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Itapema FM  | 13/02/2014 17h08min

Em entrevista, George Clooney fala sobre Caçadores de Obras-Primas

Nós realmente não tínhamos interesse em fazer "O Filme de Guerra do Oscar", diz o diretor

Em entrevista divulgada pela Fox, George Clooney afirma que não buscava fazer "o filme de guerra do Oscar".

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Por que você quis fazer esse filme?

George Clooney – O Grant (Heslov) e eu já fizemos vários filmes cínicos, pois gostamos de filmes assim.  Mas então pensamos: e se fizéssemos um que não fosse tão sarcástico? E seria bom não ter que viver em um mundo podre o tempo todo! (Risos) E achamos que seria divertido fazer este.

O livro de Caçadores de Obras-Primas não é ficção, mas parece uma excelente ideia para um filme: um grupo de homens mal equipados e com idade um tanto avançada para serem soldados unem-se na missão de salvar a melhor arte do mundo.

Clooney – Sim, ficamos surpresos porque parece mesmo um filme.  Por exemplo, eu me lembro de O Trem (de John Frankenheimer, 1964 sobre soldados alemães que contrabandeiam arte em um trem durante a Segunda Guerra), embora aquele fosse uma história muito específica sobre arte francesa, mas eu já tinha visto The Rape of Europa (documentário de 2006 sobre as obras de arte que foram roubadas pelos nazistas) anos antes, então sabia algo a respeito. Eu lembrei que Hitler bombardeou grande parte da Inglaterra, e parte do motivo pelo qual ele não bombardeou Paris foi porque ele queria as obras de arte que roubava e escondia em minas. Lembrei-me dessa parte da história. Então fomos ver com mais atenção e vimos que ele havia roubado toda a arte. Foram milhões de peças. Peças grandes e importantes.

Então vocês tinham tudo preparado para fazer um tradicional filme de guerra...

Clooney – É o seguinte, se for ver bem os filmes sobre a Segunda Guerra, o motivo de serem fracos agora é que a gente já conhece todas as histórias. Mas o motivo por que esse gênero funcionou tão bem por tanto tempo é que havia nele o maior vilão da história de cinema e belos uniformes para vestir os atores. Então é isso, todos os elementos certos estavam ali. E temos aqui uma história que as pessoas não conhecem. Eu não conhecia. E é meio que perfeita para ser contada, perfeita para o cinema, porque a gente junta um grupo de homens e os envia para lá, faz todos ficarem velhos, e daí você sabe, está tudo ótimo. Especialmente quando se trata de Bill Murray, John Goodman e Bob Balaban, etc.

Vocês tinham algum outro filme em mente como referência, como Fugindo do Inferno, Os Doze CondenadosSelvagens Cães de Guerra ou algum outro filme clássico sobre a Segunda Guerra?

George Clooney – Sim, todos eles. Mas a parte engraçada foi que começamos a organizar um esboço – com papéis pregados na parede, coisas assim – e estávamos nos baseando na lembrança que tínhamos daqueles filmes de guerra. Mas, quando realmente compramos e vimos uns 30, percebemos que a maioria deles não parecem muito bons atualmente.  Há exceções: A Ponte do Rio Kwai ainda funciona em todos os aspectos; e é possível admirar alguns elementos de outros: o roteiro de Fugindo do Inferno, a fotografia de O Mais Longo dos Dias ou Uma Ponte Longa Demais, mas em geral nos baseamos naquilo que lembrávamos desses filmes, não no que eles realmente são. Não estamos fazendo um filme de 1955.  Queremos fazer uma versão moderna que seja acessível para todo mundo.

Alguns desses velhos filmes de guerra não funcionam mais tão bem atualmente, talvez porque o público de hoje é mais sofisticado ou tem mais conhecimento técnico de certa forma. O público não aceitaria mais certas coisas exibidas antigamente.

 Clooney – Não aceitaria.  Isso é importante hoje em dia. Aconteceu conosco em Argo: de repente, alguém diz: "Ah, não foi bem assim que aconteceu."  Então lá vamos nós: "Está bem, vejamos, vamos pensar na lista de todos os filmes que foram feitos desde sempre.  Vejamos Patton: Rebelde ou Herói? Será que as pessoas realmente disseram exatamente aquelas falas?" Inclusive, fizemos um filme chamado Boa Noite e Boa Sorte. Estávamos bastante confiantes de que o diálogo era bem próximo do que havia realmente acontecido, pois todos os envolvidos eram jornalistas e todos eles escreveram livros. Mas, fora isso, ainda se trata de contar uma história. E, para nós, a história interessante de Caçadores de Obras-Primas foi que esses homens se uniram para tentar fazer algo que parecia ser absolutamente impossível.  E só tiveram alguma ideia do tamanho da empreitada depois que chegaram lá.  E nem todos sobreviveram, então existe um forte drama.  Mas existe também o tipo de humor típico da Maior Geração de Todas, que é não falar sobre coisas que os aterrorizam; eles apenas transformam a situação em piada.

