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Itapema FM  | 25/04/2014 11h59min

Empatia com o público é um dos trunfos do filme nacional "Confia em Mim"

Longa com Fernanda Machado e Mateus Solano está em cartaz nos cinemas

Cláudio Goldberg Rabin  |  claudio.rabin@zerohora.com.br

É raro, mas às vezes o cinema brasileiro acerta a mão. Confia em Mim, do diretor Michel Tikhomiroff, não é mais um filme sobre violência social e concentração de renda. Não trata da impossibilidade da comunicação na sociedade contemporânea capitalista (ufa!). Não é uma comédia retardada. Não é, apesar da parceria com a Globo Filmes, mais uma novela filmada. É, acredite, cinema.

Pode voar algum tomate em mim se eu disser que o filme tem um quê revolucionário apenas por tentar ser cinema na sua melhor tradição. Podem jogar. Confia em Mim tem uma trama inteligente, personagens aceitáveis, bom ritmo, que consegue engajar o espectador. Não adianta bancar velhinha moralista e reclamar de como as pessoas não tem nenhum respeito pelo silêncio em uma sala de cinema. É verdade, é verdade. Mas nesse caso, na sala – lotada –, as pessoas falavam era com o filme. "Não faz isso, sua burra!", "Sai daí!", "Não deixa ele entrar!" era o murmúrio exclamativo de quem, por um momento, ali naquela sala escura, acreditou numa outra realidade e pôde deixar que a função catártica do drama se concretizasse.

Mas voltemos à trama do roteirista Fabio Danesi (prestem atenção nesse nome): uma subchef de cozinha (Fernanda Machado), que trabalha para um babaca sem talento, conhece um cara meio pateta (Mateus Solano, o Félix bicha má da novela última novela das 20h). O cara, Caio, a conquista (os patetas têm suas armas) e a convence de abrir o próprio restaurante. Só que a gente sabe que tem algo de muito errado em Caio, diferentemente da chef, Mari, que está tonta de paixonite. E o velho truque do suspense, de sabermos algo que a protagonista não sabe, simplesmente funciona.

Ficamos tensos, com pena, preocupados e, sobretudo, queremos nos vingar por ela e soltar aquele "filho da mãe" que nos acompanha, trancado abaixo das amígdalas, durante o filme.

Se é deselegante elogiar demais, aqui vai um parágrafo malvado. Confia em Mim tem algumas atuações de personagens menores que são ruins, com destaque para a mãe e para a irmã da protagonista, que talvez não tenham lido o roteiro. Tem o problema de a mãe perder o dinheiro que emprestou para filha e não levantar nem a sobrancelha esquerda de indignação. E alguns outros detalhes que não comprometem o ritmo da trama.

Mas atenção, amantes do bom cinema, pode ser difícil dar o braço intelectual a torcer. Alguns vivem os filmes para o negá-los em seguida. Fui na sessão acompanhado por uma amiga que gosta de ver filmes de "arte". Ao final, ela, que tinha sofrido e se vingado como todos na sala (quietinha mas eu analisei suas reações com o canto do olho direito), me disse: "Que bela porcaria, hein?". Contra-ataquei, citando seu próprio engajamento, mas ela não cedeu. Talvez por sentir falta da discussão sobre a incomunicabilidade, talvez por vergonha de ter sido enganada e engajada por uma trama bem construída. Talvez, enfim, pela confusão que dá quando a gente assiste um filme brasileiro que é revolucionariamente normal.

ZERO HORA
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