| 19/08/2014 06h02min
“Não pode ser jogado no lixo”
Fernando Cesar Sossai, professor de história
Eleição não é só voto. Para Fernando Cesar Sossai, professor de história da Universidade de Joinville (Univille), a escolha de bons candidatos é muito anterior ao momento decisivo das urnas e se faz no debate, com informações sobre as propostas. Quem defende o fim ou reclama da propaganda eleitoral pode reunir três características: ter uma “formação política incipiente”, desejar “não debater” e ser “vítima do cansaço” político.
O professor defende que o horário político “não pode ser jogado no lixo”. Esse espaço na TV e no rádio é “importante porque traz informações sobre a construção da democracia”. Cada propaganda é uma oportunidade de compreender o que cada candidato pensa sobre cidadania e democracia, além de ser o momento de saber como pretendem agir.
Se a propaganda é um mecanismo político e televisão e rádio são potências, como argumentou Sossai, vale a pena ser mantido o horário da propaganda eleitoral gratuita. Mas esse horário, explica, promove a difusão da informação e não o esclarecimento. Mais importante do que saber é articular as informações atuais com as de trajetória do candidato.
“Não acredite em tudo”
Marco Camargo, redator publicitário
Depois da propaganda política, o eleitor deve se colocar uma interrogação. O questionamento contribuirá para que o cidadão veja além de toda a “cosmética” de uma campanha eleitoral. É nisso que acredita o redator publicitário Marco Camargo, que trabalha em campanhas políticas há 35 anos.
Por muito tempo, o trabalho de Marco foi escrever e criar campanhas a partir de estratégias estabelecidas por um marqueteiro. Ele costumava desenvolver materiais a partir dos motes de campanha, que podem englobar temas que vão desde saúde aos direitos femininos. Como redator, precisava convencer as pessoas. A propaganda eleitoral é o lugar do convencimento.
Marco lista algumas atitudes importantes do eleitor antes de definir o candidato escolhido: trocar ideia com outras pessoas; averiguar informações; não se deixar levar pelas emoções; e consultar a vida pregressa do candidato. A providência mais importante é duvidar.
— Não dá para acreditar em tudo, como em tudo na vida. É muito saudável colocar um ponto de interrogação nas coisas — aconselha.
“Não é perda de tempo”
André Luiz Horski, presidente da Comissão de Moralidade Pública da OAB de Joinville
— A propaganda eleitoral é a grande vitrine para o eleitorado, mas o eleitor não pode ficar cego e preso à campanha, porque ela só mostra os pontos positivos de um candidato e os negativos de outro — argumenta André Luiz Horski, presidente da Comissão de Moralidade Pública da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Joinville.
Nestas eleições, o contato entre candidatos e eleitores “é menor” se comparado à campanha para prefeito e vereador, lembra o advogado. Uma forma de aproximação é pesquisar sobre o passado político. Pesquisa e propaganda se complementam.
— A maioria pensa que é, mas não é perda de tempo — diz Horski.
O sucesso pessoal e a vida pública e social precisam também ser levados em consideração na pesquisa sobre o candidato. Buscar informações contribui para “diminuir o voto por continuísmo”, de forma que o eleitor escolha pela fidelidade do candidato às propostas e não à figura construída por marqueteiros.
Ninguém pode ter certeza de que não está sendo iludido por apertos de mão e sorrisos engessados, mas todos têm acesso à informação. Horski usa a internet para se informar.
“Não é o principal”
Affonso Ghizzo Neto, promotor de justiça
O promotor de justiça Affonso Ghizzo Neto recomenda que o eleitor assista à televisão, ouça o rádio para conhecer candidatos e que depois pesquise para escolher. Mais importante é buscar o passado.
— A internet se destaca à frente da TV e do rádio — diz ele sobre a possibilidade de conhecer a história dos candidatos, lembrando que “a propaganda eleitoral não é o principal”.
Ao olhar para a história dos políticos, Ghizzo Neto lista duas providências a serem tomadas: verificar a vida pública e comunitária e a viabilidade das propostas. Esse tipo de atitude evita que o eleitor caia em armadilhas, como a dos candidatos que se preocupam mais com a plástica das proposições e “pegam uma receita de bolo pronto e jogam na proposta”. Equívocos e propostas sem pé nem cabeça não passariam pelo filtro de quem pesquisa.
Afonso sugere questionar. O candidato escolhido já foi político? Que cargos ocupou? Esteve envolvido em casos de corrupção? Foi premiado em ações comunitárias? É líder comunitário?
O promotor reconhece, porém, que a maioria dos eleitores não acompanha a propaganda eleitoral.
Fernando Cesar Sossai, Marco Carmargo, André Luiz Horski e Affonso Ghizzo Neto
Foto:
Arte sobre fotos de arquivo
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