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Itapema FM  | 17/10/2014 08h02min

Artista apresenta obra que leva 400 quilos de talco e 300 de cinzas para museu de Joinville

Franzoi fica em exposição com (Im)pressões de Nós até 16 de novembro, no MAJ

RAFAELA MAZZARO  |  rafaela.mazzaro@an.com.br

Todos os detalhes são vitais na obra (Im)pressões de Nós, de Franzoi, em exposição em Joinville: os segundos de cada movimento performático do artista, o aroma que recepciona os visitantes, os materiais escolhidos para a instalação que envolve três ambientes da casa-sede do Museu de Arte de Joinville (MAJ).

É desta forma meticulosa que Franzoi retorna como autor à agenda de exposições da cidade depois de cinco anos envolvido com a direção da instituição, curadorias e aulas. O último trabalho para o MAJ foi Nós em Nós – Memórias no Espaço-tempo, instalação feita com nós em tecido para a 38ª Coletiva de Artistas de Joinville, em janeiro de 2009.

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Em (Im)pressões de Nós, ele ocupa os ambientes para propor experiências físicas – e não somente de contemplação – aos visitantes. O cheiro da flor cravo, o som da palavra alma sendo pronunciada em 25 idiomas e o contato inevitável com parte dos 400 quilos de talco distribuídos pelo assoalho de madeira permitem esses modos de sentir.

Numa das salas estão os resquícios da performance do artista na abertura da exposição, no fim do mês passado. Eles se fazem presentes seja no tom sujo das paredes ou mais efetivamente nas imagens registradas por quatro câmeras e exibidas sem edição, mostrando Franzoi saindo de uma grande porção de talco até ocupar um dos cantos com cerca de 300 quilos de cinzas. Os registros também estão nas pegadas deixadas por todos os que circularam no museu durante as mais de três semanas de ocupação do MAJ, como se os pés fossem matrizes de gravuras.

Em outro espaço estão os pés do artista moldados em gesso, trabalho confeccionado a partir de um processo similar ao de máscaras mortuárias. Sob a escultura, duas camadas de folhas de plátanos, algumas restos da versão de (Im)pressões feita em Blumenau, em 2011.

– Para o público esses detalhes, como a quantidade calculada de talco e cinza e os segundos entre cada movimento da performance, podem não ter a menor importância, mas para a construção do artista é essencial – avalia o autor.

Franzoi tem histórico de atuações provocativas. Em 2008, ele chegou a ser preso pela Polícia Militar quando executava a performance em que se barbeava no meio de uma rua movimentada do Centro de Joinville. Além de artista plástico e performer, é arte-educador, ator, cenógrafo e diretor teatral. Natural de Taió, reside em Joinville desde 1988.

O quê: Exposição (Im)pressões de Nós, de Franzoi
Quando: até 16 de novembro. Visitas de terça a sexta-feira, das 9h às 17h. Sábados, domingos e feriados, das 12h às 18h
Onde: sede do Museu de Arte de Joinville (Rua Quinze de Novembro, 1.383, Centro, Joinville)
Quanto: entrada gratuita


A escrita é o gesto
Por Letícia Mognol (professora, arte educadora, membro da diretoria cultural do Instituto Schwanke)

Franzoi apresenta proposições de dimensões complexas sobre os ciclos de passagem da vida, a ideia de morte, a transcendência. Com seu corpo/voz/palavra, imagens e instalações constrói uma poética da multiplicidade com sobreposições sígnicas sutis.

É artista do movimento, suas ações de performance se constituem no silêncio de micromovimentos, no qual pela respiração ritmada, meditação e autocontrole juntam-se leveza e peso, ampliando o gestual num crescente com fluência a subidas, giros, aberturas, pressão e impressões do seu corpo sobre a superfície. Sua gestualidade é sua escrita personalizada.

Com as substancias pó branco, simbologia da força criadora, e cinza, poeira da morte, colocados lado a lado, instaura a tensão sobre o drama da inescapável da finitude e da fragilidade da existência humana sobre o enigma da morte e a própria desmaterialização do corpo na busca de atingir um estado de pureza.

O som da palavra alma, anima, traz a noção de consciência, reflexão sobre si mesmo, via de acesso ao processo de individuação no qual o artista, ente sensível, se coloca e inclui também o outro, nos vemos refletidos.

Os pés moldados sobre folhas de plátanos reforçam que na natureza a passagem do tempo é também manifestação da vida e do cosmo. O olhar fenomenológico aciona o visível e o invisível, o corpo primeiro do mundo percebido e aquilo que não aparece, a abertura para outros mundos possíveis. A transcendência como experiência humana das coisas e do ser está além da substância. Quem ultrapassa, vai além, está conciliado consigo mesmo.

A NOTÍCIA
Sergio Adriano / Divulgação

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Foto:  Sergio Adriano  /  Divulgação


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