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Itapema FM  | 18/02/2014 15h06min

"RoboCop é emocionalmente surpreendente", diz Michael Keaton em coletiva com Padilha e Kinnaman

Remake de clássico dos anos 1980 entra em cartaz no Brasil nesta sexta-feira

Roger Lerina *  |  roger.lerina@zerohora.com.br

O cineasta José Padilha e os atores Joel Kinnaman e Michael Keaton conversaram com a imprensa brasileira na manhã desta terça-feira sobre "RoboCop" em um hotel da zona do sul do Rio de Janeiro. Nova versão da ficção científica de ação dirigida em 1987 pelo holandês Paul Verhoeven, o filme do realizador dos sucessos "Tropa de Elite 1" e "Tropa de Elite 2" é uma superprodução de US$ 130 milhões, estrelada por astros hollywoodianos como Gary Oldman e Samuel L. Jackson.

O filme que entra em cartaz no Brasil nesta sexta-feira é ambientado na Detroit de 2028, quando uma grande corporação de tecnologia robótica enxerga uma oportunidade de faturar ainda mais bilhões fabricando ciborgues para patrulhar as ruas das cidades norte-americanas. O candidato a protótipo escolhido pela empresa de Richard Sellars (Keaton) é o policial Alex Murphy (Kinnaman), ferido gravemente depois de um atentado criminoso. Com a ajuda do cientista Norton (Oldman), a OmniCorp cria o policial do futuro RoboCop — meio homem, meio máquina.

A coletiva do filme em Copacabana contou também com a presença de uma réplica do herói: a entrada do salão de entrevistas era guarnecida por um manequim do RoboCop em tamanho natural. Inicialmente, Padilha iria responder as perguntas em inglês, a pedido da produção e em função dos dois atores estrangeiros na mesa — mas o realizador decidiu falar com os jornalistas em português mesmo.

— Vou responder em sueco — brincou o sueco Kinnaman, fumando um cigarro elétrico.

Padilha começou explicando como entrou no projeto:

— Ninguém me chamou para fazer o filme. Estava em uma reunião na MGM e dois executivos me mostraram vários projetos, mas nenhum deles me interessava. Atrás de um dos executivos tinha um pôster do "RoboCop", e eu disse no final da reunião: "Vamos fazer aquele filme ali". Disse para eles que podia fazer um filme sobre a política dos drones, essas naves não tripuladas, e da substituição de soldados por robôs, isso com conteúdo político, em vez de fazer um filme apenas de entretenimento. Eles acabaram aceitando.

O diretor falou também sobre a opção por exibir imagens menos explicitamente violentas:

— Não acho que a violência e o sexo em um filme sejam um valor em si: só porque um filme é mais violento ele é melhor? Isso é uma besteira. O nível de violência e sexo de um filme tem que ser coerente com a ideia desse filme. O "RoboCop" que me interessou fazer fala política da automação da violência. Por que os Estados Unidos saíram do Vietnã ou do Iraque? Porque soldados estavam morrendo. Se você trocar soldados por robôs, o que acontece? Isso é uma questão séria. Para falar sobre essa questão, não preciso mostrar um cérebro explodindo na frente da câmera.

Já Michael Keaton falou sobre as semelhanças visuais entre os uniformes negros de RoboCop e Batman — o ator encarnou o Homem-Morcego nos filmes "Batman" (1989) e "Batman — O Retorno" (1992), ambos dirigidos por Tim Burton.

— Tim Burton foi quem com começou com esse visual sombrio, que foi sendo diluído por outros diretores. Foi ele e sua equipe que desenvolveram esse tom, baseados no "Cavaleiro das Trevas" (graphic novel) de Frank Miller. Mas, além da coisa visual, há também um subtexto sombrio nos filmes de Burton. "RoboCop" é emocionalmente surpreendente: é um filme social, política e filosoficamente muito profundo. E também é entretenimento, apesar disso tudo. "Batman" não está nesse nível.

Astro do seriado "The Killing", Joel Kinnaman explicou como foi encarar o papel — e a armadura — de RoboCop:

— Há algumas dificuldades técnicas de se usar o uniforme do RoboCop. Os movimentos e a forma de demonstrar emoção são diferentes. Tive de separar a linguagem corporal da emocional. Tive que usar o rosto, já que o corpo dele é mecanizado. Foi desafiador, especialmente nas cenas mais emotivas, ficar concentrado enquanto as pessoas fazem ajustes na roupa. Fico feliz de ter feito esse personagem agora e não há dez anos. Acho que não teria paciência nem concentração para isso.

Padilha comentou ainda a comparação de seu filme com o longa de 1987 estrelado por Peter Weller, Nancy Allen e Ronny Cox:

— Ignorei as expectativas dos fãs. Primeiro, porque não há uma unidade na massa de fãs, cada um tem uma expectativa. Para mim, o "RoboCop" tem uma questão filosófica: quando você automatiza a violência, você abre as portas para o fascismo. Você vê isso em "Nascido para Matar" (filme de 1987 dirigido por Stanley Kubrick) e em "Tropa de Elite". Tentei ser o mais fiel possível a esse conceito. Mas fui além, mostrando a política externa, com os robôs controlando a população em Teerã, e o sensacionalismo de direita na TV americana. Como a gente conseguiu isso? O RoboCop é um personagem canhestro em relação ao Homem-Aranha, ao Homem de Ferro, com quem toda criança quer se identificar. Nem Alex Murphy quer ser RoboCop. O personagem não se aplica ao modelo de estúdio: toda vez que o RoboCop ganha, quem ganha na verdade é o vilão.

Simpático e bem humorado, Keaton falou sobre seu personagem, que vai além da mera caricatura de vilão ambicioso, apresentando-se como um empresário visionário de tecnologia, tipo Steve Jobs.

— A forma como José concebeu o personagem Sellars foi a mesma que a minha. Ele toma decisões ruins, mas é um cara complexo, que não está interessado em exposição pessoal — disse o astro, brincando depois que sua resposta foi traduzida pela intérprete para o português: — Amanhã eu vou ler isso no jornal e pensar: "Eu não disse nada disso!".

O tom descontraído, aliás, foi a tônica do encontro com a imprensa brasileira. Kinnaman confessou ser fã do herói desde a infância:

— Provavelmente, vi o filme de 20 a 25 vezes quando era criança. Minha mãe, que é psicóloga, achava que eu tinha uma espécie de "psicose de Robocop". Eu estava bem preparado para esse papel. No filme, movo primeiro a cabeça e depois o corpo, como Peter Weller fazia no original. Foi uma homenagem que eu fiz.

— Não é homenagem, é roubo — ironizou Keaton.

Padilha ainda descartou a hipótese de dirigir uma continuação de "RoboCop" — que deve estrear no Brasil em cerca de 700 salas:

— Não tenho contrato com o estúdio para fazer um segundo filme. Se surgir uma franquia, o problema vai ser do próximo diretor.

Já encerrada a coletiva, Keaton aceitou a provocação de um repórter de televisão e foi categórico ao responder se o RoboCop poderia deter Justin Bieber:

— Nada pode parar Justin Bieber!

* Enviado especial/Rio de Janeiro

Agência Febre / Divulgação

José Padilha, Joel Kinnaman e Michael Keaton em coletiva sobre Robocop
Foto:  Agência Febre  /  Divulgação


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