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Itapema FM  | 13/05/2014 10h51min

No disco novo, Adriana Calcanhotto apresenta trabalho conciso

Músicas inéditas, antigos sucessos de seu repertório e canções de outros compositores integram o álbum "Olhos de Onda"

Roger Lerina*  |  roger.lerina@zerohora.com.br

O novo trabalho de Adriana Calcanhotto é conciso: sozinha no palco, acompanhada apenas do violão, a cantora e compositora apresenta duas dezenas de canções para o público. Não há cenário, apenas uma luz branca desafia o breu que cerca a intérprete. No DVD, as imagens fechadíssimas destacam partes do corpo e do rosto da artista – boca, mãos, os pés apoiados em uma pilha de livros encimada por uma antologia de poemas do inglês T. S. Eliot (1888 – 1965). Combinando com os cristalinos olhos, Adriana usa um elegante vestido verde longo.

– Tenho três vestidos para esse show: o verde, que representa o mar gordo, que usei no Rio, um azul-marinho, que é o mar noturno, e um chumbo, que é o mar cinza. Depende da maré – explicou Adriana em entrevista a ZH, concedida em um hotel com vista para o cintilante mar do Leblon.

O CD e DVD ao vivo Olhos de Onda foi gravado pela autora dos discos Maritmo (1998) e Maré (2008) na casa de espetáculos Vivo Rio, no dia 1º de fevereiro deste ano. O vídeo, dirigido por Dora Jobim e Gabriela Gastal, privilegia os enquadramentos cinematográficos, destacando a forte presença cênica de Adriana – realçada pela bela fotografia de Gustavo Hadba. Sob o holofote, Adriana lembra a pintora Tarsila do Amaral.

– Não tinha pensado nisso antes, mas tem um momento do filme em que eu me achei mesmo parecida com ela, com o cabelo repartido no meio e aqueles brincos – reconheceu.

O repertório de Olhos de Onda mistura sucessos de diversas fases da carreira de Adriana, como Esquadros, Cantada, Vambora, Metade e Maresia, canções novas (Maldito Rádio), hits populares (Back to Black, de Amy Winehouse, e Me Dê Motivo), e temas de seus parceiros Antonio Cicero (Três e o hit Inverno), Arnaldo Antunes (Para Lá) e Waly Salomão (Motivos Reais Banais). O gosto pela poesia ainda ganha expressão no trabalho com a música Sem Saída – parceria do poeta concreto Augusto de Campos com seu filho Cid.

Entrevista

“Voltar ao violão não significou ficar na zona de conforto”

Zero Hora - Como surgiu a ideia do show Olhos de Onda?

Nasceu de um convite para eu me apresentar em abril de 2013 dentro da programação de comemoração de 20 anos da Culturgest, sala onde fiz meu primeiro concerto em Lisboa, em 2000. Na época, eu estava voltando a tocar violão depois de um ano e meio, parei por causa da operação (Adriana teve um cisto na mão direita). Quando o convite chegou, estava pensando assim: “Estou pronta para voltar ao violão, portanto, posso não voltar. E se eu encerrar aqui minha carreira de violonista?”. Era como um desafio para sair da minha zona de conforto, de descobrir uma nova maneira de compor. Um momento superinteressante, mas daí chegou esse convite...

Zero Hora - E como foi esse retorno ao violão?

No final das contas, voltar ao violão não significou ficar na zona de conforto coisa nenhuma: tive que reaprender a tocar minhas músicas! Tive que voltar a tocar Esquadros em casa, eu não sabia mais ela inteira. Um pouco antes de Lisboa, fui convidada a fazer dois shows de voz e violão em Luanda. Aceitei ir porque seria uma espécie de aquecimento para Lisboa. Quando cheguei lá, não conseguia tocar as minhas músicas. Todo mundo notou, comecei a rir de mim mesma, as pessoas também... Aí, eu disse: “Não adianta, não sei mais tocar as minhas músicas”. E então alguém gritou: “Então toca as dos outros!” (risos). Ao voltar a tocar, minha interpretação ficou mais no osso, mais no essencial. O cenário do show está no meu corpo: no palco, sou eu e esse instrumento que me acompanha a vida inteira, entre tapas e beijos.

Zero Hora - Portugal acabou influenciando seu repertório?

A canção Olhos de Onda representa isso, falando da lua cheia em Lisboa e na Lagoa, e Seu Pensamento já falava dessa influência antes (“Onde, longe, Londres, Lisboa / Ou na minha cama?”). Lá em Lisboa, eu abria o show com O Outro, poema do Mário de Sá-Carneiro que eu musiquei.

