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Itapema FM  | 21/03/2014 12h01min

Palestrante do Donna Fashion Iguatemi, Martha Medeiros defende a simplificação da vida

A colunista da revista Donna fala sobre comportamento e relacionamentos no dia 10 de abril

Cristiano Santos  |  cristiano.santos@diario.com.br

Martha Medeiros é visita frequente na casa dos leitores do Donna desde 2012. Semanalmente, a colunista conta o que pensa sobre a vida, dos relacionamentos familiares e amorosos aos acontecimentos corriqueiros do cotidiano. A gaúcha de 52 anos é um dos nomes mais fortes da literatura nacional, com livros de crônicas e poemas sempre posicionados nas listas dos mais lidos. Divã, por exemplo, lançando em 2002, se tornou um best-seller também no teatro e no cinema. Martha encerra o ciclo de palestras do Donna Fashion Iguatemi, no dia 10 de abril, depois do estilista Ronaldo Fraga e da coach Vanessa Tobias. Nesta entrevista, ela fala sobre a relação com os leitores, a patrulha em relação às mulheres e a parceria com a Escola da Vida, de Alain de Botton.

São 20 anos de escrita em colunas, livros e revistas. Como é sua relação com os leitores?
Essas colunas são reproduzidas pelo Brasil afora. Eu recebo muitos e-mails e acho que tenho a obrigação de responder. Não digo ficar de bate-papo, mas pelo menos acusar o recebimento. Não é uma resposta automática, não é uma assessora, eu nem tenho, é uma resposta pessoal. Sempre tem aqueles que são mais frequentes, claro. Tem aquela menina de Porto Alegre que sempre vai às sessões de autógrafos, que você acaba reconhecendo pelo nome ou aquele senhor do Rio de Janeiro que eu sei quem é. São representantes dos leitores que são mais assíduos.

Há um limite na exposição pessoal dos temas abordados nos textos?
Até existe uma diferenciação. Hoje em dia não gosto de me anunciar como cronista, que é o que o Rubem Braga fazia, uma visão mais poetizada da vida. Eu prefiro ser chamada de colunista, porque é o cara que dá uma opinião sobre um acontecimento, sobre o país, o mundo, sobre si próprio. Isso é muito aberto. Eu, particularmente, prefiro escrever sobre relações humanas em geral. Na verdade, escrevo pra mim mesma. É uma maneira de eu perceber o mundo e acabo depois compartilhando. Estou numa fase que eu acho que a gente tem que lutar muito para viver melhor. A vida já não é fácil, não é brincadeira o que enfrentamos no dia a dia. Acho que todos nós temos obrigação de fazer o melhor não só para os outros como para si mesmo, no sentido de tornar a vida mais fácil, mais leve. A gente se boicota muito. Hoje tem aí quase uma epidemia de depressão. Quase sempre esses problemas não vêm de fora, mas são gerados por uma maneira de viver equivocada. Eu acho que não é tão difícil superar isso e viver de uma maneira mais bem-humorada, relativizar os problemas. Porque problemas mesmo são poucos. O resto são chatices do dia a dia que todo mundo tem. Eu venho batendo nesta tecla desde que me envolvi com a The School of Life, de Alain de Botton. Como extrair da natureza, da arte, aplicar tudo isso, ter um resultado mais produtivo. Quase como se fosse um toque: vamos simplificar a vida. Eu uso os meus textos como uma bandeira para a simplificação da vida.

Em uma coluna recente, você escreveu sobre as mulheres e o sentimento de que elas viraram escravas da perfeição...
Primeiro, a gente era uma espécie de escrava da vida privada, confinada em casa. Depois, veio a revolução feminista superbem-sucedida. Hoje a mulher está no mercado de trabalho, tem liberdade para fazer suas escolhas, mas virou outra escravidão. Tem que ser nota 10 em casa, na rua, não pode ter falha, tem que ser uma mãe fabulosa. A gente vai acabar virando uma máquina a serviço da perfeição e esquecer que somos humanos. Nem tudo vai dar certo, ninguém consegue estar no controle de tudo. Fazer o melhor possível já é sensacional, entende? É um baita projeto. Isso não significa fazer tudo maravilhosamente bem. Mulher tem muita dificuldade de dizer não, é uma coisa ancestral, nosso lado maternal, e nem precisa ter filho. A mulher é a que cuida. Mas a gente não pode se descuidar da gente, tem que haver equilíbrio. E o mundo precisa desse afeto, porque está todo mundo muito duro.

