Entre 26 e 28 de julho, artistas e pesquisadores da dança têm mais um ótimo motivo para estarem no Festival de Dança de Joinville: os Seminários de Dança. O evento ocorre no Teatro Juarez Machado (Centreventos Cau Hansen) e arredores, trazendo como tema a convocatória: Deixa a Rua Me Levar!

Neste ano, os Seminários reservam espaço e oportunidadem para a reflexão sobre os caminhos da dança no seu entrelace com a rua, entendendo-a não somente como ambiente exclusivo das chamadas danças urbanas, mas também das danças populares e da dança contemporânea.

Se a rua não nomeia apenas um gênero de dança, é porque ela figura como heterotopia da dança. Nem aqui, nem lá, em um entre-lugar. A heterotopia, conceito do filósofo Michel Foucault, designa um espaço de alteridade, não-hierárquico e não hegemônico, coexistindo nos próprios espaços. Assim, é como heterotopia que a rua, no ensejo deste seminário, torna-se o melhor lugar para interrogar criticamente as políticas de encenação da dança contextualizadas nas poéticas populares e nas poéticas urbanas do movimento. Nos trânsitos de contextos específicos à cena, e vice-versa, a rua nomeia também uma decisão de atravessar as danças pelo pensamento contemporâneo, relevando o papel formativo que o seminário enseja na programação do festival e seu compromisso com o importante e urgente entrelace teoria-prática na dança brasileira.

O mestre-artista Antonio Nóbrega é o homenageado desta edição, mas é ele quem presenteia a programação com uma conferência dançada. Nelson Triunfo, outro grande mestre, também honra os Seminários com a sua palavra-performance em uma entrevista ao vivo conduzida por Gilberto Yoshinaga, autor de sua biografia recém-lançada.

Duas conferências dos professores Fátima Costa de Lima e Pablo Assumpção ajudam a compor o quadro provocativo dos Seminários, enquanto Conversas de Dança reúnem artistas e pesquisadores de ambas as poéticas — Alexandre Snoop, Eleonora Gabriel, Gilberto Yoshinaga, José Clerton Martins, Rafael Guarato e Thiago Amorim – para convivências e contaminações.

Dois espetáculos – Graça (de Andrea Bardawil e Graça Martins) e Mono-Blocos (de Vanilton Lakka e artistas colaboradores) – apresentam sínteses artísticas destes trânsitos, motivo para duas conversas realizadas com os autores nos Estudos de Caso. Pesquisadores apresentam seus trabalhos acadêmicos selecionados no formato de Comunicação Oral ou Pôster, comentados por pesquisadoras especialmente convidadas.

Em sua oitava edição consecutiva, os Seminários de Dança transitam indoors-outdoors destrancando a porta da casa teatral e se deixando atravessar pelo pulso febril das ruas, que tantos movimentos e dizeres contundentes se fizeram ver/ouvir recentemente neste país.

Então está lançado o convite:
Deixa a rua te levar. Vem! 

* Thereza Rocha é coordenadora executiva dos Seminários de Dança. É pesquisadora de dança, dramaturgista e diretora de espetáculos. Doutora em Artes Cênicas pela UNIRIO. Professora dos cursos de graduação em dança e do do Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará (UFC). Autora do livro Diálogo-Dança (Senac, 2012), junto com a filósofa Marcia Tiburi.
 
Quem é Antônio Nóbrega

É músico, dançarino e ator. Nasceu em Recife em 1952. Integrou o Quinteto Armorial na década de setenta. De 1976 a 2013 criou inúmeros espetáculos: A Arte da Cantoria, O Maracatu Misterioso, O Reino do Meio Dia, Figural, Brincante, Na Pancada do Ganzá, Lunário Perpétuo, Nove de Frevereiro, Naturalmente, entre outros. Fundou, em 2012, a “Companhia Antonionobrega de Dança” e, com ela, apresentou o espetáculo Humus.

Conquistou importantes prêmios: Shell de teatro, Tim de música, APCA, Mambembe, Prêmio Governador do Estado de São Paulo para a Cultura 2013 na categoria Dança (júri popular), pelo conjunto da obra de Humus e, por duas vezes, o da Ordem do Rio Branco e do Mérito Cultural. Os seus trabalhos têm sido registrados pelo cineasta Walter Carvalho que prepara atualmente o longa-metragem Brincante, dedicado à sua obra. Foi o homenageado do Carnaval de Recife 2014.