O filme pode surpreender algumas pessoas, pois é mais um filme de aventura e distração, não é do tipo que vai ganhar muitos prêmios.

Clooney – Nós realmente não tínhamos interesse em fazer "O Filme de Guerra do Oscar". Queríamos fazer um filme bom, honesto, uma obra de entretenimento que nos deixaria orgulhosos. E todos nós embarcamos no projeto.  O elenco inteiro aceitou imediatamente.  Então sabíamos que eles tinham gostado do roteiro, porque não estão sendo muito bem pagos, sabe como é!  E isso nos incentivou.  Pensamos: "Ótimo, estamos no caminho certo."  Todo mundo quer fazer um filme desse tipo e sentir-se orgulhoso. Às vezes, em certos períodos da nossa história, descobrimos que nem sempre devemos nos sentir mal porque estamos sendo derrotados em outras partes do mundo. E este pareceu ser um bom momento para se fazer este filme.  

Muitos dos seus filmes anteriores como diretor tiveram orçamento relativamente baixo. Este filme é maior e mais caro, e busca um público mais diverso. Vocês sofrem mais pressão por causa disso?

Clooney – Ah, sim, sempre. Quanto mais dinheiro se gasta, maior é a pressão.  É simples assim.  Nem chega a ser tão caro, e o orçamento é dividido entre dois estúdios. No fim das contas, fizemos por um bom preço. Mas é grande. É o maior filme que eu já fiz até hoje.  Fizemos Boa Noite e Boa Sorte por menos de sete milhões de dólares, e a pressão é inevitável.  Quanto mais caro for, mais reclamação vai ter. Mas você devia ter visto as conversas que tivemos sobre Gravidade um ano atrás, quando estávamos refazendo algumas cenas. "Isso é um filme de arte de 80 milhões de dólares!" Mas acho que agora eles estão felizes. Então sei como é a pressão.  Sabemos como funciona. E fomos muito responsáveis com o dinheiro.

Você já mencionou outros atores do filme. É um elenco impressionante. Com quantos deles você entrou em contato pessoalmente e quantos negociaram apenas as formalidades de rotina?

Clooney – A Cate, eu convidei. Para o Matt, apenas enviamos o roteiro. O Bill também é um amigão. Com o John foi assim, estávamos na festa de Argo e eu disse: "Vou te enviar um roteiro". Quase todo mundo... Na verdade, nós sabíamos. É bom, porque em muitas vezes, quando a gente prepara um filme, os agentes não liberam seus maiores astros enquanto o filme não estiver 100% aprovado.  Eles só se interessam se o dinheiro estiver garantido, depositado na conta. Isso facilita muito, porque podemos dizer a eles: "Vamos filmar nessa data, o dinheiro estará disponível nessa data. Você tem interesse? Sim ou não?"

Mas, na função de diretor, essa intimidade toda cria alguma dificuldade?  Por exemplo, ter que dizer a um ator que também é seu amigo que você não gostou da tomada e ele vai ter que refazer.

Clooney – Bem, sim. Eu me dou muito bem com o Bill. Ele já se hospedou na minha casa durante férias de verão. Eu lembro que disse ao Bill quando começamos: "Ouça, acho que vai ser estranho eu dirigir você", porque ele faz isso há muito tempo, sabe exatamente o que está fazendo. "Sabe como é, às vezes posso querer fazer alguma coisa diferente." E ele disse: "Basta dizer o que devo fazer, que eu faço". Então, sim, tive que tratar disso bem depressa. Veja o John Goodman. Ele era um dos atores principais, um dos astros, fazia o famoso programa Roseanne quando eu estive lá, na primeira temporada. Ele era o rei, o bam-bam-bam. Então é estranho para mim dizer: "John, quero que você faça do seguinte jeito..." Mas ele faz tudo parecer muito natural.  É só uma sensação um pouco estranha.  Mas logo a superei. E fiz o meu trabalho.

Mas, mesmo trabalhando com atores talentosos, às vezes um diretor quer algo bem específico porque está trabalhando em um agregado, maior que tudo.

Clooney – É verdade.  Esses caras sabem como é isso. Eles sabiam exatamente o que fazer. O segredo de se trabalhar com um elenco grande como esse, como fizemos em Onze Homens e um Segredo e nos outros filmes da série, é que às vezes basta dizer uma frase e não atrapalhar a cena do grupo. Cada um desses atores está acostumado a dizer todas as falas. Então existe uma certa generosidade de espírito em jogo. E o fato é: o nosso elenco tinha isso. E isso faz toda a diferença do mundo.

Você já tinha muitos atores específicos em mente quando escreveu o roteiro?

