram o perfil da emissora
Clipes que fizeram história
Por onde andam os ex-VJs

Desde que o grupo Abril — que estreou o canal na televisão aberta no país no dia 20 de outubro de 1990 — devolveu a marca ao conglomerado de mídia americano Viacom (responsável por canais como Nickelodeon e VH1), há cerca de um ano, a MTV migrou para a TV por assinatura, perdeu o "Brasil" atrelado ao nome e passou a dedicar mais espaço na programação para reality shows, séries e programas diários do que para os videoclipes.

— Eles seguiram bem a MTV americana mesmo, que tem mais reality shows. Mas ainda passa bastante vídeo. Clipe da Brothers of Brazil está passando direto, não tenho do que reclamar — afirma Supla, que, além participar de programas na emissora nos anos 2000 e de ser figurinha carimbada no clássico "Piores Clipes do Mundo", também apresentou um reality show já nessa fase nova, o "Papito in Love".

Fredi Chernobyl, da Comunidade Nin-Jitsu, uma das bandas gaúchas de maior identificação com a MTV "das antigas" — eles ganharam um VMB de melhor website e foram campeões do RockGol — acrescenta que a reformulação da emissora busca atingir um público que migrou da TV para a internet.

— A MTV surgiu em uma época que não tinha internet, e as coisas mudaram muito de 10 anos para cá. Hoje, ela tem um perfil muito a ver com o que a gurizada busca no YouTube. Antigamente, por exemplo, era muito difícil ver um MC de funk, tipo o Guimê, na MTV. Ela era mais roqueira. Agora, ele tem trilhões de views no YouTube. Óbvio que vai passar uma tarde na MTV. Eles estão procurando se adaptar ao que o jovem de hoje quer. Está todo mundo correndo atrás da máquina, porque a internet está dando um banho — resume.

Questionada sobre o aniversário da MTV, Chris Nicklas, que foi VJ por oito anos, pareceu surpresa:

— A velha? — brincou.

A apresentadora compartilha da teoria de que a emissora surgiu em uma época em que a TV era poderosa frente às outras mídias, o que potencializava a identificação dos jovens com o canal.

— A juventude não tinha muitas oportunidades. A MTV ocupou um nicho que nem sei se existe mais. Nenhum outro canal tinha, assim, o colhão de botar as pessoas no ar soltas daquele jeito. É um privilégio ter feito uma TV que experimentou tanto, que se arriscou tanto. Mas espero que encontre uma novidade aí para botar no ar também. A gente fala que não tem mais por onde inventar, mas, de repente, surge — finaliza Chris.

Ou seja, aos 24 anos, a MTV pode ter menos vídeos, menos rock, mais sotaque e menos festas (na opinião de Supla), mas segue firme na tentativa de ser o canal que mostra o que os jovens querem ver.

E, se você já não é mais tão jovem assim e está saudoso da MTV da sua época (também é daqueles que gravava os clipes favoritos em VHS para assistir depois?), dê o play abaixo e assista ao inesquecível vídeo comemorativo de dez anos:

 

ZERO HORA