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Itapema FM  | 09/02/2014 14h47min

Melhor biografia de Syd Barrett, um dos criadores do Pink Floyd, chega ao Brasil

Juarez Fonseca recomenda leitura de 'Crazy Diamond: Syd Barret & o Surgimento do Pink Floyd'

Juarez Fonseca  |  juafons@gmail.com

Syd Barrett, nascido Roger Keith Barrett em 6 de janeiro de 1946, na cidade inglesa de Cambridge, é, quem sabe, o mais lendário artista do pop. Entre muitas coisas, atribui-se a ele a definição do psicodelismo na música, a partir das atuações em 1965/66 do Pink Floyd no UFO, primeiro clube underground londrino, e do lançamento, em 1967, do LP The Piper at The Gates of Dawn. O UFO e sua mistura de odores de incenso, haxixe e suor foi para o Pink Floyd o que o The Cavern foi para os Beatles. Ali, a banda de Syd dava vazão às suas ideias: projeção de slides de arte, show de luzes como Londres nunca vira, covers reinventados a mil e músicas próprias cujas letras não falavam de paixões juvenis, como a maioria, mas de temas como um rapaz que roubava calcinhas e sutiãs pendurados no varal do vizinho e os experimentava diante do espelho. Esse rapaz é Arnold Layne, título do primeiro sucesso do Pink Floyd.

No início, os outros integrantes gravitavam em torno de Syd, que tinha as melhores sacadas musicais, era o compositor, o letrista, o guitarrista e o cantor. Mas isso duraria pouquíssimo tempo – ou todo o tempo de existência do grupo, conforme o ponto de vista de quem conta a história. No segundo LP, A Saucerful of Secrets, do ano seguinte, Syd já não é presença dominante, com Roger Waters assumindo as decisões. Em alguns shows, o PF apresenta-se como quinteto, agregando a guitarra de David Gilmour, colega de Cambridge, como todos. Syd quase não consegue tocar, às vezes repete acordes de um tema que só ele vê. Não demora muito para que o criador da banda simplesmente deixe de ser chamado para os ensaios, os shows, as gravações. Waters, Gilmour, Rick Wright e Nick Mason almejam o sucesso; mergulhado no LSD, Syd anda em sentido contrário e não se dá conta do que está acontecendo.

O ácido lisérgico, do qual foi um dos precursores na Inglaterra, potencializa a esquizofrenia do "príncipe psicodélico", que desde a adolescência revelava uma personalidade criativa e carismática, motivado pelo pai médico e pela mãe professora a gostar de música e artes. Foi para estudar artes plásticas que ele chegou a Londres em 1964. Já tendo o ouvido feito por discos de Miles Davis e Bob Dylan, vive o furor da beatlemania. Depois, vê sua banda, sem ele, chegar ao sucesso internacional. Durante algum tempo, após ser descartado, vai aos shows, assistindo de longe. Em lugares menores, os caras do PF podiam vê-lo na plateia, de pé, ao fundo. Outras vezes, vai aos estúdios de gravação e fica meio escondido, saindo feito um fantasma quando sente estar sendo percebido. Em apartamentos caóticos, vive cercado de parasitas que não lhe deixam faltar a dose frequente do ácido.

Como eu disse, quem conta a história tem seu modo de interpretá-la. O livro Crazy Diamond: Syd Barret & o Surgimento do Pink Floyd, dos jornalistas ingleses Mike Watkinson e Pete Anderson, lançado há pouco no Brasil e considerado sua melhor biografia, sugere que a base dada ao PF pela inovadora criatividade de Barrett em apenas dois discos, mais sua presença magnética impessoal depois, são a chave do estilo e, claro, do sucesso da banda. Vários álbuns do PF de alguma forma se referem a ele. Mike e Pete repisam cada passo da errante trajetória de Syd do início até a morte, em 7 de julho de 2006, aos 60 anos, em Cambridge – onde vivia sozinho, repelindo toda aproximação de estranhos. Crazy Diamond é também a história dos encantos e pirações que fizeram da "swingin' London" o umbigo do universo pop dos anos 1960.

