A vida anda corrida. É interessante, por vezes, parar um pouco. Desligar os pequenos computadores que carregamos no bolso, esquecer da lista de compromissos e escutar Mia Couto, por exemplo. Mia Couto deve ser o autor africano mais reconhecido de nosso tempo. De longe, parece um escritor alemão, mas é "mulato por existência". Diz que escreve para ser feliz. Para fazer "adormecer o mundo que parece doente". A frase pode soar pessimista, mas não é o caso de Mia Couto. O pessimismo é um luxo para os mais ricos, afirma ele, com humor.

Seu tema é a complexidade. Lutou pela independência de Moçambique, mas sabe que a revolução deu em quase nada. Há tudo ainda por ser feito, mas isso não é problema. Nunca quis, nem precisou, trocar Maputo por Lisboa para ser um cidadão do mundo.

No ano de 2013, recebeu o Prêmio Camões das mãos dos presidentes de Portugal e do Brasil. Acha interessante ser lido pelos estudantes brasileiros em centenas de escolas pelo país, mas teme se transformar em mais uma chatice da época de colégio. Para ele, a literatura deve ser um prazer. E haverá maneiras para que isso aconteça.

Mia Couto expressa bem o espírito do Fronteiras do Pensamento. Antes de tudo, a independência intelectual. Quem sabe mesmo a provocação. A boa provocação das ideias. Em certa medida, a recusa do politicamente correto. Mia tem um profundo compromisso com a justiça, mas é um crítico das cotas raciais.

Elas mais aviltam quem as recebe do que produzem emancipação. Sugere uma mudança mais radical, de atitudes. Para a África, sugere abandonar o "coitadismo", a ideia de que "o culpado sempre são os outros" e de que o sucesso "pode não vir do trabalho". Seu tema, um debate sobre valores. O que diz sobre a Moçambique, ou sobre a África, quem sabe, possa nos dizer muito sobre o Brasil.

E, sobre o Brasil, como um soco no estômago, poucos nos dirão mais do que Miguel Nicolelis. Cientista brasileiro, mais reconhecido no exterior do que em seu próprio país, lidera o mais avançado projeto internacional de pesquisa sobre neuropróteses. Afora isso, construiu o Instituto Internacional de Neurociências de Natal, no Rio Grande do Norte. Seu ídolo é Santos Dumont.

Quem sabe o inventor do avião, que assombrou Paris a bordo do 14 Bis, em 1906, possa servir de inspiração a milhares de estudantes brasileiros, incentivando o amor pela ciência, pela inovação, pela literatura e, também, a coragem para romper paradigmas?

Tudo isso pode parecer um pouco sonhador, mas é perfeitamente real. Quem tiver o privilégio de escutar a conferência de Miguel Nicolelis, saberá porquê.

Fica aqui o convite para o Fronteiras do Pensamento Florianópolis.

Programe-se

Fronteiras do Pensamento

O quê: conferência com Paul Bloom (ingressos para as palestras de Mia Couto e Miguel Nicolelis, dias 25 e 26, já esgotaram)
Quando: dia 27, às 20h
Onde: Teatro Pedro Ivo (Rodovia SC-401, km 5, 4.600, Saco Grande, Florianópolis)Quanto: R$ 40 e R$ 20 (meia)
À venda no Blueticket.
Informações: (48) 3216-3432