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Itapema FM  | 14/02/2014 08h56min

Confira a crítica do filme "12 anos de Escravidão"

Concorrente ao Oscar de Melhor Filme, longa é exibido em pré-estreia em cinemas do Estado

Andrey Lehnemann - Jornalista e crítico de cinema

Conhecido por atmosferas caóticas e por estabelecer protagonistas tão instigantes quanto difíceis –como o líder do IRA Bobby Sands, ou o viciado em sexo Brandon – 12 Anos de Escravidão surge como um dos maiores desafios da carreira do promissor Steve McQueen. Como não deixar que sua história se transforme em lugar-comum ou em um melodrama piegas? Não é um caminho muito fácil, o que a própria narrativa expõe em vários instantes: especificamente, a mise-en-scène (o posicionamento dos atores em cena) de uma briga entre Solomon e Elize é novelesca demais e até mesmo as elipses breves, um abraço coletivo num reencontro e os planos mais curtos das primeiras sequências escancaram uma falta de autoconfiança. Todavia, McQueen não pretende ser sutil na sua abordagem: o momento em que os escravos e os índios se encontram numa selva reflete bem essa posição. O início do longa-metragem já nos indica os escravos em um plano frontal, que procura mostrar não haver razão para esconder os podres da história. Exibe a realidade em sua forma mais crua. As selvas para a comida nas senzalas é outro belo exemplo. Ou o choro após o orgasmo, que denuncia as condições para o prazer. Embora não seja sutil, 12 Anos de Escravidão não é um filme explicativo, entretanto. É equilibrado. A força de suas cenas nos banhos que apresentam as cicatrizes, a luta pela sobrevivência que evidencia uma falta de lealdade, alguém se calando por meio da tortura e a venda dos escravos são pontos altíssimos da história. Os próprios diálogos acusam a abordagem fria com a qual o diretor se sente confortável: “O meu sentimento é do tamanho de uma moeda”, “Logo esquecerá o filho”. Além disso, McQueen explora diferentes visões e facetas do período. Não só o ponto de vista dos escravos, mas das famílias envolvidas. Deixando tudo mais intenso. Solomon açoitando um capataz, por exemplo, é de um significado muito maior do que a mesma sequência em Django, de Tarantino. Não que os símbolos óbvios não estejam mais lá a partir do segundo ato, pois estão, como mostra o protagonista vivendo com a corda no pescoço enquanto as crianças brincam e as pessoas levam suas vidas normalmente, mas é muito mais honesto. A própria tensão nos encontros de Solomon e Edwin aponta isso – e se há alguma justiça poética no cinema, Michael Fassbender ganhará o seu primeiro Oscar pelo trabalho monstruoso que faz aqui, assim como Chiwetel Ejiofor. Não dá para dizer que 12 Anos de Escravidão é o melhor filme de McQueen, mas certamente é um reconhecimento preciso de uma carreira próspera.

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Disney / ToMerlin

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Foto:  Disney  /  ToMerlin


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