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Itapema FM  | 28/08/2014 10h56min

Em "Carnaval no Fogo", Ruy Castro revisita os 500 anos de história do Rio

Colunista do "Anexo" mata as saudades da cidade relendo o livro em que escritor se mostra "cariocamente engraçado"

Thiago Momm  |  thiagomomm@gmail.com

Nunca ter morado no Rio de Janeiro é uma dessas falhas que um dia precisa ser corrigida, como nunca ter saltado de paraquedas ou namorado uma russa. Enquanto isso, me animo relendo sobre o Rio em Carnaval no Fogo (2003), um Ruy Castro contagiante, relaxadamente culto e cariocamente engraçado da melhor cepa. É divertido ver a tradução inglesa suando para não perder a malícia original. Existem também uma tradução espanhola e uma turca (?).

Caminhando de chinelo pelos 500 anos de história da cidade, Ruy Castro exalta os índios Tupinambás que inspiraram Montaigne; os escritores rueiros e os bairros boêmios; os remotos carnavais subversivos; a cosmopolita Rua do Ouvidor do século 19, onde o relógio marcava cinco da tarde enquanto “ainda era 1701 na maior parte do país”; as cariocas sempre à frente do seu tempo, pioneiras em poesia erótica, imprensa, comportamentos e engajamentos; os “coroas” que não ficam “rosnando frustrações diante da permissividade exercida pelos garotos de hoje” porque inventaram a permissividade eles mesmos.

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Não à toa, cantam antologicamente Kleiton e Kledir: “A mãe da moça me garantiu / É virgem, só que morou no Rio”.

Pude comprovar o amor obstinado de Ruy Castro pela cidade ao apurar uma matéria sobre as praias mais bonitas do Brasil para a Folha de S.Paulo. Sem pensar dois segundos, a resposta dele ao telefone foi “Copacabana”. Para ter certeza, ele explicou, basta ir ao Posto 6 às 7h30min de um dia claro e tentar descobrir, no mar, onde terminam as montanhas, que nos enganam e sempre reaparecem além, dando “a sensação mais próximo do infinito possível”. Não é por acaso que Carnaval no Fogo contagia tanto.

Ruas ambíguas, ruas trágicas

Comentando livros sobre o Rio, Ruy Castro cita Um Passeio pela Cidade do Rio de Janeiro (1862) e Memórias da Rua do Ouvidor (1878), de Joaquim Manuel de Macedo; A Encantadora Alma das Ruas (1908), de João do Rio; e O Rio de Janeiro do Meu Tempo (1938), em que Luiz Edmundo reconstitui a cidade de 1900. Todos os quatro, de domínio público, estão disponíveis na internet. Para algo do século 21, vale somar aí pelo menos As Cariocas, de Sérgio Porto.

O livro de João do Rio, alguém que declarou ter “medo de pessoas notáveis”, é um clássico sobre figuras cariocas ignoradas e ruas personificadas – “ruas honestas, ruas ambíguas, ruas sinistras, ruas nobres, delicadas, trágicas, depravadas, puras, infames, (...) revoltosas, medrosas” e assim por diante. Em Ferragus, 75 anos antes, Balzac escrevera que “há ruas nobres, ruas simplesmente respeitáveis” etc. Sem especificar devidamente o crédito, João só lembra, em página separada, que “Balzac dizia que as ruas de Paris nos dão impressões humanas”. Cleptomania à parte, sobram méritos próprios para o repórter culto, mundano, pioneiro e de texto efusivo que foi João do Rio.

ANEXO
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