Autor de livros que venderam mais de 150 milhões de cópias, Paulo Coe­lho tem uma trajetória, em si, digna de best-seller. Não é por acaso que Não Pare na Pista, cinebiografia que chega nesta quinta-feira aos cinemas de todo o país, tem o subtítulo A Melhor História de Paulo Coelho: filho rebelde que tentou o suicídio, ele saiu de casa brigado com o pai conservador, foi editar revistas alternativas e transar drogas e rock’n’roll, quando conheceu Raul Seixas e com ele assinou composições históricas como Sociedade Alternativa e Gita.

A consagração literária veio em 1987, quando, depois de um retiro e uma peregrinação de 700 quilômetros da França até Santiago de Compostela (na Espanha), publicou O Alquimista. Não Pare na Pista se concentra no período que vai da infância problemática até este que foi o seu primeiro fenômeno editorial, ainda que várias sequências mostrem o autor em 2013, aos 66 anos, revisitando o Caminho de Santiago.

Ator de Cão sem Dono (2007) e Hotel Atlântico (2009), Júlio Andrade interpreta o escritor na fase adulta e também na maturidade, conseguindo se expressar através da pesada (e eficiente) maquiagem preparada por técnicos espanhóis (trata-se de uma coprodução Brasil-Espanha). Seu irmão Ravel, estreante em longas-metragens, vive o mago quando jovem.

– O Júlio foi sugerido pelos produtores – relata o diretor Daniel Augusto, que aqui está à frente do segundo longa (o primeiro é Amazônia Desconhecida, de 2013).

– Desde os primeiros testes com o Ravel, fiquei convicto de que os dois irmãos trabalhariam juntos.

Mestre em Literatura Brasileira, Augusto foi convidado a dirigir Não Pare na Pista pela roteirista e também produtora Carolina Kotscho (de 2 Filhos de Francisco e Flores Raras). O realizador não usa o termo "injustiçado" para falar de Paulo Coelho, mas classifica como "inadequado" o tratamento que a intelectualidade dedica ao autor:

– A crítica não o estuda a fundo.

Hoje com 42 anos, Augusto leu O Alquimista aos 15 e diz que já ouvia o LP de Gita (1974) aos quatro, "quando ele era um estouro". Nem por isso fez um longa chapa-branca. O que torna Não Pare na Pista um filme irregular é menos a direção de cena (os Andrade estão bem) e mais a construção narrativa: suas muitas idas e vindas no tempo deixam a trama sem momentos de clímax, além de esconderem a caretice de sua abordagem – o que não combina com os episódios relatados.

Pode virar um grande sucesso de audiência, ainda que seus autores prefiram não fazer previsões neste sentido. Diz Augusto:

– Acho que o filme dialoga bem com o grande público. Sei que as pessoas têm preferido as comédias nacionais, mas o mundo não é tão engraçado assim. Há gente disposta a ver outras coisas, acredito nisso.

As transformações de Júlio Andrade

Não é a primeira vez que o ator gaúcho Júlio Andrade, 37 anos, vive um personagem da cultura pop do país. Em 2009, ele interpretou o cantor Raul Seixas na série da TV Globo Por Toda a Minha Vida. E, em 2012, foi o músico Gonzaguinha no filme Gonzaga – De Pai pra Filho. Agora, no longa Não Pare na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho, encarna o autor de O Alquimista quando este era um jovem adulto, nos anos 1980, e também em sua fase atual. Curiosidade: a maquiagem que o deixou parecido com o Paulo Coelho de hoje era produzida ao longo de seis horas, todos os dias, no set de filmagens. Confira as imagens no trailer acima.

Não Pare na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho
De Daniel Augusto
Com Júlio Andrade, Ravel Andrade, Fabíula Nascimento, Enrique Diaz, Paz Vega e Lucci Ferreira.
Drama, Brasil/Espanha, 2014, 112 minutos, 16 anos.
Estreia nesta quinta-feira no circuito.
Cotação: 2 estrelas (de 5).