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Itapema FM  | 04/06/2014 11h34min

Graciela Kruscinski lança quinta-feira em Florianópolis o romance de autoficção "Margem"

Obra é uma cartografia afetiva do lugar onde ela nasceu, Rio do Sul, cidade às margens do rio Itajaí-Açu. Confira entrevista com a autora

Carol Macário  |  caroline.macario@diario.com.br

“Lembro de brincar num braço do Itajaí-Açu. Fazia aquários efêmeros para peixes pequenos, com pedras. Lembro de ver meus pés através da água”. São as memórias da escritora e artista visual Graciela Kruscinski, que apresenta em seu livro de estreia, Margem, uma cartografia afetiva do lugar onde nasceu, Rio do Sul, Alto Vale do Itajaí. O lançamento será quinta-feira em Florianópolis, na Fundação Cultural Badesc.

Na obra a autora brinca com o romance de autoficção, um conceito que surgiu a partir dos anos 1970 para a mescla em certa medida de autobiografia e ficção. A narrativa de Margem é dinâmica e traz elementos fantásticos, uma poesia pura que ora lembra um poema sobre o nada de Manoel de Barros, 97 anos, ora as escritas heroicas de um e outro livro de Graciliano Ramos (1892 - 1953).

Em Margem quase tudo é fantasia embasada em dados reais que estruturaram a narrativa. Mas, assim como no autorretrato que deu origem à história (realizado com a técnica de dupla exposição na sala escura de um laboratório fotográfico), tudo foi manipulado, embaralhado, repetido ou ofuscado.

O texto, como ela própria define no site criado para o projeto, é embalado por sua relação afetiva estabelecida pelo encontro espaço-temporal entre a casa onde nasceu, em Rio do Sul, o asfalto e o rio, que delimitam sua prosa.

Na região, o que era a rota dos tropeiros foi transformada em rodovia federal, negligenciada e identificada pelo constante número de acidentes, e próxima ao rio Itajaí-Açu com suas populações marginais e a falta de política para seu desenvolvimento. A publicação recebeu o Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura 2013.

Margem, de Graciela Kruscinski. Edição do autor. 128 págs. R$ 25

>> Confira entrevista com a autora:

A narrativa é peculiar, dinâmica, rápida, um tanto fantástica. Você começou a escrever pensando num romance de autoficção ou as narrativas foram brotando?

As narrativas foram brotando. fiz primeiro o retrato e depois a ficção para o retrato. um autorretrato em que apareço duplicada e com o rosto apagado pelo movimento. talvez por isso a fantasia...

O quanto é fantasia, o quanto é a sua história e a história dos outros?

É tudo fantasia. Alguns dados "reais" servem para estruturar minimamente a narrativa. Mas, assim como no autorretrato, tudo foi manipulado, embaralhado, repetido ou ofuscado.

As fotos que aparecem no livro, de quem são?

Algumas fazem parte do processo criativo do autorretrato, experiências feitas naquela época. Outras fiz como registros de viagens e ainda outras coletei em feiras de antiguidades, também viajando.

Fale sobre a região em que você nasceu, o Alto Vale, o que era (a sua lembrança), o que é hoje?

Lembro de brincar num braço do Itajaí-açú. Fazia aquários efêmeros para peixes pequenos, com pedras. Lembro de ver meus pés através da água. Eu tive a sorte de uma infância preenchida de natural em abundancia. O quintal, a rua, o bairro, as outras crianças, tudo se entrelaçava na paisagem rural. Éramos exploradores incansáveis de cada espaço que nos parecia intocado, pois veja, já estava em transformação...

Lembro também do perigo constante das enchentes, de ter que fugir as pressas de casa, abandonar tudo, ou ficar ilhado.

Hoje não sei. Vejo as notícias e escuto o lamento de familiares ainda sobre as enchentes que ocorrem.

O quanto de suas vivências culturais e geográficas estão impregnadas em sua personalidade e no seu modo de ver a vida e fazer arte, no seu livro?

Completamente. Gosto de viajar, de morar um tempo em cada lugar.Principalmente para escrever. Movimentar o pensamento, a forma de pensar.

Quando exatamente você fez o autorretrato e quando deu-se conta da poética embutida no trabalho?

Faz parte de uma série feita em 2008, em duas etapas. A primeira foi numa visita a casa dos meus pais, quando fiz as fotografias. A segunda durante a disciplina de fotografia do curso de artes visuais, quando comecei as experiências com fotomontagem no laboratório de revelação.

Já buscava uma poética enquanto fazia o trabalho, e foi assumindo outras com o tempo. Minha percepção sobre ele muda a cada dia. Ainda mais agora, que tomo conhecimento da resposta de um público desconhecido e variado.

Quantos anos você tem, onde vive hoje, o que faz hoje?

Completo 32 anos no dia 22 de junho. Parei na ilha para parir, estou saindo da "licença maternidade" aos pouquinhos, minha filha completou seis meses hoje. Atualmente escrevo e desenho, mas quando estou viajando e trabalhando como posso, Me adaptando à oferta do lugar. Só não paro de escrever, nunca.

:: Agende-se

O quê: Lançamento do livro margem, de Graciela Kruscinski
Quando: Quinta-feira, 19h
Onde: Fundação Cultural Badesc (Rua Visconde de Ouro Preto, 216, Centro, Florianópolis)
Quanto: Gratuito

DIÁRIO CATARINENSE
Graciela Kruscinski / Reprodução

Autorretrato de Graciela Kruscinski que deu origem ao projeto "Margem"
Foto:  Graciela Kruscinski  /  Reprodução


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