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Itapema FM  | 07/05/2014 16h47min

Escritor de Joinville busca inspiração na Amazônia para seu novo livro

Romance Sangue Verde é a nova obra literária de David Gonçalvez

Em toda a carreira de escritor – e lá se vão mais de 40 anos –, David Gonçalves esteve às voltas com um dos extremos do mapa do Brasil. Estava na Amazônia o mote de Sangue Verde, vigésima obra de literatura do escritor de Joinville que será lançada nesta quinta-feira na Livrarias Curitiba do Shopping Mueller. O romance tem como tema central uma cruel constatação: a cobiça leva à destruição.

Na década de 1970, quando o êxodo rural crescia assustadoramente, David atravessou o País em busca de precisão para suas obras e constatou os reflexos dos esforços do governo para povoar o pulmão do mundo. O abandono do campo pela promessa de melhores condições de vida nas indústrias que se expandiam nas cidades resultou em O Sol dos Trópicos e passou também por outras obras do paranaense. No entanto, a destruição em nome do progresso ficou adormecida à espera de tempo e fôlego para ser redigida.

Nos últimos cinco anos, David retomou o tema que absorveu toda a pesquisa que acumulou em mais de 40 anos. O escritor, filho de lavradores, chegou a uma publicação que considera completa, tanto pela linguagem escolhida quanto pela contextualização.

– Eu não queria escrever alguns contos sobre o assunto. Mas uma obra maior. Foi suado, o assunto exigiu muitos esforços. Queria fazer um romance sobre uma Amazônia com suas veias abertas, destruída, em nome do progresso.

Crítica, a narrativa de Sangue Verde é recheada de misticismo, ambições e paixões vivenciadas por índios, fazendeiros, madeireiros, jagunços, políticos e religiosos.

– É um romance de múltiplas personagens. É denúncia, advertência, um grito angustiante da floresta pedindo socorro. As personagens parecem viver num caldeirão de interesses próprios, destituídos de moralidade. Enfim, um universo doentio em formação.

Após o lançamento em Joinville, marcado para às 19h30, o autor deve circular por outras regiões do País. Para este ano, há agenda de divulgação para Goiânia e Recife. Além de escritor, professor universitário e consultor de empresas, David é presidente da Confraria das Letras, movimento cultural alternativo que desde 2011 reúne escritores de Joinville com o objetivo de fortalecer o setor.

O QUÊ:
lançamento do livro Sangue Verde, de David Gonçalves.
QUANDO: quinta, às 19h30.
ONDE: Livrarias Curitiba do Shopping Mueller.
QUANTO: o livro estará à venda por R$ 40.

Entrevista com o escritor

Como é o seu modo de produzir sua literatura? De quais livros seus você mais gosta?
DAVID GONÇALVES –
Bem, cada escritor tem um método, um estilo. Eu preciso vivenciar a realidade primeiro, depois recriá-la num contexto cheio de significados. Não consigo voar só nas asas da imaginação. Quando decido por uma temática, começo a vivenciá-la , e, aos poucos, começo a escrever. É assim com o conto e com o romance. Há livros, como o caso de Águas de outono, que devoraram vinte anos. Enfim, para escrever, eu preciso sentir o cheiro das ruas, das matas, do pó das estradas, das pessoas. Dos livros que mais gosto, por Deus, é difícil de dizer. Três, entretanto, a crítica tem enfatizado: geração viva [contos], O sol dos trópicos [romance] e Acima do chão [romance]. Espero que o Sangue verde, que está sendo lançado, entre na lista também.

