Itapema FM | 25/07/2014 10h25min
A Editora Objetiva planeja lançar até o fim do ano Noites Lebloninas, o livro de contos que João Ubaldo Ribeiro deixou inacabado. O diretor-geral da editora, Roberto Feith, ainda acertará os detalhes com a viúva, a psicanalista Berenice Batella, que já afirmou a intenção de publicar os últimos escritos do marido.
– É um presente dele para os brasileiros, para quem gosta de ler e de rir. Ele deixou dois contos absolutamente finalizados, fantásticos, deliciosos, e estava escrevendo o terceiro. São muito engraçados e leves. Li e fiquei apaixonada. Tenho certeza de que ele queria que o povo lesse. Não são necessariamente contos que deem um livro, mas é questão de o editor ver. Por mim, o livro sai. Faço questão – garantiu Berenice em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo.
Casados há 34 anos, Berenice era a primeira leitora de João Ubaldo.
– Ele me dava para ler e ficava olhando qual seria a minha reação – lembra.
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Segundo o poeta Geraldo Carneiro, amigo que tinha acesso liberado a seus originais desde A Casa dos Budas Ditosos (1999), Noites Lebloninas remete a Livro de Histórias, lançado por Ubaldo em 1981, pelo Círculo do Livro, e reeditado pela Nova Fronteira, dez anos depois, com dois novos contos e com o título de Já Podeis da Pátria Filhos e Outras Histórias. Um narrador popular conta causos divertidos, com a diferença que o cenário deixa de ser a ilha baiana de Itaparica, onde o autor nasceu, em 1941, e passa a ser o Leblon, bairro carioca praiano e boêmio onde viveu os últimos 20 anos.
– O narrador é um porteiro nordestino que fala sobre o que vê na vizinhança. Faz lembrar muito o Livro de Histórias, que é uma das obras mais engraçadas da literatura brasileira, no nível de Mark Twain e Monteiro Lobato. Tem um morador gay com um cachorro que o ajuda a farejar possíveis namorados – recordou Geraldinho.
Romancista por aptidão natural e cronista por profissão, Ubaldo pouco escreveu contos em suas mais de cinco décadas de atividade, e não tinha a pretensão de contribuir para o gênero.
– Eu não sou contista. Não é porque considere o conto como um gênero menor. Mas algo me move em direção ao romance – revelou Ubaldo em uma entrevista de 1999 publicada pela edição do Cadernos de Literatura Brasileira, do Instituto Moreira Salles, dedicada à sua obra.
Na entrevista, ele já falava de Noites Lebloninas. O projeto não prosperou, e, de lá para cá, o escritor publicou três romances, três coletâneas de crônicas e um livro infantojuventil. A editora Objetiva sabia da ideia do livro de contos, mas, em se tratando de um autor meticuloso e que costumava levar bastante tempo maturando um texto, não o pressionava.
– A gente tinha plena consciência de que pressionar seria absolutamente impróprio, e sem nenhum efeito. Ele era movido por seu impulso criativo, e muito mais rigoroso com o texto do que qualquer um poderia ser. Os livros chegavam impecáveis – disse Feith.
Foi assim com Budas: entre a encomenda e o e-mail com o texto inteiro pronto anexado foram três ou quatro anos, mas não foi preciso alterá-lo. O livro, o mais vendido da série Plenos Pecados, foi o grande sucesso de Ubaldo na Objetiva: saíram 220 mil exemplares.
A edição comemorativa dos 30 anos de Viva o Povo Brasileiro, o clássico do escritor, no fim do ano, pode servir de mote para a publicação de Noites.
Os contos vão matar a sede dos leitores que vêm procurando mais os livros de Ubaldo desde sua morte há uma semana, de embolia pulmonar, aos 73 anos. A Objetiva teve de fazer uma reposição de emergência em duas grandes redes, Travessa e Saraiva, que receberam livros já no sábado, dia do enterro. Parte já se esgotou e as livrarias fizeram novos pedidos. Nesta semana, Viva o Povo passou a ser o e-book mais vendido da editora (433 unidades); em seguida, vem Budas (200).
Ubaldo demorou a iniciar os contos lebloninos por enfrentar dificuldade de encontrar o narrador apropriado.
– Ele tentou algumas vezes, mas não ficou satisfeito. Adorava o americano Damion Runyon (1880- 1946), que descreveu muito a Broadway, e queria fazer um retrato do Leblon – explicou Geraldinho, que esteve na casa do amigo oito dias antes da perda.
Na ocasião, cobrou de Ubaldo uma autobiografia. Ele lhe respondeu:
– Vou esperar ficar velho para isso.
João Ubaldo Ribeiro tinha 73 anos e faleceu na última sexta-feira, vítima de embolia pulmonar
Foto:
Márcio Kranz
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Divulgação
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