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Itapema FM  | 04/09/2014 10h01min

Livros que falam sobre o amor

Colunista Thiago Momm escreve sobre obras que tratam do sentimento nos tempos modernos

Thiago Momm  |  thiagomomm@gmail.com

O amor anda líquido, não se solidifica. Segue um padrão de consumo: é mantido enquanto obviamente satisfaz, sendo logo substituído por outro que promete satisfazer mais ainda.

O livro do polonês Zygmunt Bauman, Amor Líquido, pode dizer mais do que isso, mas diz principalmente isso. Bauman também escreveu obras dizendo que a modernidade, a vida e o medo andam líquidos. Desconfio de qualquer um que gosta demais da própria metáfora.

Se você quer um livro para se sentir vingado contra o mundo, vá de Amor Líquido. Ali você vai descobrir que as pessoas andam desumanizadas e pode até arriscar se sentir especial porque anda preocupado com isso, lendo a respeito. Se você quer ler um livro de verdade sobre amor no século 21, porém, vá de O Paradoxo Amoroso, de Pascal Bruckner.

Entre outras, Bruckner estilinga esta: "Conhecemos o velho refrão cantado por autores famosos: a paixão não existe mais, foi morta pela liberação da mulher, o consumista hedonista que torna o universo líquido (Zygmunt Bauman) e quebra os vínculos mais sagrados. A hipótese exatamente oposta poderia ser colocada: vivemos em um período hipersentimental e os casais de hoje em dia morrem porque se colocam sob a jurisdição de um deus cruel e impiedoso - Amor".

Ou seja, o problema é menos mercadológico, mais demasiadamente humano. Terminaram os amores impossíveis. Caíram os obstáculos morais, políticos ou religiosos de tempos passados, o suposto impedimento de amores fantásticos, e estamos por conta própria: como podemos exercer o amor à vontade, se ele se desgasta mais facilmente. Nas palavras de Bruckner, o amor é morto por ele mesmo, morre da sua própria vitória, é exercendo-se que ele se destrói.

Agora, digo eu, o amor é mais pia molhada, mais calcinha com elástico frouxo, mais o cara sem emprego fazendo questão de transar porque é de graça. Mais testado pela mundanidade, quero dizer. Menos "o milagre da civilização" (Stendhal) e mais "um egoísmo entre dois" (Madame de Staël). Voltando para Bruckner: "Fala-se demais do amor como ele deveria ser e não suficientemente de como ele é".

O "paradoxo" do título vem de uma "estranheza conceitual" que herdamos dos anos 1960-1970: o amor livre. "Como o amor que une se pode pôr de acordo com a liberdade que separa?". Queremos pertencer a alguém e ser independentes. Para resolver o paradoxo, estamos testando novos modelos. Hoje, a fronteira entre estar sozinho e com alguém "tende a se tornar mais fluida de tão forte que é nossa vontade de aproveitar as duas condições".

E claro, você pode não querer pertencer a ninguém, mas Bruckner tem um lembrete sobre isso: "A afirmação de que não precisamos de ninguém vem acompanhada da desoladora constatação de que ninguém precisa de nós, o orgulho da autossuficiência vem acompanhado da angústia de estar só; a aspiração a se distinguir, da imitação frenética dos outros".

Sinceridade demais, eu sei. Dependendo do seu momento psicológico, talvez seja melhor ir mesmo no bode expiatório de Amor Líquido.

ANEXO
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