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Itapema FM  | 12/09/2014 17h01min

Em novo disco, U2 retorna às origens

"Songs of Innocence", lançado nesta semana, evoca influências primordiais e energia juvenil do começo da banda

Roger Lerina  |  roger.lerina@zerohora.com.br

Tudo é hiperbólico em se tratando de U2: a maior banda do planeta fez na última terça-feira talvez o maior lançamento fonográfico da história ao disponibilizar seu novo disco, gratuita e automaticamente, na biblioteca do iTunes de 500 milhões de usuários da Apple. Curiosamente, o álbum apresentado no evento em que a gigantesca empresa de tecnologia saudava o futuro tem os pés fincados no passado: Songs of Innocence evoca as influências primordiais e a energia juvenil da música que o quarteto irlandês levou para a arena do rock no começo dos 1980.

O 13º trabalho de estúdio do grupo – que será editado em formato físico só no dia 13 de outubro – reúne 11 canções que proporcionam uma saborosa viagem de 48 minutos ao melhor do pop pós-punk oitentista. Esse retorno às origens, porém, não é mero saudosismo: o U2 revisita seus verdes anos com a maturidade artística adquirida em quase 40 anos de estrada. A brincadeira nostálgica começa com a arte do disco – que remete a uma tosca capa de LP de vinil – e segue na primeira faixa: The Miracle (Of Joey Ramone) é anunciada por um coro épico e pela batida marcial da bateria de Larry Mullen Jr. que remetem ao arrebatamento panfletário da trilogia Boy (1980), October (1981) e War (1983). "Eu acordei no momento em que o milagre ocorreu / Ouvi uma canção que fez sentido neste mundo / Tudo o que eu havia perdido retornou / O som mais lindo que já tinha ouvido", canta Bono acompanhado pela guitarra garageira de The Edge, confessando a revelação que sentiu ao escutar a banda punk norte-americana The Ramones.

> U2 lança disco durante apresentação do iPhone 6

Nas seguintes Every Breaking Wave e California (There Is No End to Love), fica clara a contribuição de Danger Mouse – ex-integrante do duo Gnarls Barkley que já produziu The Black Keys: o produtor tem a manha de trazer para o presente sonoridades vintage sem cair na paródia, acomodando uma pegada mais rústica de guitarra-baixo-bateria em camas de teclados sutis. Em Iris (Hold me Close), a levada faz uma ponte perfeita com o pop rock dançante contemporâneo, lembrando um pouco Coldplay – ao mesmo tempo em que o vocalista homenageia a mãe, que morreu quando ele tinha 14 anos: "Algo nos seus olhos levou mil anos para chegar aqui". Já o baixo cadenciado de Adam Clayton em Volcano joga o U2 para as pistas dos clubes de princípios da década de 1980, quando grupos como Human League e Gang of Four botavam a rapaziada para dançar. Bono anuncia a ebulição hormonal adolescente: "Algo dentro de você está prestes a explodir".

Raised by Wolves retoma a veia política indissociável à trajetória da formação, ao lembrar uma noite nos anos 1970 em que a explosão de vários carros-bomba cobriu Dublin de sangue. Ainda na onda revivalista, Cedarwood Road cita uma rua em que Bono morou na capital irlandesa e homenageia um amigo de infância, enquanto This Is Where You Can Reach me Now celebra outro ícone já morto do punk: Joe Strummer, vocalista e guitarrista da banda inglesa The Clash – "1, 2, 3, 4 foi suficiente", define o refrão da canção.

Algumas bandas sentem a necessidade de se reinventar constantemente. O U2 faz parte dessa linhagem – e Songs of Innocence é o melhor renascimento do quarteto desde Achtung Baby (1991).

Cadê o garoto que ia mudar o mundo?

Gustavo Brigatti
gustavo.brigatti@zerohora.com.br

Pegou todo mundo de surpresa o anúncio do novo disco do U2 na conferência de lançamento do novo iPhone – e mais ainda o fato de que estaria disponível, de graça, para os proprietários do telefone da Apple. Entretanto, a ligação entre a empresa e Bono não é de agora – e a patacoada de terça-feira passada teve sua razão.

Bono é fundador da Red, uma iniciativa voltada à arrecadação de fundos para a caridade e que tem a Apple como um dos seus maiores (porém discretíssimo) colaboradores. Associar Songs of Innocence à Apple seria uma maneira de dar mais visibilidade a essa parceria – uma reivindicação do cantor nos últimos meses.

Mas, ao fazer graça com o atual chefão da companhia, Tim Cook, na apresentação do iPhone 6, o então líder messiânico, crítico político e ativista anti-establishment estava mais para uma dessas estrelas pré-fabricadas do pop, cuja música é indissociável de seus patrocinadores.

Chega a dar saudade daquele garoto que ia mudar o mundo...

SEGUNDO CADERNO
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