Itapema FM | 10/07/2014 09h54min
Assim que a exibição do documentário Eu Sou de Lá chegou ao fim no festival Florianópolis Audiovisual Mercosul (FAM), em maio passado, um público comovido aplaudiu por minutos. Boa parte emocionada com a perseverança e vitórias dos universitários africanos que vivem em Florianópolis, outra parte tocada pela forma com que eles literalmente abriram as portas de suas casas para mostrarem seu cotidiano e de alguma forma reconstruir o ele entre Brasil e África. Dirigido pela jornalista Sansara Buriti, o filme foi eleito pelo Júri Popular como melhor curta da Mostra de Curtas Catarinenses do FAM e será exibido hoje na Fundação Cultural Badesc, na Capital.
::: Assista ao teaser oficial:
O curta-doc mostra as histórias dos estudantes vindos de países como Moçambique, Cabo Verde e Guiné-Bissau para estudarem na Universidade Federal de Santa Catarina. Sansara percebeu a existência de uma comunidade de africanos quando se mudou para um bairro próximo a universidade e em 2012 começou a produzir o vídeo.
— A gente aqui no Brasil é muito desinformado sobre África. Parou lá na história da escravidão e não saiu mais disso. A partir desse contato com eles conheci músicas de artistas africanos, passei a ler Ondjaki, Mia Couto, Chimamanda Ngozi Adchie, enfim, todo um universo se abriu — diz a diretora.
Com simplicidade bem honesta, o doc estabelece um diálogo de ideias e imagens que revelam diversos aspectos culturais dos africanos. Inclusive derruba o mito da democracia racial brasileira (muitos estudantes relataram casos de racismo e preconceito), além de trazer à luz um pouco da África contemporânea e seus filhos - uma boa provocação para nós brasileiros não pensarmos no continente apenas como berço dos nossos ancestrais.
Personagens como Jefferson Nefferkturu, graduado em Filosofia pela UFSC e estudante de Música da Udesc, ajudam a traçar paralelos entre seu país, Cabo Verde, e o Brasil. Para ele, por exemplo, a morna cabo-verdiana e o choro brasileiro são ritmos irmãos e compatíveis. Ele integra a banda Congo Brasil Funk, que tem uma música chamada Eu Sou de Lá e inspirou o título do documentário.
— Foi interessantíssimo participar. Foi intimista, ficamos à vontade para mostrar nosso cotidiano e escolher o que gostaríamos de mostrar. Com a cisão das ex-colônias portugueses, a história ficou fragmentada e tudo ficou um pouco no imaginário — diz.
Para passar a sensação de realmente entrar na vida desses estudantes, Sansara deu a eles uma câmera para que ficassem à vontade para mostrarem suas rotinas, sua intimidade em casa, ou filmarem conversas, coisas que gostam de fazer, sonhos e planos.
— Ver o resultado das gravações por eles foi a parte mais legal. Era sempre uma surpresa. Veio um pouco de tudo — conta.
Em vários meses de contato, Sansara e Alan Langdon (responsável pelo roteiro, câmera e edição) reuniram mais de 30 horas de gravação realizadas entre 2012 e 2013. O projeto foi contemplado pelo 7º Prêmio Armando Carreirão, edital de estímulo à produção audiovisual catarinense do Fundo Municipal de Cinema (Funcine).
Hoje, na Fundação Badesc, será exibido também o documentário musical Congo Brasil Funk, do músico Guilherme Ledoux. O curta de 12 minutos conta a história da banda homônima, que surgiu a partir do encontro entre um congolês, um caboverdiano e três brasileiros. O repertório é original e ousado, com músicas cantadas em francês, português e dialetos do Congo.
::: Agende-se
O quê: sessão dupla de cinema com os documentários Eu Sou de Lá, de Sansara Buriti, e Congo Brasil Funk, de Guilherme Ledoux
Quando: hoje, às 19h.
Onde: Cineclube da Fundação Badesc (Rua Visconde de Ouro Preto, 216, Centro, Florianópolis). Após a exibição haverá bate-papo com diretores e equipe
Quanto: gratuito
Cena de festa de estudantes africanos gravada por Sansara Buriti para o documentário "Eu Sou de Lá"
Foto:
Eu sou de lá
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Reprodução
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