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Itapema FM  | 11/02/2014 19h50min

"Praia do futuro" discute em Berlim a coragem de se reinventar

Filme estrelado por Wagner Moura foi exibido no festival nesta terça

Ter a coragem do recomeçar do zero em um novo país é o tema central do filme brasileiro Praia do Futuro, de Karim Ainouz, exibido nesta terça-feira na disputa pelo Urso de Ouro do Festival de Berlim.

Ainouz imaginou uma nostálgica história sobre o desafio de abandonar as belas praias de Fortaleza, imigrar para a Alemanha e começar uma vida nova.

Wagner Moura – que brilhou em Berlim com o vencedor do festival em 2008, Tropa de Elite – vive Donato, um salva-vidas que um dia conhece Konrad, um turista alemão (Clemens Schick) em uma triste circunstância.

As fortes correntes da Praia do Futuro arrastam um amigo de Konrad e Donato não consegue salvá-lo. Apesar da tragédia, dias depois Donato e Konrad iniciam uma tórrida história de amor.

Para Wagner Moura, a homossexualidade não é o tema central do filme.

– A relação homossexual é um componente, não é o tema principal. No Brasil, a homossexualidade é condenada. Há muitos preconceitos e repressão. Queríamos mostrar acima de tudo que os homossexuais são gente normal. Para mim, o componente é político: temos uma responsabilidade e devemos assumi-la – afirmou.

Donato deixa a mãe e o irmão mais novo Ayrton em Fortaleza para viajar a Berlim com Konrad, que é mecânico de motocicletas. Ele chegam à capital alemã e lá vivem uma espécie de lua de mel.

Wagner conta que passou dois meses em Berlim se preparando para o filme.

– A pessoa vem de um lugar e tem de se reinventar, isso forja o caráter. Viver em Berlim me preparou para o papel – explicou.

Já Ainouz, que vive há anos na Alemanha, falou do medo de Donato em deixar o Brasil e de sua coragem de ir para a Alemanha com seu amante.

– O medo pode te paralisar, é a coragem que nos impulsiona a fazer coisas. Me interessava mostrar em Donato como ele supera o medo para ir viver em um lugar pouco acolhedor – explicou, admitindo que se inspirou no filme Todos se chamam Ali, do diretor alemão Rainer Werner Fassbinder.

– Admiro muito o Fassbinder e esse filme me ajudou muito. Costumo assisti-lo toda vez que me sinto desorientado. O sentimento de estar fora de lugar, a alienação, é o tema do filme – afirmou.

– Estar em um contexto hostil nos liberta do passado. A viagem de Donato do Brasil à Alemanha o liberta – disse ainda Karim Ainouz, acrescentando que seu filme foi feito "com o coração".

Wagner Moura concorda com seu diretor e acrescenta que a imigração é "como uma questão existencial, um novo arranque, a coragem de se reinventar".

 – Não se pode falar de coragem sem falar de medo, como disse Karim. É preciso rejeitar o passado, deixá-lo para trás – afirmou o ator.

No entanto, esse passado volta quando o irmão de Donato, Ayrton, chega a Berlim aborrecido por ter sido abandonado com a mãe.

O ator alemão Clemens Schick, por sua vez, aprendeu português durante os dois meses de preparação e os três de filmagem.

Karim Ainouz não usou música brasileira em seu filme. Entre outras canções, ouve-se Heroes, de David Bowie, e Aline, do francês Christophe.

– A música é algo físico para mim, tenho uma relação intuitiva com a música, aguça minha imaginação e queria compartilhar isso com o espectador, uma vez que adoro essas canções – explicou.

Ainouz reconheceu, no entanto, que "existe um estereótipo do brasileiro, sempre ligado ao carnaval e ao samba". "Mas o ser humano é complexo, surpreendente e cheio de contradições".

O jovem ator Jesuíta Barboza, que interpreta Ayrton – em homenagem ao piloto Fórmula 1 Ayrton Senna, segundo o diretor –, disse que tentou se livrar de todas as raízes para viver seu papel.

– Ficar sozinho durante 15 dias em um hotel de Berlim e ter vivido a separação de meu pai me ajudaram a construir a personagem – declarou.

Por fim, indagado sobre se o sucesso subiu à cabeça, Wagner Moura negou categoricamente.

– Tenho os mesmos amigos de sempre. O sucesso é inventado pelos meios de comunicação. Eu tento viver à parte disso – concluiu.

AFP
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