Itapema FM | 02/07/2014 08h04min
Torquato Neto foi um poeta mais situado nas letras das suas canções do que nos livros. Em sua abreviada vida, marcou a poesia e a música brasileira _ um dia após completar 28 anos, em 1972, suicidou-se por inalação de gás. Um dos líderes conceituais do tropicalismo, foi parceiro de músicos como Jards Macalé e Luiz Melodia, compondo faixas emblemáticas como Pra Dizer Adeus (com Edu Lobo) e Louvação (com Gilberto Gil). Reverenciado por poetas como Ana Cristina Cesar, Paulo Leminski e Waly Salomão, abriu caminho para uma geração de novos autores nos anos 1970 com sua poética fragmentária e se tornou referência da contracultura no Brasil a partir da coluna Geleia Geral no jornal Última hora, em 1971, e da idealização da revista de poesia Navilouca.
Essa rica trajetória é narrada em A Biografia de Torquato Neto, originalmente lançada em 2005 e que agora ganha reedição ampliada _ o jornalista curitibano Toninho Vaz, também autor da biografia de Paulo Leminski (O Bandido que Sabia Latim), quis relançar o livro que acredita ter passado despercebido à época. Em mais de 400 páginas, apresenta o perfil lírico e conturbado do jovem jornalista Torquato Neto, que, ao mesmo tempo, causa curiosidade e estranheza. Afinal, quem foi esse rapaz, filho único, nascido em Teresina, Piauí, porta-voz da tropicália que rompeu com os amigos baianos e destruiu parte da sua obra literária, foi internado em hospitais psiquiátricos e pensou a poesia para além da página. Mais: provocou o cinema novo e deu régua e compasso para novas expressões poéticas _ era leitor de poesia concreta, Antonin Artaud e Oswald de Andrade e fã de Carlos Drummond de Andrade a ponto de segui-lo pelas ruas de Copacabana. Nenhuma dessas facetas de Torquato escapa do texto minucioso de Toninho Vaz.
O poeta das elipses, dos inesperados curtos-circuitos entre as palavras e da sintaxe descontínua, faria 70 anos neste novembro. Além da reedição do livro de Vaz, está previsto o lançamento de um documentário a respeito de Torquato para 2015. É mais uma chance de mergulhar na obra do autor que tinha, entre suas frases mais conhecidas, este verso do poema Cogito: "Eu sou como eu sou/ pronome/ pessoal intransferível/ do homem que iniciei/ na medida do impossível".
Confira entrevista com o autor:
A figura de Torquato é muito vinculada ao tropicalismo. Isso não acabou abafando outras produções do poeta?
O trabalho do Torquato foi interrompido por sua morte precoce, mas falamos dele até hoje, o que revela a importância da sua incipiente produção intelectual. Para Torquato, a experiência tropicalista se soma a trabalhos feitos com músicos de outras áreas, como Edu Lobo e Nonato Buzar.
O que o senhor mais destacaria da obra de Torquato?
Gosto do conceito criado por ele para a revista Navilouca, reunindo jovens poetas daqueles conturbados anos 1970, todos de vanguarda, incluindo os "professores" Décio Pignatari e Augusto de Campos. A revista, entretanto, só foi editada depois de sua morte. Considero um marco na poesia brasileira.
*Diego Petrarca é poeta e professor de Literatura
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