Notícias

Itapema FM  | 25/08/2014 23h58min

"É preciso desemparedar o pensamento", afirma escritor moçambicano Mia Couto em Florianópolis

Fala de um dos autores mais consagrados do continente africano abriu, nesta segunda-feira, ciclo de palestras do Fronteiras do Pensamento

Atualizada em 26/08/2014 às 09h16min Gabriel Rosa  |  gabriel.rosa@diario.com.br

Reconhecido por construir complexas relações poéticas em suas narrativas, o moçambicano Mia Couto aproveitou a palestra que proferiu em Florianópolis na noite desta segunda-feira para falar em destruição – da linguagem, do pensamento pronto, das paredes invisíveis que contruímos diariamente ao nosso redor.

— O maior obstáculo para o pensamento é o próprio pensamento, construído ao longo do tempo. Pensar que se sabe é quase sempre tão perigoso quanto não saber — explica Couto.

O evento no Teatro Pedro Ivo, no Norte da Ilha, abriu o ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento, que também contará com a presença do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis nesta terça-feira e do psicólogo canadense Paul Bloom na quarta. Os ingressos para a palestra de Nicolelis estão esgotados e, na noite desta seugunda-feira, restavam poucos para a de Bloom.

:: Entrevista: "Venho da poesia e permaneço nela quando escrevo prosa"
:: Crítica: "Mia Couto é uma tempestade de lirismo", analisa colunista

Mia Couto é considerado um dos escritores mais relevantes de Moçambique e da África. Estudou Biologia, foi jornalista, lutou pela independência de seu país natal e, no ano passado, recebeu o Prêmio Camões das mãos dos presidentes de Portugal e do Brasil. Aos 59 anos, o moçambicano nascido em Beira publicou 27 livros entre contos, crônicas e romances.

O autor recebeu a reportagem cerca de uma hora antes da palestra, quando pelo menos 50 pessoas já formavam fila na porta do auditório.

— Espero que estejam aqui pela obra, e não por mim. O autor não deve ter importância — brinca.

Sem pestanejar na hora de formular respostas, Couto parece ter soluções prontas para quaisquer problemas apresentados a ele. Conversou sobre o tema da palestra, política e cultura africana. Embora Brasil e Moçambique compartilhem um idioma em comum, o escritor acredita que o interesse dos brasileiros ultrapasse, e muito, as barreiras da linguagem.

— É também uma questão de realidade. Nós [Brasil e Moçambique] não precisamos nos explicar muito um para o outro, e mesmo assim nos entendemos perfeitamente, pois vivemos situações próximas. A pior coisa do mundo é precisar explicar uma piada para quem não entende.

O escritor subiu no palco às 20h e, por pouco mais de uma hora, dissertou sobre a herança da África às sociedades modernas e criticou as "paredes invisíveis" que o ser humano insiste em continuar edificando ao seu redor. Estas fronteiras, segundo Couto, são antigas heranças cujas procedências já nem lembramos mais. Por isso a necessidade urgente de "desempareder o pensamento" – tirar as ideias de seus lugares-comuns.

— O lúdico é sempre jogado para o lado do improdutivo, do desnecessário; mas quem inventou esta "parede" que separa as obrigações do lúdico? Temos que manter em mente que o criar é irmão gêmeo do brincar.

Programe-se para o Fronteiras do Pensamento*

O quê: conferência com Paul Bloom
Quando: quarta-feira, às 20h
Onde: Teatro Pedro Ivo (Rodovia SC-401, km 5, 4.600, Saco Grande, Florianópolis)
Quanto: R$ 40 e R$ 20 (meia), à venda no site da Blueticket
Informações: (48) 3216-3432

*Os ingressos para a palestra Miguel Nicolelis, nesta terça, estão esgotados.

Cristiano Estrela / Agencia RBS

Após palestra, Couto também respondeu perguntas da plateia
Foto:  Cristiano Estrela  /  Agencia RBS


Comente esta matéria
Sintonize a Itapema em Florianópolis 98.7, em Joinville, sintonize 95.3

Grupo RBS Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2009
clicRBS.com.br • Todos os direitos reservados.