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Itapema FM  | 29/08/2014 17h01min

Woody Allen promove embate romântico entre razão e sensitividade em "Magia ao Luar"

Comédia em cartaz nos cinemas tem no elenco Colin Firth no papel de mágico que tenta desmascar vidente vivida por Emma Stone

Marcelo Perrone  |  marcelo.perrone@zerohora.com.br

Woody Allen realizou Magia ao Luar em meio ao turbilhão provocado pela acusação de abuso sexual lançada contra ele pela filha adotiva de Mia Farrow, sua ex-mulher e com quem o diretor vive às turras. Sintomático, portanto, que esse novo filme do realizador de 78 anos seja uma daquelas comédias leves para desopilar, realizadas a partir de ideias e situações recicladas de suas obras anteriores. Mais do mesmo, tem quem diga. Mas a linha média do padrão de qualidade de Allen, em sua alternância entre  filmes ótimos e os nem tanto, está sempre degraus acima do que se costuma ver nas salas de cinema do circuito comercial.

Combinam-se em Magia ao Luar, em cartaz nos cinemas, a ambientação nos anos 1920 (de Meia-Noite em Paris) e as figuras do mágico (O Escorpião de Jade e Scoop) e da vidente (Você Vai Conhecer o Homem dos seus Sonhos). Mas algo na proposta do longa induz o admirador de Allen a especular se ele está em busca de uma, digamos, harmonização entre dois universos que, para ele, sempre foram, mais que antagônicos, beligerantes: um movido pela razão e o outro alimentado pela fé. No caso, a oposição se dá entre a magia, representada como a arte da habilidade, ciência e precisão que encanta quem quer ser iludido, e a clarividência, vista como arte da dissimulação e esperteza de um se valendo da ingenuidade e boa fé de outro.

Esse embate se dá por meio de dois encantadores personagens, vividos por Colin Firth e Emma Stone, ambos muito bem, ele encarnando o recorrente alter ego de Allen e ela enriquecendo a galeria de belas musas do cineasta. Stanley é um famoso mágico inglês que circula pela Europa fazendo truques espetaculares sob o disfarce de um ilusionista chinês.Sophie é uma jovem americana de origem humilde a quem são creditados poderes mediúnicos igualmente espetaculares.

Mestres em seus respectivos ofícios, eles vão se cruzar na Riviera Francesa, onde Sophie está abrigada pela milionária família de seu noivo almofadinha. Stanley chega ali levado por um colega mágico amigo da família, com o objetivo de desmascarar as habilidades telepáticas da garota prestes, acreditam, a dar o golpe do baú. O ilusionista, porém, será abalado por um encantamento de outra ordem.

É pelo cético e rabugento Stanley que Allen fala e pensa em meio a passeios dos personagens pelo cenário idílico, belamente fotografado pelo iraniano Darius Khondji, com uma paleta de cores e filtros que emulam os registros retrôs do Instagram.

A acirrada discussão entre racionalidade e fé é transcorre entre citações a Hobbes, Freud e Nietzsche e discussões sobre a cura de uma doente ter se doso pela força das preces da família ou da qualificação dos médicos que a atenderam. Deus existe ou esta morto? 

Ainda que a virada da narrativa em sua reta final surja como uma previsível carta na manga, é interessante ver Allen espelhado em um personagem seu ceticismo e arrogância como elementos responsáveis por seu aprisionamento em um mundinho triste e melancólico sustentado pela frieza do pensamento lógico — como se seu sangue circulasse pela cabeça sem passar pelo coração, compara ele.

Até a conclusão de Sophie ser ou não ser uma picareta, a graciosa vidente brilha como a encarnação do espírito livre, leve e solto dos que acreditam que vida pode ser temperada por um pouco de ilusão e fantasia. É como se Stanley/Allen se abrisse a uma  via alternativa entre a convicção daqueles que não acreditam em nada que não possa ser racionalmente explicado e a fé cega dos que creem cumprir na vida um roteiro previamente escrito além desta dimensão.

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