Itapema FM | 19/03/2014 10h29min
Ruby Karp, 13 anos, estava sentada no canto escuro de uma cafeteria em Manhattan, nos Estados Unidos, segurando um iPhone debaixo do queixo. Ela comprimiu o rosto e inclinou a cabeça para baixo.
— Esta é a papada dupla desconfortável — disse a estudante, batendo uma foto de si mesma.
Ela mandou a foto para meia dúzia de amigos, bebericou o chocolate quente e quando a caneca voltou à mesa, três novas imagens pipocaram na tela. A primeira, de sua melhor amiga, era um close inclinado da bochecha da garota, com a boca fazendo uma careta torta. A segunda era de uma testa jovem franzida formando linhas exageradas. A terceira apareceu tão rapidamente que quase não deu tempo de olhar antes de desaparecer no Snapchat.
— Qual é a desses selfies feios? — questionou a mãe de Ruby, Marcelle Karp. Pouco tempo atrás, as duas estavam de férias na Califórnia quando a mãe fez uma experiência no telefone da filha. Por acidente, ela enviou a foto para 81 alunos do ensino fundamental no Snapchat.
“Selfie” foi escolhida a palavra do ano de 2013 pelo Oxford Dictionary. Existem selfies enviados do espaço e debaixo d’água, e 91% dos adolescentes costumam compartilhá-los, segundo levantamento recente do Pew Research Center.
Porém, também existem as inevitáveis preocupações que surgem com qualquer moda na internet e adolescentes: relatos de reputações destruídas e imagens seminuas viraram virais, listas de “gostosa ou não” e rankings de atratividade (geralmente dos garotos).
Em meio a torsos nus e sorrisos perfeitos que pipocam com tanta frequência na tela surge a explosão do selfie feio, uma amostra de autenticidade em uma mídia geralmente filtrada. Faça um passeio por Selfie.im, aplicativo para compartilhar selfies dominado por adolescentes para o iPhone e não se verá ninguém fazendo beicinho, mas closes de papadas duplas, interiores de bocas, poros sem maquiagem, rosnados exagerados mostrando os dentes e “lábios de pato” fotografados tão de perto que ficam grotescos.
No Instagram, moças usam hashtags como #selfiefeio para se comunicar através de caretas.
Documentário aborda o tema
No Festival de Cinema Sundance em janeiro, 18 garotas adolescentes foram o tema de um curta-metragem, “Selfie”, criado durante uma oficina de um dia no qual elas foram incumbidas da missão de capturar, em “selfies”, as imperfeições físicas que normalmente excluiriam: espinhas, sardas, queixos duplos e braços. Segundo a diretora, Cynthia Wade, a intenção era começar um debate sobre os padrões culturais da beleza e da autoestima.
— Nós passamos tanto tempo tentando esconder nossas imperfeições porque a cultura estabeleceu que é preciso se envergonhar se você não for perfeita. Acho que as garotas estão cansadas disso. De repente, elas estão muito mais dispostas a adotar o feio ou irônico — disse Wade.
Existe uma longa história de mulheres utilizando o autorretrato como forma de autoexpressão radical (pense em Frida Kahlo, Cindy Sherman).
Todavia, as imagens da beleza moderna, refletidas na mídia, mantiveram uma definição particularmente rígida: "refinada, pequena, modesta, amigável e praticamente sem emoções", disse Nancy Etcoff, psicóloga cognitiva de Harvard e consultora do filme “Selfie”, que recebeu verba da Fundação Dove.
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