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Itapema FM  | 07/02/2014 15h41min

Histórico: há 50 anos, Beatles chegavam aos EUA para verdadeira revolução cultural

Viagem para apresentação no "Ed Sullivan Show", em 9 de fevereiro de 1964, foi marco do início da beatlemania

Léo Gerchmann  |  leo.gerchmann@zerohora.com.br

Consagrou-se dizer que Nova York é a esquina do mundo, onde as pessoas se encontram e são aceitas em suas mais variadas idiossincrasias. Talvez isso explique por que, 50 anos atrás, mais que a esquina do mundo ser dobrada, o mundo se dobrou por lá, assumindo novas feições de irreverência e ritmo.

Os Beatles pisaram o solo de NY, com seus sapatos envernizados, em 7 de fevereiro de 1964. Dois dias depois, tornaram-se os artífices da revolução cultural planetária que se desenhava desde o fim da II Guerra e dos primeiros acordes de rock’n’roll. NY tem na maçã um símbolo como tiveram os Beatles ao idealizar na gravadora Apple um futuro mais divertido e harmônico.

Foi na Big Apple, como a cidade também é conhecida, que o mesmo sonho de harmonia e paz se veria frustrado mais de 18 anos depois, em 8 de dezembro de 1980, quando um demente pôs fim à vida de John Lennon, enterrando, na mesma cidade da grande maçã e da cultuada tolerância, qualquer possibilidade de o submarino amarelo voltar a espalhar suas cores num planeta sombrio.

Enfim, a mesma NY onde os holandeses criaram uma civilização marcada pela aceitação do diferente, para onde buscaram guarida os perseguidos pela inquisição no remoto século 16 e onde o Ed Sullivan Show, assistido por 73 milhões de telespectadores americanos em 9 de fevereiro de 1964, espalhou a semente da revolução cultural. Confira como foi o início da invasão da beatlemania em solo americano.

1 A chegada
Às 13h20min de 7 de fevereiro de 1964, os Beatles chegaram ao aeroporto John Fitzgerald Kennedy, de NY, no voo 101 da PanAm. Menos de três meses antes, JFK fora assassinado em Dallas. O aeroporto levava seu nome desde dezembro. Entre 3 mil e 5 mil fãs esperavam o quarteto, ansiosos para ver o fenômeno que explodira pouco mais de um ano antes na Grã-Bretanha.

Às vésperas, 1 milhão de cartazes distribuídos pelo descobridor e empresário Brian Epstein avisavam "Eles vêm aí". O céu estava azul no inverno do Hemisfério Norte. A comitiva era formada por Paul McCartney, John Lennon, Ringo Starr e George Harrison, além de Cynthia (primeira mulher de John), Epstein, Neil Aspinall, Mal Evans, o relações-públicas Brian Sommerville e o produtor Phil Spector. Ao descerem os degraus da escadaria do avião, Ringo rompeu o silêncio que traía certa apreensão e perguntou a George:

– Eles já têm tudo o que querem, será que vão nos querer também?

2 Entrevista
Perguntas idiotas mereciam respostas estúpidas. Assim pareciam pensar os Beatles na primeira e improvisada entrevista coletiva em Nova York, ainda no aeroporto JFK. Trechos:

Repórter: Todo esse cabelo ajuda vocês na hora de cantar?
John: Claro que sim. Com certeza.
Repórter: Quantos de vocês são carecas? Vocês usam peruca?
Ringo: Todos somos.
Paul: Eu sou careca.
Repórter: De verdade?
John: Sim.
Paul: Só prometa que não vai contar a ninguém, por favor.
Repórter: Por que as fãs ficam tão excitadas?
Paul: Não sabemos. De verdade.
John: Se soubéssemos, forjaríamos outra banda e seríamos seus empresários.

3 Na carona de Wolfe
No New York Herald Tribune, Tom Wolfe descreveu a ida dos Beatles do aeroporto até o hotel:

"Os Beatles e sua comitiva deixaram o aeroporto em quatro limusines cadillac, cada uma delas rumo ao Plaza Hotel, em Manhattan. Logo, um grupo de cinco garotos em um Ford azul-claro pôs-se a segui-los na autoestrada e, conforme ultrapassavam cada um dos Beatles, um dos rapazes, debruçado na janela de trás, acenava com um cobertor vermelho. Em seguida, foi a vez de um conversível branco com a palavra BEETLES escrita na poeira, em ambos os lados do carro. (...) Uma bela morena, que dizia chamar-se Caroline Reynolds, estudante do Wellesley College, em Connecticut, pagou uma fortuna a um motorista de táxi para seguir os Beatles até o centro da cidade. Ela passou por cada um dos Beatles, com um sorriso maroto, até que alcançou a ‘limo’ de George Harrison em um semáforo no cruzamento da Third Avenue com a 63rd Street. ‘Como se faz para conhecer um Beatle?’, perguntou a garota pela janela. ‘Você diz oi’, respondeu Harrison, também, pela janela (...).”

4 Primeira impressão
No dia seguinte ao da entrevista concedida a 200 repórteres no saguão do aeroporto, o londrino The Times definiu o humor dos Beatles como "contagiante". Já a revista Newsweek não teve a mesma boa vontade. Iniciou seu texto assim: "Visualmente, são um pesadelo. Ternos eduardianos apertados e cabelos em forma de tigela.

Musicalmente, um desastre: guitarras e bateria detonando uma batida impiedosa, que afugenta ritmo, melodia e harmonia. As letras (pontuadas por gritos de ‘yeah, yeah, yeah’) são uma catástrofe, um amontoado de sentimentos baseados em cartões do dia dos namorados". O New York Daily News foi na mesma linha: "Bombardeada com problemas ao redor do mundo, a população voltou seus olhos para quatro jovens britânicos com cabelos ridículos. Em um mês, a América os terá esquecido e vai ter que se preocupar novamente com Fidel Castro e Nikita Krushev".

5 A apresentação
A performance no Ed Sullivan Show começou com All My Loving, pela voz suave de um Paul ainda apreensivo ao lado de um John que tivera seu estado civil revelado. O mundo sucumbiu à revolução que seria um DNA de tudo o que veio depois.

Terminada All My Loving, urros. E vieram Till There Was You, She Loves You, I Saw Her Standing There e I Want To Hold Your Hand. Cinco músicas com efeito multiplicador. Nem parecia que George teve de subir ao palco sob efeito de medicamentos contra a gripe, que ele nem sequer participara da passagem de som. Um grupo de 728 privilegiados assistiram ao programa no estúdio. Tinham noção do que aquilo representava?

No dia 16 de fevereiro, os Beatles fariam uma segunda aparição no Ed Sullivan Show.

6 O que Ringo diz
Para a revista Rolling Stone, em 20 de janeiro de 2014, Ringo recordou: "Incrível. Era o Ed Sullivan! Não sabíamos que 70 milhões de pessoas estavam assistindo. Mas estar na América era tão empolgante... A música que amávamos estava na América. Veio da América para a Grã-Bretanha. De onde viemos, Liverpool, era ótimo, era um porto, todos os caras de Nova York traziam discos. Era demais. Eu conseguia sentir a adrenalina, mesmo no avião, era tão empolgante... Eu estava assim:  ‘Aaaah!’".

ZERO HORA
Dan Farrell / Divulgação

Chegada dos Beatles a Nova York, em 7 de fevereiro de 1964
Foto:  Dan Farrell  /  Divulgação


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