Clooney –  Sim. Na verdade, a maioria deles. E é muito mais fácil escrever pensando nos atores e em quem eles são. O Bill, por exemplo, é super fácil de lidar: "Ah, eu sei o que fazer aqui". Às vezes, também é bom escrever contra aquilo que as pessoas pensam do ator. O Bill tem uma das cenas mais dramáticas da sua vida com a atriz que interpreta sua filha. É uma cena linda e, como eu digo, às vezes escrevo algo bem diferente daquilo que o ator costuma fazer, e isso é bom se eu conhecer os atores e souber do que eles são capazes.

Com esse grande elenco de celebridades, você tem que cuidar para que haja “boas falas” para todos?

Clooney – Sim, eles não podem estar lá só para preencher espaço! Mas o segredo disso é que não é possível servir a todos em uma mesma cena. Então é preciso lembrar que as cenas com o Bill e o Bob vão ser sobre uma determinada coisa, e outras cenas vão ser com o John e o Jean Dujardin. Então é isso, concentrar-se no que eles sabem fazer melhor e não tentar dar destaque para todos ao mesmo tempo.

As cenas entre Bill Murray e Bob Balaban parecem ter muito senso de humor.

Clooney – Ah, sim, o Bill fica perturbando ele o tempo todo, e é difícil enquadrar os dois juntos nas cenas porque o Bill mede 1,90m e o Bob mede 1,60m.

Este filme tem que equilibrar momentos de pura comédia com o drama extremo da guerra. Isso foi difícil?

Clooney – Nem um pouco. Queremos um drama com algumas boas risadas, não uma comédia com coisas sérias, porque assim seria difícil agradar a plateia. O segredo de um filme como este é sempre o tom.  ARGO tinha muito disso, várias piadas fortes e muita coisa séria. 

O filme tem momentos mais tranquilos, mas existem nele também temas pesados, sobre o legado da arte e da cultura. Você dedicou alguma atenção especial para isso?

Clooney – Acho que sempre soubemos qual deveria ser o tema. A mensagem subjacente era de que essa arte, este mundo, é extremamente importante e, sem ela, não existe cultura. A verdadeira questão é: "A arte vale o preço de uma vida?" E, de certa forma, tem que valer. Porque teve gente que morreu por ela, pelo que ela significa, pelo que essas obras de arte significam para muitas outras pessoas.  Porque é a nossa história. Antes de termos celulares ou qualquer outro aparelho que registra tudo, era assim que registrávamos a nossa história.  E sem isso, acaba... Bem, basta ver o Iraque, quando os museus não são protegidos... É terrível que essa história seja destruída, que essa cultura seja destruída. 

É uma grande responsabilidade que você assumiu: provar que a arte vale o preço de uma vida em um filme básico, de mero entretenimento.

Clooney – Acho que, quando se conta uma história, não é preciso fazê-la funcionar em grande escala; basta que ela funcione em uma escala pessoal.  Então, por exemplo, criamos uma ligação direta entre a Madonna de Bruges do filme e a morte de um dos personagens.  E o meu personagem diz: “Bem, vamos ter que recuperá-la”. Então, nesse ponto, ela tem que valer o preço de uma vida, porque isso é importante para a história. Acho que, sem o devido contexto, seria muito difícil provar que uma obra de arte pode valer o preço de uma vida. Mas, em nível muito pessoal, no contexto específico, acho que provamos. Mas esteja certo de que conversamos sobre isso. Na verdade, o que provavelmente foi mais discutido durante nossas conversas foi a necessidade constante de lembrar a plateia e a nós mesmos de que queremos muito agarrar a peça para que Hitler não fique com ela. E não vamos deixar um amigo morrer em vão nessa luta. 

Esse tema do filme, o legado da arte... Ele está presente na sua carreira de alguma forma? Você vê os filmes que faz atualmente como tentativa de criar seu próprio legado?

Clooney – Acho que o objetivo tem sido esse há muitos anos: tentar fazer filmes que durem mais que um fim de semana, sim. Não fico rico com esses filmes, mas eles chamam atenção por algum tempo. Este filme e Amor Sem Escalas... Pode ver a lista das coisas que fizemos, como Tudo pelo Poder... Fazemos esses filmes porque gostamos de contar história. Não ganhamos muito dinheiro com eles. Não são feitos para isso.  Nada nos impede de fazer filmes grandes, que estreiam com grande público e nos fazem ganhar muito dinheiro com a bilheteria. Mas não estamos realmente interessados nisso. Então, quando eu tiver 70 anos de idade, esperando que me tragam o jantar, alguém pode dizer: "É, ele fez nove filmes que estrearam em primeiro lugar nas bilheterias." Ou talvez alguém passe pelos canais da TV ou de um computador e diga: "Ah, puxa, eu adoro esse filme!" O filme ainda é bom? É isso que importa.
 

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