Em que situação se encontra a literatura brasileira?
DAVID GONÇALVES –
Alguns profetas falsos têm apregoado a morte da Literatura Brasileira, alguns chegam até dizer que o mestre no momento é Paulo Coelho, o mais traduzido, o mais vendido... Dizem também que a Internet liquidou o livro físico... Entretanto, há autores novos surgindo por todos os cantos do país, usando a Internet como meio de divulgação. E bons! Só para citar: Rogério Pereira [no Paraná], Luiz Ruffato [São Paulo], Jovino Machado [Minas Gerais], José Fernandes [Goiás], os escritores da Associação Confraria das Letras [Joinville, SC], com as miniantologias e a antologia Saganossa. O problema todo consiste na divulgação. Nem sempre os bons autores estão na mídia. Quem não frequenta a mídia, fica no ostracismo.

Quem, no Brasil, está produzindo boa literatura?
DAVID GONÇALVES –
Nossa Literatura é riquíssima.  Há uma geração de escritores invejáveis que se encontra entre os 70 e os 100 anos: Manoel de Barros, Gilberto Mendonça Teles e Antonio Miranda, Adélia Prado, Dalton Trevisan, Flávio Cardoso... Uma outra, entre os 30 e 70, nas várias regiões do país: José Fernandes [Goiás], Artêmio Zanon e Alcides Buss [Santa Catarina], Jovino Machado [Minas Gerais], Luiz Ruffato [São Paulo], Pelegrini Júnior {Paraná}. Só para lembrar alguns nomes. A lista, entretanto, é grande. Enfim, sou um narrador, não sou crítico literário.

Quais são os autores da Literatura Catarinense que você recomendaria?
DAVID GONÇALVES –
A Literatura Catarinense é  preciosa. Temos autores de ponta, a começar por Cruz e Souza, Guido Vilmar Sassi, Tito Carvalho, Virgílio Várzea, Flavio Cardoso, Pinheiro Neto, Urda Alice Klueger, Artêmio Zanon, Péricles Prade, Alcides Buss,  Salin Miguel, Amílcar Neves. Dos autores joinvilenses, Carlos Adauto Vieira, Donald Malschitzky, Hilton Gorresen, Jura Arruda, Dúnia de Freitas...

Qual a importância das Academias? Elas estão cumprindo o seu papel?
DAVID GONÇALVES –
Penso que a primeira função das Academias é cuidar e preservar a Língua Portuguesa, e incentivar a melhor produção literária em cada Estado. Mas vejo que muitas delas estão se tornando uma espécie de “igrejinha literária”, onde há mais advogados e desembargadores e políticos do que bons escritores. Com isso, o que temos? Um marasmo. Até parece que, depois de entrar numa academia, ninguém produz coisa alguma. A sorte dos autores é que não se precisa das Academias para produzir boa literatura.

Fale um pouco sobre o seu novo romance, o “Sangue verde”.
DAVID GONÇALVES –
Na verdade, eu comecei a pensar neste romance há 40 anos, quando comecei a visitar o Cerrado e a Amazônia. Enquanto escrevia outras obras, o assunto foi amadurecendo, até que, em 2008, achei que estava pronto para escrevê-lo. Eu não queria escrever alguns contos sobre o assunto. Mas uma obra maior. Demorei cinco anos para escrevê-lo. Foi suado, o assunto exigiu muitos esforços. Queria fazer um romance sobre uma Amazônia com suas veias abertas, destruída, em nome do progresso. Foi difícil. É um romance de múltiplas personagens. É denúncia, advertência, um grito angustiante da floresta pedindo socorro. As personagens parecem viver num caldeirão de interesses próprios, destituídos de moralidade. Enfim, um universo doentio em formação.

O que significa a literatura para sua vida? É hobby? É compromisso?
DAVID GONÇALVES –
Não é hobby, não. Antes de tudo, é a minha vida. Sem ela, não saberia como viver. Vejo a Literatura como algo maior: através dela, podemos reunir várias ciências ao mesmo tempo – filosofia, psicologia, sociologia, história, geografia, lingüística, antropologia, etc. É conhecimento, é lição de vida, é criatividade, é o jeito do homem expandir sua mente. Por isso, quem lê tem mais capacidade de perceber a vida e o mundo.

A NOTÍCIA
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