O livro conta que Syd, adepto "da anarquia e da rebelião", tinha aversão a regras. Quando Arnold Layne e See Emily Play estouraram, não queria tocá-las nos shows porque o sucesso era "uma faca de dois gumes". Também temia se tornar uma celebridade. A mitologia se formou aos poucos. Num momento, disseram que tinha morrido; noutro, que se tornara um morador de rua; noutro, que tentara ser roadie ("estradinha", para a desavisada tradutora) do Pink Floyd; e assim por diante. Caçá-lo virou obsessão entre os jovens repórteres musicais ingleses na busca inútil por desvendar a fronteira entre sanidade e loucura, fantasia e realidade, e alimentar a curiosidade dos fãs. Pois então: tudo o que eles querem saber a respeito do homem e da lenda está neste livro. Mais, só participando da "Syd Walk", caminhada cultural que é uma das atrações turísticas de Cambridge hoje.

Antena - Música para ver, ouvir e dar passagem

Coração Inevitável, de Ana Cañas
Com 10 anos de carreira e três discos (o primeiro de 2007), Ana Cañas já deixou para trás a "nova safra" de cantoras. O que se tem neste primeiro DVD, gravado ao vivo em São Paulo, é uma artista no domínio de um estilo que radicaliza o ecletismo como um modo múltiplo de ver a música. Ela sai da quase-bossa Codinome Beija-Flor (Cazuza), para uma canção latina em espanhol, No Quiero Tus Besos (parceria com a mexicana Natalia Lafourcade), para um blues lançado por Billie Holiday, Stormy Weather, para a interpretação a capella em francês de La Vie en Rose, de Edith Piaf, para Rock and Roll, do Led Zeppellin. Entre sucessos como Esconderijo e Pra Você Guardei o Amor (participação de Nando Reis), tem inéditas como Traidor, outro rockão. Ana canta bonito e é uma figura linda em cena. O show foi dirigido por Ney Matogrosso. Produzido com competência, o DVD tem 20 canções, mais os interessantes extras. O CD gêmeo, 16 músicas. Guela/Som Livre. Contato: rodrigo.vinhas@liberta-e.com.

Água Lusa, de Jussara Silveira
No disco anterior, de 2012, a cantora baiana menos cantora baiana que se conhece gravou só compositores de Angola. Neste, oitavo da carreira iniciada em 1989, volta-se para a obra do grande letrista português Tiago Torres da Silva. São dele e parceiros as 11 encantadoras canções emolduradas pela voz límpida, natural, luminosa de Jussara. Águas de rios e mares, tradições interioranas, amores e saudades cruzam a doce melancolia das letras de Tiago em fados, viras, valsas, canções de espírito simultaneamente moderno e atemporal. Na Companhia de Fadistas abre o álbum: "Talvez não seja aceito entre os puristas/ Talvez pensem que eu não tenho o direito/ Mas é na companhia de fadistas/ Que eu sinto a vida a latejar no peito". Trecho de Voltarei à Minha Terra: "Por isso é que sou menina/ E não vou mudar de idade/ Chamo terra à minha sina/ E chamo casa à saudade". Pedro Joia (violão), Filipe Raposo (piano, acordeão) e Edu Miranda (bandolim) são músicos à altura. Dubas/Universal.

Brasileirice
, de Paola Matos
Surge uma bela surpresa no Sul. Nascida há 20 anos em Pelotas, vivendo há 10 em Santa Maria, Paola começou cantando nos festivais nativistas. Em seu primeiro disco, surpreende não só pela voz linda, com aquela textura rouquinha, mas por não ter aderido à receita fácil do regionalismo. Ela optou pela parte mais brasileira do RS: o álbum se divide entre sambas e canções (com letras universais e sotaque gaúcho urbano) de jovens como Caio Martinez, Piero Ereno, Túlio Urach e Diogo Matos, e veteranos como Jaime Vaz Brasil e Vaine Darde. No repertório, equilibrado e bem escolhido, a faixa-síntese talvez seja Brasileirisse (assim mesmo), samba-enredo de Alexandre Missel com letra de crítica social. Cito mais três: Resolvi Não Amar (Martinez, ao estilo Cartola), Sambinha Pra Lua (Ereno) e o samba-canção Separação de Bens (Darde/Ereno). No estúdio, uma seleção de craques como Samuca do Acordeon, liderada por Adriano e Cristian Sperandir. Fonomídia. Contato: producaopaolamatos@gmail.com

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