As canções do show 40 Anos Depois têm uma espécie de leitura atualizada do que João Bosco sente hoje. Desapegado do tempo, essa invariável fixa das existências, o músico de 67 anos caminha trazendo para a contemporaneidade o máximo de uma época que ficou, sempre experimentando as ideias do agora. Na sexta ele apresenta em Florianópolis as baladas que celebram suas quatro décadas de trajetória artística — depois de um hiato de cinco anos sem shows na Ilha. A apresentação será no Teatro Ademir Rosa, no CIC, com um pocket show de abertura de François Muleka.

A estreia de 40 Anos Depois, lançado posteriormente em DVD, foi em 2013, com um show que reuniu amigos e mestres da música popular brasileira como Milton Nascimento e Chico Buarque. Em entrevista ao Diário Catarinense, por telefone, Bosco relembrou momentos marcantes e definitivos de sua carreira, como o dia em que conheceu o poeta Vinicius de Moraes, seu mentor artístico, e a parceria poético-musical com Aldir Blanc, com quem compôs canções que entraram para a história da MPB, como O Bêbado e o Equilibrista e Agnus Sei. Confira os principais trechos:

:: Agnus Sei é a canção que abre o DVD 40 Anos Depois. Ouça:

Vinicius de Moraes, o mentor

Eu conheci o Vinícius de Moraes em 1967, quando ainda estava entrando para a faculdade de Engenharia em Ouro Preto (MG). Eu já tocava num quarteto musical, fazia arranjos e composições. Mas nunca tinha pensado em música tão objetivamente como no dia em que o conheci. Tem a ver com a poesia dele, o talento, mas sobretudo com a generosidade. Fui à noite até a pousada em que ele estava hospedado em Ouro Preto. Mostrei minhas músicas, conversamos e ali começou um amizade. Naquela mesma noite Vinicius escreveu a letra para uma canção minha. A partir desse encontro passei a olhar a música com mais responsabilidade. Ele foi um mentor para mim.

João Bosco, engenheiro?

Eu estudava Engenharia em Ouro Preto, mas já fazia musica e tocava na noite. Um dos conselhos de Vinicius de Moraes era para eu continuar em Minas. Ele acompanhava meu trabalho do Rio e sempre que voltava a Ouro Preto e ouvia meu repertório, dizia que a cidade fazia bem pra mim. Assim fui ficando e me dedicando à Engenharia, até terminar a graduação. No último ano, 1972, aconteceram dois fatos marcantes. Elis Regina gravou uma canção minha, Bala com Bala, e fui convidado a participar do projeto Disco de Bolso, do semanário O Pasquim, em que um músico consagrado apadrinhava um iniciante. Meu padrinho foi Tom Jobim — no lado A ele gravou Águas de Março e no lado B tinha Agnus Sei, canção minha e de Aldir Blanc que abre o DVD 40 Anos Depois. Em 1973 eu já estava no Rio e comecei a gravar o primeiro disco.

Amigo e parceiro: Aldir Blanc

O Aldir Blanc eu conheci em Ouro Preto, no final dos anos 1960. Ele tinha um amigo que morava por lá e que já tinha me visto tocar. Eu apresentava músicas minhas que não tinham letra. Ele um dia veio conversar comigo, falou de um amigo que gostaria de me apresentar. Algum tempo depois levou o Aldir para Ouro Preto, mostramos nossas composições, tocamos juntos e as nossas primeiras músicas surgiram nessa época. A parceria continua até hoje.

Tempo, uma incógnita na vida de quem cria

Meu tempo é o do Dorival Caymmi, tempo em que gênero e estilo não se definem muito bem. O tempo (passado, presente, futuro) continua uma grande incógnita na vida do criador, é sempre uma equação difícil de traduzir. Minha intuição é tudo que tenho, e prefiro deixá-la agindo e me guiando através das épocas. Para criar coisas novas, deixo o coração e a intuição falarem.

:: Agende-se

O quê: show 40 Anos Depois, com João Bosco
Quando: sexta, às 21h
Onde: Teatro Ademir Rosa, no Centro Integrado de Cultura (Avenida Governador Irineu Bornhausen, 5.600, Agronômica, Florianópolis)
Quanto: R$ 140 / R$ 70 (meia), à venda na bilheteria dos teatros Ademir Rosa, Pedro Ivo e Álvaro de Carvalho (TAC) e no site blueticket.com.br

Informações: (48) 3953-2334