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Itapema FM  | 06/05/2014 10h06min

Hique Gomez apresenta seu espetáculo solo "Tãn Tãngo" em Florianópolis

Músico dá nova roupagem ao ritmo argentino e presta homenagem a Nico Nicolaiewsky, seu parceiro de 30 anos em "Tangos e Tragédias", vítima de um câncer em fevereiro

Layse Ventura  |  layse.ventura@diario.com.br

Combinar dois elementos tão diferentes entre si pode gerar uma explosão sonora inusitada e contagiante. É o que comprova o alquimista Hique Gomez em Tãn Tãngo, espetáculo no qual une o tradicional ritmo argentino à música brasileira.

A ideia surgiu a partir de uma apresentação da peça Tangos e Tragédias durante o Festival Internacional de Tango, em Buenos Aires, em 1998. Mas quem assistiu à montagem original sabe que ela levava o estilo musical só no nome e foi no susto que Hique e o parceiro Nico Nicolaiewsky incorporaram algumas canções para participarem do festival.

Dez anos depois da viagem à Argentina, Tãn Tãngo nasceu organicamente em Porto Alegre com a Orquestra de Câmara Theatro São Pedro. Na opinião de Hique, a fusão funcionou muito bem porque a cidade é um celeiro artístico que recebe simultaneamente influências artísticas da capital do país vizinho e de São Paulo.

Apesar de o Brasil não ter uma tradição de tango consolidada, artistas como Dalva de Oliveira e Orlando Silva gravaram composições quando o gênero era o mais escutado no mundo. O espetáculo de Hique Gomez, nesse sentido, vem resgatar a popularidade do estilo, ser um passo na evolução da carreira do ator e também dos estilos híbridos, como o tango eletrônico ou o ainda inédito "tango brasileiro" – expresso na canção Cariñoso, uma mistura saudável entre Pixinguinha e o ritmo argentino.

O repertório conta ainda com uma versão de Buenos Aires Hora Cero, de Astor Piazzolla, com Tropicália, de Caetano Veloso. A mistura recebeu uma pitada de música eletrônica para dar um sabor contemporâneo. Hique aparentemente é uma ponte entre esses universos paralelos.

É com esse repertório que o grupo – formado por Hique Gomez (violino e voz), Carlitos Magallanes (bandoneon), Dunia Elias (piano e teclados), Éverson Vargas (baixo acústico), Filipe Lua (percussões eletrônicas, violão, harmônica e vocais), além dos bailarinos Valentin Cruz e Marlise Machado, da Tanguera Studio de Danza – se apresentou ano passado no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, um dos espaços culturais mais importantes no país.

Agora os integrantes voltam-se para o lugar onde nasceram para gravarem o DVD da apresentação, com formação completa, participação da orquestra, programação visual diferenciada de Claudio Ramires e homenagem a Nico Nicolaiewsky.

O tributo ao artista, vítima de um câncer em fevereiro deste ano, estava programado desde a primeira formatação do espetáculo, já que Nico foi o responsável por ter apresentado o tango ao amigo. No fim do ano passado, ele conseguiu assistir à homenagem antes de adoecer. Atualmente, o tributo ganha um significado ainda mais importante para os fãs, já que é a primeira vez que Hique retorna desacompanhado ao Estado.


Foto: Felipe Carneiro / Agência RBS

:: Confira trechos da entrevista com Hique Gomez

"Vejo o tango justamente pela minha experiência de música brasileira, que é muito forte - tão forte que no Brasil olhamos pouco para a música da América Latina. Não conhecemos muito o tango. Eu mesmo não conheço, recebo pela estratosfera. Mas a proximidade com o ritmo, a coisa de ir a Buenos Aires nas casas vê-los tocando e viver a cultura é uma coisa que carrego."

"Estivemos em Buenos Aires com o Tangos e Tragédias a convite da prefeitura para o Festival Internacional de Tango. "Bienvenidos! E que tango usted tocam?". E nós: como? Tem que tocar tango para estar aqui? A gente não tocava tango exatamente. Aí convidamos uns amigos de lá mesmo para participarem do festival conosco. Depois da apresentação, saiu na imprensa: "Espetáculo muy gracioso, muy inteligente, pero de tango no hay nada". Tangos e Tragédias era um espetáculo de tango que não tinha tango."

