Com estreia hoje no circuito, o road movie Uma Dose Violenta de Qualquer Coisa é, ao mesmo tempo, um filme de gênero e um típico exemplar do novíssimo cinema nacional, este que é praticado em grande parte por realizadores jovens que não querem saber de concessões, mesmo que a eles esteja restrita uma parcela ínfima do mercado.

Bom diretor de curtas (como Danae) e do longa Nove Crônicas para um Coração aos Berros (2012), o brasiliense Gustavo Galvão assina este filme sobre o encontro de um sujeito de 30 e poucos anos que fugiu de sua vida ordinária (Vinícius Ferreira) com um misterioso viajante com pinta de contraventor (Marat Descartes) que faz da estrada a sua casa.

Um está deslocado, à procura de um lugar no mundo – algo que, há uma certa tradição nos títulos desse tipo, a viagem pode ajudar a alcançar. O outro parece confortável com a condição de transitoriedade das coisas. Será isso mesmo?

Em parte, o fim do filme responde a questão. Mas, como também já se tornou habitual nos longas da geração que despontou no cinema brasileiro no século 21, há alguma dúvida acerca do percurso percorrido pelos personagens.

A resolução da trama é o seu ponto alto. Gustavo Galvão não atravessa o caminho sem (pequenos) solavancos, mesmo nas participações de ótimos intérpretes, casos de Maria Manoella e Leonardo Medeiros, prejudicados por alguma artificialidade dos diálogos (sobretudo os deste último, que encarna um traficante paraguaio).

Uma Dose Violenta de Qualquer Coisa tem um título derivado de Allen Ginsberg, que define ao mesmo tempo a ânsia por emoção do garoto fujão e o impacto da estrada sobre sua vida. É duplamente feliz (o título, mais do que o personagem), e não é o único insight digno de nota: é de Brasília que o protagonista quer escapar, dado que se presta a correlações as mais diversas.

Por último, mas não menos importante: preste atenção à trilha sonora jazzística marcada por improvisações representativas da busca de liberdade que, afinal de contas, é o que resume o filme como um todo.

Uma Dose Violenta de Qualquer Coisa
De Gustavo Galvão
Com Vinícius Ferreira, Marat Descartes, Leonardo Medeiros e Maria Manoella
Drama, Brasil, 2013, 96 minutos, 16 anos.
Estreia nesta quinta-feira no Espaço Itaú e na Cinemateca Paulo Amorim, em Porto Alegre.
Cotação: 3 estrelas (de 5).