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Itapema FM  | 26/08/2014 09h45min

Paul Bloom faz palestra a partir das 20h nesta quarta-feira

Canadense é conhecido pelos estudos sobre desenvolvimento cognitivo

Paul Bloom, 50 anos, cientista canadense e docente da Universidade de Yale (EUA), desembarca em Florianópolis nesta quarta-feira para encerrar o ciclo de altos estudos Fronteiras do Pensamento.

Considerado um dos maiores teóricos sobre o aprendizado, suas pesquisas exploram como as pessoas percebem o mundo físico e social. Por telefone, ele concedeu a seguinte entrevista:

Um dos seus campos de estudo é a moral. Hoje existem sociedades complexas e, particularmente, em cidades cosmopolitas, pessoas de diferentes lugares e religiões convivendo. Nesse contexto, como se conseguir um consenso entre o que é moral e o que é imoral?
Essa é uma grande pergunta. Um dos argumentos que uso no meu trabalho é que temos uma moral que veio e evoluiu de nossa própria natureza - até mesmo os bebês têm moral. Mas ela evoluiu diferentemente em cada um dos pequenos grupos existentes. Mas neste mundo moderno - com pessoas de diferentes culturas e origens vivendo todas juntas - nossa inclinação moral não é suficiente para manejar os problemas que vão surgindo. Sendo assim, parte da resposta para essa pergunta é que nós devemos utilizar nossa imaginação e nossa inteligência para transcender essa moral. Como um simples exemplo, desde que se nasce em muitas culturas as pessoas recebem informações de que o seu grupo ou etnia é melhor do que outros, mas em uma sociedade cosmopolita podemos ser suficientemente inteligentes para dizer: fomos moldados para pensar dessa forma, mas escolhemos não agir assim. Desse modo conseguimos transcender esse vício que nos foi colocado durante a vida.

Você tem um trabalho recente que fala justamente sobre a moral nos bebês. Mas como isso é possível? Você acredita que a moral é algo biológico?
Eu acredito que ela tem uma ligação com a nossa biologia. Acredito que se não tivéssemos a noção de bom e mau, de certo e errado, nunca conseguiríamos desenvolver qualquer senso de moral. Então, vemos que a moral é em parte biológica, mas eu argumentaria que não totalmente. Muito do que pensamos ser moral agora é o resultado das nossas evoluções culturais e outras coisas que vão além das nossas capacidades originais naturais.

Mas como decidimos o que é justo e o que não é?
(Risos) Essa resposta eu não tenho. Como psicólogo, posso explorar o que as pessoas naturalmente acreditam ser justo e diferentes noções do que é justiça em diferentes culturas. Por exemplo: em culturas como a americana ou a brasileira há pessoas que enxergam a justiça como igualdade. Então, uma sociedade justa seria aquela em que todos têm praticamente o mesmo. No entanto, outras vão pensar na justiça em termos de oportunidades. Assim, uma sociedade justa seria aquela em que todos teriam as mesmas oportunidades de alcançar o sucesso, mesmo que os ganhos de cada um sejam muito diferentes. Essas são duas intuições muito diferentes. O que posso falar é sobre como cada pessoa chega a uma dessas duas conclusões, mas responder o que é certo é uma habilidade que não tenho.

Você também pesquisa sobre o prazer. Como ele funciona? Existe algum modo de encorajar alguém a gostar de algo?
Há prazeres que são da nossa natureza, dos quais a evolução nos fez gostar. Prazeres como sexo e aqueles sentidos com determinados tipos de comida e bebidas - até mesmo certos tipos de música e arte. E a cultura pode mudar isso. Por exemplo: muitas pessoas não nascem gostando de música clássica ou arte moderna, porém em determinado ponto passam a gostar e a ter prazer em ouvir ou apreciar. Mas obviamente há limites para isso, algumas coisas nunca serão prazerosas. Provavelmente as pessoas nunca gostarão do barulho da estática ou de comer poeira. Isso não faz sentido ao nosso sistema natural. Então, parte do prazer nasce conosco, mas outra é mais profunda. O prazer que você recebe de algo não é apenas causado por alguma coisa, mas também pelo que você acredita que essa coisa é. Então, um vinho tem um gosto melhor se é mais caro, uma pessoa parece mais bonita quando você gosta dela. Nesse sentido, podemos ser influenciados. Podemos aprender a gostar de algumas coisas que previamente não gostávamos.

Mas como nossas crenças podem influenciar a sensação de prazer?
Acredito que quando respondemos a algo, não respondemos apenas à sensação física. Não é apenas como parece, mas também como acreditamos que isso é ou parece. Por exemplo: quando você olha para um rosto, não o acha atraente por suas medidas geométricas, pelo tamanho do nariz ou afastamento dos olhos. O determinante é a quem você pensa que aquele rosto pertence. A maioria das pessoas têm certeza que seus filhos são lindos, por exemplo. E acredito que isso é porque eles sabem que são seus filhos.

Como psicólogo, você acredita em alma? Qual seu ponto de vista sobre religião?
Costumo responder da seguinte forma: depende do que você acredita por alma. Existe uma noção que acredita que ela é independente do corpo, algo que não é físico, que pode pensar e sentir, mas que não é parte do cérebro. Acredito que essa não é uma noção correta. Existe sim, uma outra noção de alma, que é em parte o que viemos falando. Nosso prazeres, nossas dores, nossas decisões, nossas atitudes morais _ e isso é muito real. Então, se você pensa em alma como uma coisa biológica, não há razão para negar a sua existência. Sobre a religião, a questão é muito mais profunda. Nem tudo na religião é relacionado à crença, mas sim com a prática, com associações. Não é uma questão de ser verdadeira ou falsa. Se as pessoas têm prazer ou satisfação em ir a uma mesquita, a uma igreja ou a uma sinagoga, como cientista, não posso dizer que isso está errado.

PROGRAME-SE
O quê: psicólogo canadense Paul Bloom encerra o Fronteiras do Pensamento 
Quando: hoje, às 20h
Onde: Teatro Pedro Ivo (Rodovia SC 401, 4600, km 05, Saco Grande, Florianópolis) Quanto: R$ 40, R$ 20 (meia), à venda no Blueticket
Informações: www.blueticket.com.br

Ricardo Duarte / Agencia RBS

"Temos uma moral que evoluiu da nossa própria natureza", diz Bloom
Foto:  Ricardo Duarte  /  Agencia RBS


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