De faca em mãos, Hannibal Lecter fatia um pedaço de carne na cozinha de casa. Poderia ser mais um dos jantares que o psiquiatra preparou para o agente do FBI Jack Crawford, mas a se-

quência de cenas que o espectador viu a seguir, no primeiro episódio da segunda temporada de Hannibal, mostrou que os dias de amizade entre os dois tinham chegado ao fim. Uma troca de olhares silenciosa culminou em uma luta feroz – cujo desfecho será conhecido pelos brasileiros apenas hoje, 12 episódios depois, com a transmissão do eletrizante final do segundo ano da série no canal pago AXN, às 23h.

Enganou-se quem achou que começar a temporada com cenas do que seria seu fim tiraria o suspense – tão visceral para a história. Pelo contrário: a estratégia somente destacou o brilhantismo do programa criado por Bryan Fuller (de Pushing Daisies e Dead Like Me), baseado na consagrada série de livros de Thomas Harris. Não há nada parecido na TV aberta americana no momento. Até agora, as duas temporadas se concentraram no romance Dragão Vermelho, que foca a escalada da relação entre Hannibal Lecter (Mads Mikkelsen) e o consultor criminal do FBI Will Graham (Hugh Dancy) de amigos próximos a inimigos mortais, literalmente. Se, na primeira temporada, vimos o psiquiatra atormentar Will – que tem a capacidade de compreender a mente de psicopatas e estava na cola do canibal – a ponto de levá-lo à cadeia, na segunda testemunhamos um embate psicológico entre os dois sem saber ao certo, em momento algum, quem está um passo à frente.

Exibida originalmente nas noites de sexta-feira, a atração é sucesso de crítica, muito devido à direção de arte impecável, aos diálogos precisos, às ótimas atuações e ao ritmo que faz com que muitas pessoas a comparem com shows da TV fechada americana – sem falar nas cenas de violência incomuns nos canais abertos. Além disso, Hannibal tem apenas 13 episódios em cada temporada, o que resulta em uma evolução mais rápida da trama central, sem a típica enrolação sentida em boa parte das atrações com um número maior de capítulos por ano.

Desde que estreou, em abril de 2013, Hannibal só melhorou, encerrando o segundo ano com seu melhor episódio – que, na primeira semana após a exibição nos EUA (23 de maio), ostentava a nota máxima no site especializado IMDB (agora, está com 9,9).

O que os críticos tentam entender, porém, é o porquê de uma produção com tanta qualidade ter marcado índices de audiência abaixo do esperado. A boa notícia é que a emissora NBC acreditou, mesmo assim, no potencial do programa, renovando-o para uma terceira temporada, com início em 2015. Se Fuller conseguir emplacar seu plano, Hannibal terá seis temporadas e incorporará outros personagens dos livros de Harris, como Jame Gumb e Clarice Starling, de O Silêncio dos Inocentes.

Esta season finale, contudo, deixa até o espectador mais familiarizado com os livros em suspense para o próximo ano. Uma dica amiga: não desligue a TV quando os créditos surgirem.