Notícias

Itapema FM  | 21/07/2014 07h02min

O álbum está com os dias contados

Os tradicionais pacotes com 12 ou 16 músicas começam a ser substituídos por singles e EPs

Gustavo Brigatti  |  gustavo.brigatti@zerohora.com.br

Lembra do primeiro LP ou CD que você comprou? Pois é bem provável que seu neto não tenha essa memória. Depois das lojas de discos, tudo indica que outro animal sagrado do ecossistema fonográfico está em vias de entrar em extinção: o álbum.

Leia todas as notícias de Zero Hora
Leia todas as notícias sobre Entretenimento

Claro, não vai ser hoje. Mas a tendência é de que o velho disco, a coleção de faixas que conversam entre si e com o projeto gráfico, muitas vezes reflexo do momento musical e pessoal da banda, se torne artigo de colecionador. O formato, que já passou dos 60 anos, parece não se encaixar nos novos hábitos de consumo de música, que privilegiam, entre outros pontos, qualidade à quantidade.

– Uma faixa incrível é melhor do que 10 faixas medianas – crava Mick Wall, jornalista, crítico e autor de biografias de Black Sabbath, AC/DC e Metallica. – Além disso, o que é um álbum na era digital? O formato físico já não existe mais, não temos lado A e lado B. Então, por que a música precisa continuar a ser vendida dessa forma?

É nisso que estão pensando artistas de renome, como os Rolling Stones. Em meados de 2013, Mick Jagger afirmou que até gostaria de gravar um novo disco de inéditas, mas sabe que não é isso que seu público deseja – por isso, desde 2005, só lançaram duas faixas inéditas, em formato de single.


Vendas abaixo do esperado do seu trabalho mais recente motivaram o Aerosmith a repensar a vida também. Em entrevista à revista Rolling Stone americana, o guitarrista Joe Perry disse que é provável que a banda nunca mais lance álbuns e se concentre apenas em EPs – formato que comporta menos faixas e vem se consolidando nas listas de mais vendidos.

Gente da música pop também não se sente mais motivada a entrar em estúdio e registrar uma dúzia de faixas para depois empacotá-las em CD ou LP. Will.i.am, cérebro do Black Eyed Peas e produtor do primeiro time dos astros da música mundial, acredita que o álbum está definitivamente ultrapassado.

– Um álbum de 16 canções? Eu prefiro gravar 45 vídeos no Vine e prestar atenção em seis segundos – disse, em entrevista ao site Big Top 40, em junho, durante o lançamento de seu single Birthday.

Os números provam que Will.i.am está parcialmente correto. Segundo o último relatório da IFPI, organização que representa as grandes gravadoras do planeta, o comércio de discos físicos continua em queda, mas ainda corresponde a mais da metade das vendas. Entretanto, serviços de streaming (como Spotify e Deezer) e de música digital, que possibilitam a compra e a audição de faixas individuais, não param de crescer – e representam hoje 39% do consumo musical em todo o mundo.

– As pessoas amam música mais do que nunca – comenta Mick Wall. – Novos e velhos artistas devem fazer grandes canções e colocar nos serviços de streaming. Se as pessoas gostarem, virão correndo. Simples assim.

Quando menos é mais

Se o novo modelo de consumo de música prega a economia de tempo, então nada mais coerente do que investir em discos com menos faixas. De preferência, contendo apenas aquelas com potencial para virar sucesso, trabalhadas com afinco junto ao público alvo. É nesse contexto que os singles e EPs vêm ganhando força nas listas de mais vendidos – e se tornando uma alternativa para não deixar a mídia física morrer.

Para o jornalista e crítico britânico Mick Wall, a indústria fonográfica está voltando aos anos 1960, quando álbuns completos não eram nada além de coletâneas dos singles previamente lançados pelos artistas. “Só o que importa hoje são singles, esses três minutos e meio de música. Não há mais necessidade de álbuns”, escreveu ele em seu blog, em junho.

O EP aparece com tudo no Brasil. Segundo relatório da Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), da lista de discos físicos mais vendidos em 2013, os três primeiros foram EPs. Os compactos ficaram à frente de trabalhos no formato tradicional de grandes vendedores, como Luan Santana, One Direction e Anitta.

A cantora Paula Fernandes foi uma das que emplacaram um trabalho neste formato. Seu EP Um Ser Amor ficou em terceiro lugar, atrás dos EPs de Padre Marcelo Rossi e Roberto Carlos. Para ela, o CD com três ou quatro faixas é útil para atingir um número maior de pessoas – já que é mais barato – e trabalhar melhor as músicas. Mas não substitui um álbum completo.

– O EP é um trabalho mais rápido e imediato, acredito que funcione de uma maneira paralela aos outros formatos – diz a cantora, que também ocupa, com álbuns, a quarta e a sexta posições do ranking de mais vendidos.

Paulo Rosa, presidente da ABPD, pontua que o formato deve ser cada vez mais utilizado em épocas de pico de vendas físicas no varejo, como o Natal.

– Para uma banda, com as facilidades de gravar profissionalmente que existem hoje, não faz assim tanta diferença gravar quatro ou 10 canções. O determinante nesse caso será ter ou não 10 ou 12 canções relevantes para compor um álbum ou duas/três para lançar um EP – diz. – Se os Rolling Stones tiverem uma safra de canções como tiveram em, por exemplo, Exile on Main St., tenho certeza de que vão preferir lançar um álbum completo no formato físico.

Mesmo com os números apontando o contrário, Rosa salienta que não há indicação de que os EPs substituirão os CDs a curto prazo:

– Se algum dia esse movimento vai de fato acontecer, estamos ainda longe disso.

SEGUNDO CADERNO
Don Emmert / AFP

Bandas como os Rolling Stones já não acreditam mais no álbum para acomodar suas músicas
Foto:  Don Emmert  /  AFP


Comente esta matéria
Sintonize a Itapema em Florianópolis 98.7, em Joinville, sintonize 95.3

Grupo RBS Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2009
clicRBS.com.br • Todos os direitos reservados.