É possível se livrar do rótulo dos gêneros?
Eu tenho uma visão, não é por acaso que meu primeiro livro de crônicas chama-se Geração Bivolt (1985), de que estamos todos mais masculinos e femininos. Não gosto dessa segmentação, a mulher é assim ou assado. Eu sou superfeminina em algumas coisas e em outras sou masculina. Até o tipo de texto que eu faço, em uns estou mais doce e em outros, mais viril, dependendo do assunto, do meu humor. As pessoas têm muito a mania de rotular tudo: fulano é assim e ponto. Uma das coisas que a gente tem que pensar é que podemos ser várias coisas e isso não demonstra frivolidade. Eu posso ser liberal em um assunto e no outro não. E isso me enriquece.

E há um excesso de patrulha, não acha?
É preciso flexibilidade. Dependendo das experiências que eu vou viver, posso mudar de opinião. Sou totalmente contra esse enjaulamento, daqui a pouco você vira um aiatolá de suas ideias, quando vê já mudou e nem nota. Ficou presa naqueles 10 mandamentos que você criou aos 18 anos, daqui a pouco faz 38, 48 ou 58 anos e é outra pessoa, rezando uma cartilha velha. A gente tem que ter um pouco de abertura, de tolerância em relação aos outros, mas também tolerância a nós mesmos. Tudo isso faz com que a gente nem sempre consiga ser nota 10.

A escritora feminista Camille Paglia disse à Veja que "...quando chegarmos aos 70, 80 anos, acredito que a felicidade não estará com as ricas e poderosas, mas com as mulheres de classe média que produziram grandes famílias". O que você acha dessa declaração?
Acho que tem um pouquinho de marketing aí. Entendo o que ela quer dizer, entendo que o afeto, a nossa relação uns com os outros é de extremo valor e nos traz imensa felicidade. Quando a gente foge da humanização, a gente está fugindo da nossa natureza. Mas me surpreende que uma mulher com a trajetória dela diga que uma mulher que trabalha pra burro, que optou por não ter filhos - e não tem nada de errado nisso - não pode ser extremamente feliz. Não adianta só ficar jogando para um lado, agora é feliz isso, agora não. A gente não tem que fazer esse tipo de segmentação. Felicidade é uma escolha pessoal, seja qual for a escolha.

Como é sua relação com a Escola da Vida, de Alain de Botton?
Eu sempre fui fã do trabalho do Alain de Botton, filósofo e escritor suíço que vive em Londres. Ele sempre escreveu sobre isso que estamos falando, sobre como viver melhor. A gente passa anos no colégio estudando o currículo oficial. Mas quem nos ensina como conviver com os outros, a viver uma dor de cotovelo, a equilibrar vida profissional com a pessoal? Isso tudo é uma matéria que a gente não aprende. Onde vamos aprender isso? Na vivência, na arte, na literatura, na psicanálise. É como se fosse uma escola extracurricular. Tem um quê de autoajuda? Tem. Na verdade nem gosto de usar este termo, mas eu acho mesmo que a gente deve se autoajudar. Eu tenho uma ideia muito fatalista da vida, não acredito em reencarnação. Esta vida que temos aqui, com sorte dura 80 ou cem anos, no máximo, é uma merreca de tempo entre um nada, que era quando a gente não existia, com outro nada, que é quando a gente morre. Isso aqui é um presente. Nós temos um espaço de tempo que estamos convivendo com as outras pessoas. O sentido da vida está em honrar o fato de termos nascido. Como você vai honrar isso? Fazendo amigos, não fazendo mal para os outros. É só isso que interessa. Não precisa de religião. Se puder ajudar, ótimo. Daí é colaboração total. A infelicidade, a dor e o sofrimento, que todo mundo passa, parece ter um certo glamour. Aquela pessoa que é muito sofrida parece mais consistente. Acho isso completamente equivocado. A gente tem que buscar a felicidade, um bem-estar espiritual, um bem-estar consigo mesmo. Estou falando de uma maneira trivial, informal, mas isso é uma escola. A Jackie de Botton, prima dele que mora no Rio de Janeiro e lia meus textos, me convidou para ser uma parceira. Me chamam de embaixadora, mas é um título muito solene. Quando eles fizeram a primeira aula da Escola da Vida, em São Paulo, fui lá e bati um papo. Eu ajudo a divulgar. É uma coisa totalmente informal.

>> Coach Vanessa Tobias palestra no Donna Fashion Iguatemi dia 8 de abril

>> Leia entrevista com Ronaldo Fraga, que palestra no DFI dia 9 de abril

Andréa Graiz / Agencia RBS

Para a escritora, nós precisamos de flexibilidade nas opiniões para encarar a vida
Foto:  Andréa Graiz  /  Agencia RBS


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