Zero Hora - Sua relação com o rádio fica evidente no show, tanto por conta de Maldito Rádio quanto pela presença de sucessos populares como Me Dê Motivo e Devolva-me. Você gosta de contrastar temas radiofônicos com músicas referenciadas na alta cultura, como a poesia concreta.

Não vejo Me Dê Motivo e Sem Saída como antagônicas no meu repertório. Talvez os autores dessas músicas vejam assim, mas eu não vejo. O que esse show está dizendo é que o que liga essas duas coisas é o rádio. Os meus poetas estão lá, as minhas canções estão lá... E a graça de tudo isso é que a gente nunca sabe qual música vai tocar no rádio. Quando mostrei minhas canções para o meu primeiro diretor artístico, ele disse: “Não adianta, você não é uma compositora”. Por isso, meu disco de estreia (Enguiço, de 1990) só tem duas músicas minhas. Esse negócio de tocar no rádio é uma incógnita.

Zero Hora - Você volta no final do ano a Porto Alegre com um show em homenagem a Lupicinio Rodrigues, em comemoração aos 80 anos da UFRGS.

Lupi no Salão de Atos: não posso me sentir mais em casa do que isso! O (músico) Dadi vai tocar violão comigo. O repertório inclui as canções dele que eu tocava na noite, ainda em Porto Alegre: Nunca, Esses Moços, Torre de Babel, Felicidade, Quem Há de Dizer... As pessoas ficam dizendo: “Olha a Adriana fazendo mais uma coisa diferente”. Por favor, né?

Zero Hora - Como você vê Porto Alegre atualmente?

Eu adoro Porto Alegre! Desde que eu saí (em 1989), Porto Alegre e o Estado tiveram administrações diferentes, que fizeram coisas bacanas e também barbaridades. Mas acho que, no conjunto, a cidade está muito interessante. O projeto do Álvaro Siza para a Fundação Iberê Camargo deu para a cidade uma visão dela que a gente não tinha. A gente estava sempre de costas para aquela maravilha ali naquele caminho. Fiquei apaixonada! Aquele pôr do sol... Se tem uma coisa que eu sinto falta aqui no Rio é que, no inverno, faz “pum!” e já é noite: o sol cai na pedra, acabou. Parece que alguém desliga o interruptor às 17h30min. E em Porto Alegre a gente tem o caiiiiiiiiiiir da taaaaaaaaarde...

Livro, espetáculo infantil, show e sarau: confira como está a agenda da cantora

Haicai do Brasil

*No segundo semestre, a cantora e compositora deve lançar o livro Haicai do Brasil, pela Edições de Janeiro. Com ilustrações da própria Adriana, a compilação de poemas escritos no tradicional formato japonês reúne textos de autores brasileiros conhecidos por exercitarem esse estilo, como Paulo Leminski e Millôr Fernandes, e de escritores não associados ao gênero – caso de Erico Verissimo e Monteiro Lobato.

Pedro e o Lobo + Adriana Partimpim

*O pianista André Mehmari criou arranjos para a obra do russo Sergei Prokofiev (1891 – 1953) e para músicas do projeto infantil da artista. O concerto, com a participação da Osesp, será apresentado em 13 de setembro, no Auditório Araújo Vianna, no 21º Porto Alegre Em Cena.

Poesia portuguesa

*Acompanhada da professora Cleonice Bernardinelli, Adriana canta e diz poemas de Mário de Sá-Carneiro (1890 – 1916). O sarau será em julho, no Real Gabinete Português de Leitura, no Rio.

Prêmio da Música Brasileira

*A artista concorre por sua participação na reedição do disco A Arca de Noé em duas categorias: Melhor Disco Infantil e Melhor Capa. A cerimônia de premiação vai se realizar amanhã, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

São Três

*Adriana dirige a cantora portuguesa Mísia em um show com músicas consideradas por ambas como próximas ao universo do fado e escritas por três compositores brasileiros: Cartola, Dorival Caymmi e Lupicínio Rodrigues. O espetáculo fará a abertura do Porto Alegre Em Cena, no dia 4 de setembro.

Lupicínio Rodrigues (1914 – 1974)

*Em homenagem ao centenário do compositor porto-alegrense e dentro da programação em comemoração aos 80 anos da UFRGS, Adriana vai mostrar um show inteiramente dedicado a Lupi, em uma edição especial do projeto Unimúsica. O espetáculo será apresentado no dia 4 de dezembro, no Salão de Atos da UFRGS.

*O jornalista viajou a convite da gravadora Sony Music

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