Itapema FM | 28/08/2014 08h57min
Para cada vaga oferecida pela Escola do Teatro Bolshoi no Brasil há quase 40 crianças e adolescentes na espera. Número que pode ser comparado à concorrência de cursos bastante disputados em grandes universidades nacionais. E a relação candidato x vaga vem crescendo anualmente.
A última audição, durante o Festival de Dança em julho, bateu recorde de inscrições – foram 559 para apenas 15 vagas –, prova de que o diploma da única filial do balé russo no mundo, instalada em Joinville há 14 anos, é cada vez mais almejado por quem quer ingressar no mercado da dança e ganhar visibilidade para companhias internacionais.
Amanda Gomes (foto), 19 anos, é um dos nomes que compõe uma lista inédita por sua extensão: em menos de três meses, 11 alunos e recém-formados embarcarão para o exterior para trabalhar ou dar continuidade aos estudos e outros dois iniciarão carreira em grupos brasileiros. Até o ano passado, o número de bailarinos da instituição que partiram para fora do país chegava a 37.
Para Amanda, contratada em julho pela Ópera da Cidade de Kazan, na Rússia, a crescente valorização dos talentos formados em Joinville é resultado do bom desempenho dos primeiros a ingres- sarem no mercado internacional, três ou quatro anos atrás.
– Quando comecei a viajar para concursos e audições, em 2010, quase ninguém sabia ou entendia por que havia uma filial do Bolshoi no Brasil. Um ano depois as pessoas da área já reconheciam a escola – diz.
Sonhos transformados em profissão
Amanda Gomes tem talento e carisma de estrela – com direito a fã-clube. E não é à toa que conquista admiradores e prêmios por onde passa. Um longo caminho, porém, teve de ser percorrido até adquirir esse status. A jovem mudou com a família de Goiás para Joinville há 10 anos, formou-se na Escola Bolshoi há dois, quando passou a integrar a Cia Jovem da instituição.
Em paralelo, ela também buscava espaço no mercado internacional. Chegou a receber propostas de companhias em Miami, Chicago e Zurique. Mas achou que não era a hora:
– Entrei no Bolshoi com o objetivo de trabalhar fora do país, só que adiei meu sonho. Fiz audições, porém sabia que precisava esperar o momento certo. Não queria sair por impulso. As minhas referências sempre foram os bailarinos russos. Era para lá que queria ir.
O momento chegou em julho, com o convite da Ópera da Cidade de Kazan, para onde Amanda embarcou na segunda-feira. Ela é hoje a mais jovem e também a única brasileira a integrar o corpo de baile da companhia russa, que é muito exigente quanto à presença de estrangeiros – são apenas cinco em um elenco de 80.
– Desde que descobri que bailarina era uma profissão, decidi que era o que queria. Mesmo com todas as dificuldades fui me apaixonando ainda mais pela dança – conta a goiana de 19 anos.
Ela recebeu o diploma aos 16. Por causa do bom desempenho, não precisou completar dois dos oito anos necessários para a formação em balé clássico. Também foi a bailarina mais nova a fazer parte da companhia semiprofissional da escola.
– A Cia. Jovem foi muito importante para mim. Aprendi a perder o medo de errar e o amadorismo – lembra.
Com a instituição, Amanda já participou de espetáculos no Brasil e no exterior. Foi Bailarina Revelação no International Ballet Competition, em Jackson (EUA), e garantiu o primeiro lugar na Competição Internacional de Balé em Istambul, na Turquia. No Youth America Grand Prix (YAGP), em Nova York, levou reconhecimento como Melhor Pas de Deux. Ganhou ainda diploma de mérito por ter participado da final do 7º Moscow Ballet Competition, na Rússia. Foi no país que também conquistou medalhas de ouro, prata e bronze no Russian Open Ballet Competition “Arabesque – 2014”.
“Nossa escola visa o emprego”
O diretor geral da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, Pavel Kazarian (foto acima), acredita que a recente onda migratória de bailarinos para o exterior é um indicador de qualidade e a concretização de um dos maiores objetivos da filial do balé russo em Joinville.
– Todos sabem que nossa escola visa o emprego. Transformamos sonhos em salários – afirma.
Como a maioria dos alunos vem de famílias de baixa renda, a responsabilidade da instituição aumenta ainda mais. Além de orientar sobre audições e vagas em companhias nacionais e internacionais, há dois anos a filial implantou o estágio não obrigatório para que os estudantes do último ano possam ter contato com grupos profissionais. O bailarino Cosme Gregory, formado pela instituição, é um dos exemplos bem-sucedidos. Ele foi contratado pela Focus Cia. de Dança, do Rio de Janeiro, por meio do programa.
O joinvilense Alencar Reinhold Brauer Neto, 20 anos, integra a lista de 13 talentos que se despedem da cidade. Ele embarca em setembro para Vancouver, no Canadá, onde passará a atuar na companhia de dança contemporânea Lamondance. Como está cursando o último ano no Bolshoi, ainda terá de concluir as provas para receber o diploma.
– A oportunidade surgiu durante um seminário em Brasília. Estou muito animado, será minha primeira experiência longe da minha cidade – revela o bailarino.
No grupo que parte para o exterior estão também alunos mais jovens, como Milena Lopes Marafioti Martins, 15 anos, de São José. Ela ainda não concluiu o curso de balé clássico, mas deixará o país neste mês para ingressar na Joffrey Ballet School, em Nova York, posicionada entre as melhores escolas e academias de dança do mundo.
Segundo Kazarian, a saída prematura não é incentivada, mas ele entende que é natural que cada vez mais os alunos queiram se aproximar de locais onde o mercado de trabalho é mais fértil.
– Muitos voltarão para o Brasil daqui 15, 20 anos e serão ótimos professores, não só para a escola, mas para todo o país – avalia.
Grupo RBS Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - ©
2009
clicRBS.com.br Todos os direitos reservados.