"Estamos apresentando Tãn Tãngo desde 2008, quando abri o projeto com a Orquestra de Câmara do Theatro São Pedro, em Porto Alegre. Agora vamos gravar um DVD, fechando um ciclo grande. As ideias são maravilhosas! A orquestra ficará em uns andaimes, o palco estará liberadão, vai ter danças e também programação visual."

"O tango é um fenômeno muito internacional. Você vê que o Carlos Gardel fez muito sucesso na França, foi para Hollywood e fez filmes. Ele é um orgulho nacional, o estilo de expressão do folclore urbano de Buenos Aires. Então, esta formatação de música que estou propondo é um diálogo com o Brasil a partir do nosso ponto de vista geográfico. É uma ponte entre as coisas. Estamos meio que traduzindo o tango para o Brasil. Não existe ainda esse selo de 'tango brasileiro', mas nas décadas de 1940 e 1950 muitos grandes intérpretes gravaram o estilo, porque ele era muito popular, era a música pop daquele momento."

"Esta parte de misturar o Piazzolla com o Caetano Veloso é muito original. Embora sejam coisas de dois universos muito diferentes, muito confirmadas cada uma dentro do seu, a mistura delas é absolutamente inusitada. Nunca ninguém jamais esperaria que as duas músicas tocadas ao mesmo tempo pudessem funcionar. É como se a banda estivesse tocando uma canção e eu estivesse tocando outra, mas funciona."

"Ano passado apresentamos no Ibirapuera, foi superbacana, mas foi preciso malhar bastante, porque é um palco muito importante. Eles escolhem a dedo os espetáculos que passam por lá. O critério não é se vendeu mais ou tem mais público e, sim, conteúdo cultural. Fiquei muito feliz de ter sido selecionado e tão bem recebido. Foi um momento em que o espetáculo mudou de padrão na sua linha de evolução."

"A música está rolando, e recito um texto do Gotan Project sobre a gênese do tango. Estendi e falo sobre Porto Alegre, conto que ali foi gravado um dos primeiros tangos porque havia uma máquina alemã de gravação que não existia em outros lugares. Digo que foi o Nico que me apresentou o ritmo e aparece a imagem dele bem grande, com a camisa que usava sempre: 'Eu tenho um sonho, que a minha música se escute até 2020', uma frase do Piazzolla. Então canto uma canção do Tangos e Tragédias naquele momento."

:: Saiba mais

Criado por Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky, Tangos e Tragédias estreou no ano de 1984 em Porto Alegre. No enredo, Hique vivia o violinista Kraunus Sang, e Nico, o maestro Plestkaya, artistas de um país imaginário chamado Sbórnia. O espetáculo – uma mistura de teatro, humor e música – era encenado todo mês de janeiro na capital gaúcha desde 1987, abrindo as turnês anuais. Em 2014, eles interromperam as apresentações devido à evolução rápida do câncer de Nico. Hique confirma que a biografia da peça está sendo preparada, mas que não será lançada neste ano. Adiantou que a ideia é fazer um livro com muitas artes e fotos. Ele revelou também que outra obra biográfica está nos planos, mas que ainda não decidiu se será escrita sob seu ponto de vista, contando a trajetória profissional e falando do Tangos e Tragédias por meio de sua experiência pessoal.

Agende-se
O quê: espetáculo Tãn Tãngo, de Hique Gomez
Quando: sábado, às 21h, e domingo, às 20h
Onde: Teatro Ademir Rosa (CIC) (Av. Governador Irineu Bornhausen, 5600, Agronômica, Florianópolis)
Ingressos: R$ 60 e R$ 30 (meia-entrada) - valores de 1º lote e sujeitos a alteração, à venda no blueticket.com.br
Mais informações: (48) 3664-2628

DIÁRIO CATARINENSE
Felipe Carneiro / Agencia RBS

Tãn Tãngo nasceu organicamente em Porto Alegre com a Orquestra de Câmara Theatro São Pedro
Foto:  Felipe Carneiro  /  Agencia RBS


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