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Itapema FM  | 26/02/2014 15h39min

Paco de Lucía revolucionou a música flamenca e sua influência ultrapassou a fronteira da cultura espanhola

Músico morreu nesta quarta-feira, aos 66 anos, no México

Paco de Lucía, violonista que revolucionou a música flamenca e cuja influência ultrapassou a fronteira da cultura espanhola, morreu ontem, aos 66 anos, no México. O músico estava descansando em uma praia, quando se sentiu indisposto. Acredita-se que tenha morrido a caminho do hospital, em decorrência de um infarto.

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A notícia chega três meses após uma bem-sucedida turnê no Brasil, em novembro de 2013. O músico realizou um show memorável, acompanhado de uma banda e de um bailarino, em um Auditório Araújo Vianna lotado e reverente, em Porto Alegre. Fazia 16 anos que não se apresentava no país e 18 anos que não vinha à cidade.

– Quando eu era pequeno, o flamenco era um gênero muito fechado, era "talibânico". Mudar uma nota era um sacrilégio – disse, em uma entrevista a Zero Hora, por ocasião da turnê. – O que fiz foi abrir uma porta, para entrar novos ares, mas sempre respeitando a tradição. Fiz uma ponte entre a tradição e a modernidade.

Nascido na cidade portuária de Algeciras, na Andaluzia, sul da Espanha, Francisco Sánchez Gómez, o Paco, homenageou a mãe, Lucía, em seu nome artístico. O pai, Antonio, era um músico flamenco de origem cigana que o iniciou na vida artística ainda na infância.

Assista a uma performance de Paco de Lucía:

A primeira aparição pública de Paco foi em 1958, aos 11 anos, na Rádio Algeciras. Naquela mesma época, começou a se apresentar nos tablaos, as tradicionais casas de música flamenca. Depois de se mudar para Madri, lançou o primeiro disco solo, La Fabulosa Guitarra de Paco de Lucía, em 1967.

Misturas de estilos, parcerias históricas

Na década seguinte, veio a maturidade musical. A rumba Entre Dos Aguas, de 1973, tornou-se um de seus grandes sucessos. Começou a tocar amparado por uma banda de virtuoses que contava com seus irmãos Pepe de Lucía e Ramón de Algeciras. A formação foi responsável por elogiados discos, como Solo Quiero Caminar (1981) e Live... One Summer Night (1984). Um dos momentos mais marcantes da carreira foi a duradoura parceria com o lendário cantaor Camarón de la Isla, morto em 1992. Nos anos 1970, Paco introduziu o cajón, instrumento de percussão de origem africana que descobriu no Peru e passou a ser amplamente utilizado na música flamenca.

Para além da tradição espanhola, o músico se destacou pela mistura com bossa nova, blues, música árabe e, sobretudo, jazz. Foi célebre a parceria com os violonistas e guitarristas Al Di Meola e John McLaughlin na década de 1980. O trio de mestres das seis cordas gravou os discos Friday Night in San Francisco (1981), ao vivo, e Passion, Grace and Fire (1983), que venderam, juntos, mais de 3,5 milhões de cópias no mundo. Uma nova reunião ocorreu em 1996, quando foi lançado The Guitar Trio.

Notáveis também foram as passagens de Paco pela música clássica espanhola, interpretando compositores como Albéniz (1860 – 1909) e De Falla (1876 – 1946). Gravou o conhecido Concierto de Aranjuez, de Joaquín Rodrigo (1901 – 1999), em 1991, com a Orquestra de Cadaqués, regida por Edmon Colomer.

Em 2004, recebeu o Prêmio Príncipe de Asturias das Artes, prestigiada láurea concedida na Espanha. "Tudo que se pode expressar com as seis cordas do violão está em suas mãos", declarou o júri.

A morte do músico foi anunciada, ontem, pela prefeitura de Algeciras, sua cidade natal, que decretou três dias de luto oficial. Em contato com a família, tenta-se o repatriamento do corpo. Segundo o prefeito, José Ignacio Landaluce, "a morte de Paco de Lucía transforma seu gênio em uma lenda".

ZERO HORA
Marcelo Liotti / Divulgação

Paco de Lucía no Araújo Vianna, em Porto Alegre, em novembro de 2013.
Foto:  Marcelo Liotti  /  Divulgação


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