Em 1948 o escritor Marques Rebelo (1907 - 1973) trouxe a Florianópolis junto com obras de Portinari, Segall, Pancetti e outros modernistas expoentes também uma contribuição infantil para a Exposição de Arte Contemporânea, mostra que foi o embrião do Museu de Arte de Santa Catarina (Masc), um dos mais importantes do Brasil. Era de José Maria Dias da Cruz, seu filho, hoje nome expressivo da pintura brasileira do século 20. Vem de longo tempo relação de José Maria com a Capital. Desde quinta, depois de quase sete décadas da primeira vez que exibiu sua arte por aqui, ele mostra parte de sua produção recente em O mundo colorido de JM, exposição que segue até o dia 22/2 na galeria Ponto dArte, na Lagoa da Conceição.




Marques Rebelo foi um escritor importante para a literatura brasileira e muitos autores o colocaram em pedestal maior que o de Machado de Assis. Como um intelectual atuante, ele mantinha o ambiente familiar refrescado com a presença dos amigos artistas e autores.

- Minha casa era muito frequentada por Di Cavalcanti, Iberê Camargo, Cândido Portinari, Tarsila do Amaral. A Tarsila sempre visitava meu pai quando ia para o Rio - lembra José Maria.

Mas não foram os modernistas que influenciaram sua arte. Desde cedo ele buscou suas próprias referências, as quais ele chama de fontes primárias, como Da Vinci, Matisse, Caravaggio, Cézanne.

Este último, o pós-impressionista francês Cézanne (1839-1906), teve um papel fundamental na construção do discurso de José Maria, um obcecado pela cor e a desconstrução da lógica dela.

Busca pelas cores

Somente em 1967 é que José Maria descobriu seu projeto plástico. Ele tinha ido estudar na Europa e quando voltou criou a obra Formulário. Deu-se conta de que o que tinha criado estava em consonância com a lógica do pensamento humano de então, e também com a lógica das descobertas dos anos 1970, como a geometria dos fractais.

- Tinha interesse pela cor. Já a estudava. A cor é enigmática, eu queria entendê-la. Mas então resolvi me aproximar dela, já que não podia defini-la - diz.

Ele debruçou-se no pensamento de Cézanne, cujas frases, como "somente o cinza reina na natureza", o instigaram a desdobrar o estudo sobre as cores e a desconstruir o círculo cromático tradicional.

- A cor é uma coisa racional, comecei a fugir disso. Não para ser contra, mas para ser novo. Aí vieram as aventuras, os erros e os acertos. É preciso ter coragem para errar e desconfio do artista que sempre acerta na mosca - filosofa.

José Maria descobriu que todas as cores, por uma questão fisiológica, acabam se acinzentando. É a causa e efeito dos coloridos. Isso aparece em suas obras, em algum momento suas cores vão acinzentando - mas não perdem a cor -, como se ele fosse rompendo e criando um novo espaço.

- Estudo as cores, percebo a lógica delas, que não é nada, apenas uma lógica que a gente pressente até certo ponto. E parece que tem algo de que nunca se vai atingir que é a face de Deus, mas o Deus de Espinoza, esse deus que está em toda a natureza - diz.

Para ele, o papel do artista não é entender, mas fazer refletir. Ele cita outro fracês, Nicolas Poussin (1594 - 1665), para se explicar a importância do saber do olho, que é mais que apenas percepção, mas quando se adquire conhecimento pela linguagem plástica.

- É preciso vivenciar as cores, ter conhecimento de inspiração e intuição.

:: Agende-se

O quê: exposição O mundo colorido de JM
Quando: até 22/2, segunda a sábado, 15h às 21h
Onde: galeria Ponto dArte (av. Afonso Delambert Neto, 103, Lagoa da Conceição, Florianópolis)
Quanto: gratuito

Informações: (48) 9911-5429